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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Fiéis defuntos

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

As celebrações religiosas que anualmente se realizam em honra dos fiéis já falecidos, são algo que sempre tocou nos meus sentimentos mais profundos.
Eu não conseguirei pôr por escrito aquilo que pretendo compartilhar com os meus amigos, por ser isto algo que ao passar pelo filtro das crenças e descrenças, se detém num ponto que é tão exigente que me torna num ser pensante sem capacidade de ver claro em questões sentimentais.
Quando rapaz de 16 anos sofri o duro golpe do falecimento da minha mãe. Não é importante esmiuçar o que tal facto provocou em toda a família.
Não havia até ali acontecimento que se pudesse comparar, pois os falecimentos ocorridos foram de gente minha conhecida, mas não família chegada. Começou ali uma outra etapa, pois a minha maneira de estar em funerais e sentir a dor da morte de outrem se transformou em algo que se media sempre pelo que senti com o facto de ser órfão de mãe e o que veio seguidamente que era (é) triste mas nunca comparável ao sentimento que se quedou até hoje, com a morte dela.
Faço esta introdução, para vos dar uma pista muito difícil de trilhar mas que faz sobressair a forma como a vida nos faz desligar de coisas que ela nos tira indiscriminadamente e realçar o facto de não apagar os primeiros e mais antigos sinais de luto.
Falemos agora do dia de Fiéis defuntos: Com o decorrer dos anos cinquenta do Século XX e subsequentes, o dia de Finados passou quase inteiramente a ser assumido pelas gentes como o momento próprio para se visitarem os cemitérios e prestar homenagem aos nossos defuntos. Fácil de explicar, pois que o primeiro de Novembro é dia Santo e é também feriado nacional, o que facilita as deslocações sem perda de dias ou horas de trabalho e sendo tão pegado ao de Finados, permite em outros casos prolongar a estadia na terra das nossas pertenças ou da nossa saudade.
Eu sinto um frémito que me percorre a coluna vertebral e faz com que a presença de tanta gente conhecida que ruma a Bragança neste tempo de Fiéis defuntos para prestar homenagem aos seus que tombaram e descansam agora, esperando pelos que ficaram para um dia também partirem. A forma como eu recebo estes amigos aos quais estou ligado por sentimentos de amizade forjada no princípio do nosso tempo e que por vicissitudes várias partiram para outras terras onde fizeram as suas vidas e a maioria constituiu família, é de verdade algo que me dá um prazer indiscritível. Começa sempre com a alegria estampada no rosto que da minha parte e da deles se vai lentamente tornar em melancolia e saudade. A alegria e a dor misturam-se e tornam-se no que na língua pátria se designa por saudade.
Com o decorrer de tempo fui-me apercebendo que essas viagens, deles, agora minhas noutro tempo, não são outra coisa que o regresso às origens e um certo instinto que não é só humano, pois que se sabe que outras criaturas o fazem com as afinidades que lhe cabem e as diferenças que lhe são características.
É tempo de reflexão e de aproximação ao desconhecido, que na lógica dos conhecimentos adquiridos através da ciência nos aponta o fim, a nossa fé nos velhos conceitos religiosos e da nossa alegria de vivermos, que após o momento em que finda a nossa existência  outra se abra  onde possamos existir livres de angústias e dores, que partilhamos com outras criaturas da criação.
Saúdo os meus conterrâneos e todos os outros que visitem os cemitérios da Cidade para lembrarem os seus ou tão só o que resta da humanidade que viveu e amou nestas terras transmontana.

Dados históricos: Em finais do primeiro milénio da Era de Cristo o Papa Gregório III (731-742) escolheu o dia 1 de Novembro para  o dia de Todos os Santos e o dia 2 de Novembro para dia dos Fiéis Defuntos. É pois anterior à fundação da nacionalidade o Culto aos Mortos dentro da regularidade de um decreto papal que lhe deu força de lei. Lembro a existência de Cruzeiros das almas (Alminhas) dispersos por todo o país mostrando o fogo purgatório imaginado e uma legenda onde se podia ler: Ó vós que ides passando, lembrai-vos dos que estão penando (Padre Nosso-Avé Maria).



30 de Outubro de 2021
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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