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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

Elisabete Ferreira: “Nunca se fez pão tão bom como agora”

 Ainda em criança, quando o pai assumiu o comando da transmontana Pão de Gimonde, Elisabete Ferreira descobriu o mundo da padaria e decidiu que seria sua missão valorizar a arte do mestre padeiro.

Elisabete Ferreira

Em 2020, Elisabete Ferreira criou o Clube Richemont Portugal, uma associação internacional fundada nos ensinamentos da Escola Richemont, em Lucerna, Suíça, que procura potenciar os setores da padaria, pastelaria e confeitaria. O objetivo do clube é promover formações, encontros e debates com vista à partilha de conhecimento e tornar a profissão apetecível para os jovens. Para isso, a presidente do clube português acredita que o caminho é a inovação, com raízes numa produção natural auxiliada pela tecnologia. Outra missão é contrariar a tendência decrescente do consumo de pão, e voltar a pô-lo no centro da mesa dos portugueses.

De onde vem a sua ligação à padaria?

Em 1960 o meu tio-avô criou a Pão de Gimonde, em Bragança, que foi das primeiras padarias aqui no Nordeste Transmontano. Quando o meu pai entrou no negócio eu tinha 8 anos e comecei desde logo a querer aprender. Sempre tive muita curiosidade. As minhas férias em vez de serem na areia, eram na farinha. Vivi sempre a padaria intensamente. É um trabalho árduo, e sempre disse que um dia quando terminasse os meus estudos tinha que valorizar esta profissão, valorizar o produto pão.

Quando é que conheceu o Clube Richemont?

O meu foco sempre foi valorizar o que nós tínhamos, e mostrar a Pão de Gimonde ao mundo. Então, depois de terminar a licenciatura em Gestão de Empresas, fui desenvolvendo novos produtos, participando em projetos europeus de inovação, em parcerias com várias universidades e empresas de vários países, que me permitiram conhecer outras realidades. Foi num desses projetos, o Transcolab, que conheci o Clube Richemont, na Irlanda. Fiz o primeiro curso em 2015, em Valência, no Clube Richemont Espanha. E cada vez que eu fazia uma formação dizia “mas afinal eu não sei nada de padaria”. Tinha tanto a aprender e continuo a querer aprender todos os dias.

Elisabete Ferreira. (Fotos: DR)

Quais são alguns dos novos produtos que desenvolveu para a Pão de Gimonde?

Um deles foi o pão de castanha. Fizemos um pão com farinha de maçã também e outro com farinha de grão-de-bico, com trigo germinado… há um leque tão grande de possibilidades. As farinhas são todas aqui da região. Agora para a Páscoa vamos ter disponível uma massa de brioche com recheio de castanha. Já fizemos pão de chocolate e mirtilo para o Dia dos Namorados. Hoje, o mestre padeiro tem tanta capacidade como um chef de cozinha de criar e de fazer coisas fabulosas. Com o conhecimento que eu adquiri eu consigo pegar em matérias-primas de proximidade e desenvolver produtos novos de exceção. É um cruzamento entre a tradição e a inovação.

Quais as vantagens de fazer parte do clube?

O que nós vamos ganhar aqui é sempre o conhecimento e a partilha. O propósito do clube é aprender, ensinar e partilhar. A padaria é uma profissão dura. Temos de ter uma curiosidade constante. E o clube permite-nos esta troca. Nós temos uma dúvida, falamos com o colega e há uma resposta quase imediata. Foi isso que eu senti quando entrei no clube espanhol. Dentro desta rede de padeiros e pasteleiros eu sei que posso visitar qualquer padaria que eu queira e da mesma forma tenho as portas abertas a quem quiser visitar-nos.

Em 2020, Elisabete criou o Clube Richemont Portugal, associação internacional fundada nos ensinamentos da Escola Richemont, em Lucerna.

Desenvolvem receitas em conjunto?

Já criámos o pão dos 4 S’s, um pão que é saudável, saboroso, sustentável e solidário. No primeiro ano de pandemia fizemos este pão, cada um na sua região, e oferecemos aos nossos hospitais locais. E no Dia do Padeiro também fizemos e demos à ReFood. Em setembro vai haver um encontro internacional, com cerca de 120 pessoas de 15 países, onde vamos mostrar o que de melhor se faz em Portugal e a nossa cultura.

Qual é a missão do Clube Richemont?

O que nós queremos é mostrar que o pão é um superalimento, queremos voltar a pô-lo no centro da mesa. O objetivo principal do clube é promover o reconhecimento público de todo o setor da padaria e pastelaria, confeitaria e chocolataria. Outra das nossas preocupações é investir na formação e apoio contínuo aos jovens. Há muita dificuldade em encontrar pessoas para trabalhar e valorizar esta profissão, por isso temos que chamar os jovens e mostrar que podemos trabalhar de outra forma, com o apoio da tecnologia, e que afinal a padaria pode ser uma coisa interessante.

Quantos membros tem atualmente o Clube Richemont Portugal?

Neste momento são uns 20/23 membros por todo o país. Uma das coisas que nós estamos a preparar é precisamente uma plataforma [onde estarão agregados todos os membros] e colocar em cada padaria uma placa identificativa “Membro do Clube Richemont”.

Nunca houve tanta qualidade no mundo da padaria como atualmente, defende Elisabete.

Em termos práticos, para os consumidores, o que é que significa ir a uma padaria que é membro do Clube Richemont?

Primeiro, sabem que há uma preocupação com a qualidade, com o produto, que é feito sempre com fermentações lentas, com massa-mãe de cultivo. É o nosso fermento natural. As pessoas sabem que não vão sentir-se mal depois de comerem um pão que é feito por membros do clube, porque todos eles têm um conhecimento da importância destes repousos longos. O Richemont opta pelo pão lento, que é um pão que demora entre 6 a 8 horas no mínimo e pode ir até 24 ou 32 horas desde que é feita a massa até ser cozido. Um pão rápido demora no máximo 2 horas. Entramos aqui no campo do fast food e low food. Se eu tiver uma fermentação lenta eu vou ter um produto menos calórico, com menos açúcar e muito mais digerível. Essencialmente lutamos muito para fazer um pão saudável, com altos valores sensoriais – a crocância, o aroma, a estrutura da miga, a cor -, fácil digestibilidade, alto poder saciante e biodisponibilidade nutricional.

Falou em voltar a pôr o pão no centro da mesa. Como é que isso se faz?

Durante milénios o pão era um alimento fundamental, e agora está a perder essa importância. A FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – diz que devemos comer cerca de 107 kg de pão por ano. Nós estamos nos 35 kg. Olhando para a média europeia, há um decréscimo cada vez maior no consumo de pão. E nós temos que fazer alguma coisa. Nunca se fez pão tão bom como agora, porque hoje entendemos o porquê das coisas, juntamos o conhecimento científico com a prática do saber fazer. Com farinha, água e sal e um agente levedante, que é a massa-mãe, fazemos um bom pão. O propósito do clube é também chegar esta informação às escolas, à classe médica e aos nutricionistas. 90% do pão que existe no mercado é um pão rápido, e muitas vezes o nutricionista não recomenda por isso mesmo. Então temos aqui um trabalho muito grande a fazer de divulgação.

Pão de Gimonde

A padaria transmontana faz pão com “o verdadeiro sabor de antigamente”, cozido em fornos a lenha, com receitas antigas e outras que sendo novas, se agarram às matérias-primas da região, como a castanha. Os produtos da Pão de Gimonde encontram-se à venda em mercearias e grandes superfícies no Porto, Lisboa, e Trás-os-Montes. Web: paodegimonde.com/pt

Ana Costa

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