Esta cria de bufo-real estava junto de outras duas num ninho junto a um caminho florestal, em Hamburgo. Foto: Hobbyfotowiki/Wiki Commons |
Os olhos grandes e laranjas, os tufos na cabeça semelhantes a asas e a grande dimensão, com um comprimento que pode chegar aos 75 centímetros, ajudam a identificar esta ave que tem um cantar impressionante, ouvido a vários quilómetros de distância.
Por estes dias, no início de Fevereiro, “haverá juvenis pequenos nalguns locais, noutros a fêmea está a incubar os ovos e noutros ainda só agora se está iniciar a postura”, descreve Rui Lourenço, ligado à Universidade de Évora e ao Grupo de Trabalho em Aves Nocturnas.
É costume os bufos-reais permanecerem na mesma zona ao longo do ano e formarem casais para a vida, explica o investigador, que faz uma ressalva – a não ser que um dos membros do par deixe de ter condições para defender o território, ocasião em que poderá ser substituído por um parceiro ou parceira mais forte.
Bufo-real (Bubo bubo). Foto: indygnome/Wiki Commons |
É que a defesa do território – em especial da parte que é conhecida como área vital, que pode variar entre meio quilómetro quadrado e dois a três quilómetros quadrados – é um dos principais deveres destas aves. Especialmente a partir de Setembro e Outubro, quando começa a época de dispersão dos juvenis, em que os bufos-reais nascidos nesse ano ou no ano anterior buscam um território para se instalarem.
“Gera-se uma espécie de dança de cadeiras: esses indivíduos andam à procura de quando haverá um território livre e os casais da espécie têm a necessidade de passar a mensagem de que ‘estamos aqui e queremos reproduzir-nos agora’ – tanto para os vizinhos como para os juvenis.”
Bufo-real em voo. Foto: Didij39/Wiki Commons |
“Os dois, macho e fêmea, defendem o território”, descreve Rui Lourenço. “Têm uma série de poisos que delimitam a sua área vital. O macho tem o papel principal de defesa, mas se as coisas se complicarem e for necessária uma intervenção mais agressiva, a fêmea pode ser chamada.” É que entre os bufos-reais existe um dimorfismo sexual, explica, em que as fêmeas são maiores do que os machos.
Para marcar o território, macho e fêmea cantam em coro. Esse comportamento acontece ao longo do ano, mas é quando dispersam os juvenis, pouco antes da nidificação, que estes duetos se ouvem mais vezes. A chamada vocalização territorial, emitida a partir de vários poisos altos, consiste “num pio monótono, “u-U-uuu”, em que a terceira nota é arrastada”, descreve Rui Lourenço. “Ambos os sexos emitem esta vocalização, embora o pio da fêmea seja um tom mais agudo.”
O início da reprodução pode dar-se logo no primeiro ano de vida, mas em regra começa apenas ao segundo ou terceiro, e “vai depender muito de duas condições: terem um local de nidificação e disponibilidade de comida”. Em Portugal, ao contrário por exemplo do Norte da Europa, estas aves procuram especialmente “zonas não perturbadas”, adianta Rui Lourenço, que relaciona isso com a perseguição que a espécie sofreu até há poucas décadas.
À medida que os dias passam, o casal vai evoluindo para a fase de corte – o que acontece normalmente entre finais de Novembro e Dezembro, dependendo de haver alimento suficiente para a fêmea estar fisicamente bem preparada para a postura.
Os locais favoritos para o ninho são escarpas rochosas, por exemplo em vales de ribeiras, ou cristas rochosas em encostas de montanhas. Mas também acontece ocuparem ninhos abandonados por outras espécies. “É o caso dos ninhos de cegonha-preta e cegonha-branca, de águias de grande dimensão como a águia-de-bonelli e a águia-real ou, como já foi observado em Espanha, de ninhos de águia-imperial”, exemplifica o investigador da Universidade de Évora.
Os investigadores acreditam que a localização exacta do ninho será escolhida entre macho e fêmea, dentro do território que ocupam. “Já conhecem o território muito bem e os sítios onde a nidificação correu melhor e pior nos anos anteriores.” Ambos acabam a cantar juntos no local definido e acontece a cópula.
Mas ao contrário de muitas outras aves, neste caso o material para o ninho é inexistente, pois “geralmente só raspam o terreno para tentarem fazer uma plataforma mais estável, para os ovos não caírem.” A fêmea põe em média três ovos, “muito simples e brancos, mais ou menos do tamanho de ovos de galinha”, mas o número pode variar entre dois a quatro e pode chegar mesmo aos cinco ou seis.
Ovos de bufo-real. Foto: Medenica Ivan/Wiki Commons |
“Os adultos trazem para o ninho presas rentáveis, em especial aquilo que apanham mais nesta altura do ano”, explica Rui Lourenço. Curiosamente, na Península Ibérica, é por esses dias – entre Fevereiro e Março – que há grande abundância de coelhos-bravos jovens, nascidos há pouco tempo.
Ninho de bufo-real numa árvore. Foto: Bela.s/Wiki Commons |
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