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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

O que está a acontecer no Inverno: nascem as crias de bufo-real

 Por estes dias, a maior ave nocturna europeia está em plena época de nidificação. A Wilder falou com Rui Lourenço, investigador e especialista nesta espécie, e conta-lhe o que se passa.

Esta cria de bufo-real estava junto de outras duas num ninho junto a um caminho florestal, em Hamburgo. Foto: Hobbyfotowiki/Wiki Commons

Os olhos grandes e laranjas, os tufos na cabeça semelhantes a asas e a grande dimensão, com um comprimento que pode chegar aos 75 centímetros, ajudam a identificar esta ave que tem um cantar impressionante, ouvido a vários quilómetros de distância.

Por estes dias, no início de Fevereiro, “haverá juvenis pequenos nalguns locais, noutros a fêmea está a incubar os ovos e noutros ainda só agora se está iniciar a postura”, descreve Rui Lourenço, ligado à Universidade de Évora e ao Grupo de Trabalho em Aves Nocturnas.

É costume os bufos-reais permanecerem na mesma zona ao longo do ano e formarem casais para a vida, explica o investigador, que faz uma ressalva – a não ser que um dos membros do par deixe de ter condições para defender o território, ocasião em que poderá ser substituído por um parceiro ou parceira mais forte.

Bufo-real (Bubo bubo). Foto: indygnome/Wiki Commons

É que a defesa do território – em especial da parte que é conhecida como área vital, que pode variar entre meio quilómetro quadrado e dois a três quilómetros quadrados – é um dos principais deveres destas aves. Especialmente a partir de Setembro e Outubro, quando começa a época de dispersão dos juvenis, em que os bufos-reais nascidos nesse ano ou no ano anterior buscam um território para se instalarem.

“Gera-se uma espécie de dança de cadeiras: esses indivíduos andam à procura de quando haverá um território livre e os casais da espécie têm a necessidade de passar a mensagem de que ‘estamos aqui e queremos reproduzir-nos agora’ – tanto para os vizinhos como para os juvenis.”

Bufo-real em voo. Foto: Didij39/Wiki Commons

“Os dois, macho e fêmea, defendem o território”, descreve Rui Lourenço. “Têm uma série de poisos que delimitam a sua área vital. O macho tem o papel principal de defesa, mas se as coisas se complicarem e for necessária uma intervenção mais agressiva, a fêmea pode ser chamada.” É que entre os bufos-reais existe um dimorfismo sexual, explica, em que as fêmeas são maiores do que os machos.

Para marcar o território, macho e fêmea cantam em coro. Esse comportamento acontece ao longo do ano, mas é quando dispersam os juvenis, pouco antes da nidificação, que estes duetos se ouvem mais vezes. A chamada vocalização territorial, emitida a partir de vários poisos altos, consiste “num pio monótono, “u-U-uuu”, em que a terceira nota é arrastada”, descreve Rui Lourenço. “Ambos os sexos emitem esta vocalização, embora o pio da fêmea seja um tom mais agudo.”

O início da reprodução pode dar-se logo no primeiro ano de vida, mas em regra começa apenas ao segundo ou terceiro, e “vai depender muito de duas condições: terem um local de nidificação e disponibilidade de comida”. Em Portugal, ao contrário por exemplo do Norte da Europa, estas aves procuram especialmente “zonas não perturbadas”, adianta Rui Lourenço, que relaciona isso com a perseguição que a espécie sofreu até há poucas décadas.

À medida que os dias passam, o casal vai evoluindo para a fase de corte – o que acontece normalmente entre finais de Novembro e Dezembro, dependendo de haver alimento suficiente para a fêmea estar fisicamente bem preparada para a postura.

Os locais favoritos para o ninho são escarpas rochosas, por exemplo em vales de ribeiras, ou cristas rochosas em encostas de montanhas. Mas também acontece ocuparem ninhos abandonados por outras espécies. “É o caso dos ninhos de cegonha-preta e cegonha-branca, de águias de grande dimensão como a águia-de-bonelli e a águia-real ou, como já foi observado em Espanha, de ninhos de águia-imperial”, exemplifica o investigador da Universidade de Évora.

Os investigadores acreditam que a localização exacta do ninho será escolhida entre macho e fêmea, dentro do território que ocupam. “Já conhecem o território muito bem e os sítios onde a nidificação correu melhor e pior nos anos anteriores.” Ambos acabam a cantar juntos no local definido e acontece a cópula.

Mas ao contrário de muitas outras aves, neste caso o material para o ninho é inexistente, pois “geralmente só raspam o terreno para tentarem fazer uma plataforma mais estável, para os ovos não caírem.” A fêmea põe em média três ovos, “muito simples e brancos, mais ou menos do tamanho de ovos de galinha”, mas o número pode variar entre dois a quatro e pode chegar mesmo aos cinco ou seis.

Ovos de bufo-real. Foto: Medenica Ivan/Wiki Commons

Segue-se a incubação, que demora entre 32 a 36 dias dias. A responsabilidade cabe às fêmeas, que no primeiro mês após o nascimento ficam ainda junto das pequenas aves. Quanto ao pai, defende o território e traz o alimento.
“Os adultos trazem para o ninho presas rentáveis, em especial aquilo que apanham mais nesta altura do ano”, explica Rui Lourenço. Curiosamente, na Península Ibérica, é por esses dias – entre Fevereiro e Março – que há grande abundância de coelhos-bravos jovens, nascidos há pouco tempo.

Os estudos que têm sido feitos em Portugal sobre as presas de bufo-real identificam aliás o coelho-bravo como uma das presas preferidas destas grandes aves nocturnas, que também caçam lebres, perdizes, raposas, doninhas, ouriços-cacheiros, ratos e ratazanas, cobras, pombos, galinhas-d’água, gaivotas e outros animais, incluindo insectos e peixes.

Mas além dos alimentos, para tudo correr bem é também importante não haver perturbação humana junto aos ninhos, uma vez que “o bufo-real é uma espécie bastante sensível à perturbação durante a incubação e as primeiras semanas dos juvenis” – período que em Portugal normalmente se prolonga entre Dezembro e Março.

Ninho de bufo-real numa árvore. Foto: Bela.s/Wiki Commons

Ainda assim, apesar de ficarem cada vez mais fortes e autónomas, as pequenas aves vão depender dos progenitores durante bastante tempo, normalmente até fazem cinco meses.

Será no final desse período, com 150 a 160 dias de idade, que finalmente dispersam e partem em busca de novos territórios. E em breve, chegará o mês de Setembro e começarão as “danças de cadeiras” e uma nova época de nidificação.

Inês Sequeira

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