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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 9 de abril de 2022

Horta é o garante de alguma tranquilidade na escalada dos preços

 O mercado semanal dos produtos da terra de Bragança é um exemplo da escalada dos preços, mas também testemunho da tranquilidade que uma horta dá nesta região perante cenários adversos como a atual crise motivada pela guerra.


Entre as dificuldades que já sentem e que as que se desenham, fica a certeza daqueles que há dezenas de anos trabalham a terra: “para comer temos, ao menos batatas e couves”.

A garantia surge do grupo que a Lusa encontrou junto a uma banca com renovo, a observar os rebentos de cultura que vão plantar, mas “mais lá para diante”, que ainda faz frio nestas terras.

“Toda a gente planta horta”, em Espinhosela, a aldeia de Patrocínio Edra que “fabrica cebola, batata, couve, um bocadinho de tudo” e tem também castanheiros, a cultura mais rentável da Terra fria Transmontana.

Os custos para produzir é que são motivo de queixa para este agricultor, na casa dos 70 anos, que compra adubo, sobretudo para os castanheiros.

“Algum, dobrou o preço do ano passado para este ano. Botei (deitei) quase 80 sacos dele e foram quase 18 euros cada saco de 25 quilos”, contou.

Na aldeia, continuam a fertilizar muitas culturas com o tradicional estrume, “mas o adubo também se deita”.

“Tudo subiu e pede-se (ao produtor) 25 cêntimos por um quilo de batatas, são uns ladrões”, queixa-se o amigo da aldeia de Castro de Avelãs, João de Deus, que, com 82 anos, “ainda ontem” foi cortar silvas para tratar das terras.

Diz este homem que a agricultura está agora “mais reles do que há 50 anos” e sustenta com o exemplo da seca.

“Se eu quiser fazer uma presa no rio ou compô-la para a gente regar, não me deixam, é proibido”, afirmou.

João diz que tem em casa ainda “para aí quatro mil quilos de batatas” da última campanha, já vendeu algumas, mas a oferecerem-lhe “25 cêntimos por quilo”, nem lhes abre a porta para as irem ver.

“Ando a dá-las aos recos (porcos)”, acrescentou, e não as dá a ninguém por causa das “modernices”.

O desabafo pelo desagrado de não ver quem queira trabalhar a terra esvai-se imediatamente na oferta a alguém que acabou de comprar um molho de grelos: “Se estivesse na minha aldeia, dava-lhos eu. Há-os lá a estragar-se”.

Tanto João como Patrocínio garantem que “qualquer vizinho” nestas aldeias “tem horta e se não tem destas coisas é porque não quer trabalhar”.

A prova, afiançam, surge quando precisam de mão de obra e vão “chamar gente para trabalhar, a ganhar 50 euros por dia e almoço e não querem ir”.

Habituados à terra e filhos de lavradores, o casal de ex-emigrantes Manuel e Isabel Pires foram ao mercado da feira de Bragança comprar renovo para “o cantinho” destinado à horta no terreno da moradia que têm na cidade e onde colhem também frutos de várias árvores.

Levaram tomate e alface para plantar, “se der, dá, senão o mercado está perto”, segundo Manuel.

Têm também a tranquilidade das aldeias, onde “vem uma vizinha e dá, vem outra, e mesmo na cidade também dão".

“A gente gosta de repartir”, garante Isabel.

Para não perder clientes, Luísa desloca-se de Mirandela a Bragança para vender o renovo ao preço “igual como nos outros anos” porque se sobe “ninguém compra e se não vier vão comprar a outros”.

Vende alface, cebola, tomate para plantar e garantiu à Lusa que as pessoas compram.

“Quem tem um bocadinho de terra, planta para ter a farturinha”, assegurou.

Noutra banca, há fumeiro da zona de Miranda do Douro, mais caro, pelo menos, um euro por quilo, dependendo da peça, como explicou o casal de vendedores António e Mafalda Carvalho.

A justificação está no “preço da matéria-prima, que aumentou 30% e o da energia 100%, o fornecedor aumenta, o produtor tem que aumentar também, isto é uma cadeia até ao consumidor final”, segundo Mafalda.

“Eles justificam porque a farinha aumentou e o que é que posso fazer”, queixa-se, assegurando que as margens de lucro “ficam iguais” para eles que vendem ao consumidor final.

Os reflexos da farinha explicam-se no alimento dos porcos que “comem ao ar livre, mas também precisam de ração porque é mais equilibrada, e aumentou para o dobro”, explica António.

Também o pão caseiro da aldeia do Zeive amassado e cozido por Elisa Figueiredo aumentou 50 cêntimos e, ainda assim, às dez da manhã já tinha vendido todo.

Com a chegada da Páscoa é tempo do tradicional folar de carnes transmontano que está mais caro dois euros, passando para 15 euros o quilo.

Elisa faz outras iguarias e tem na farinha a principal matéria-prima cada vez mais difícil de adquirir, pois a saca de 25 quilos passou de 12 para 18 euros, e já teve que recorrer à vizinha Espanha para comprar por racionamento no fornecedor local, ditado pelo excesso de procura.

Manuel Lopes faz cem quilómetros de Vila Flor a Bragança para vender hortícolas e fruta "ao mesmo preço de sempre".

Com 12,5 hectares de terrenos numa das zonas mais férteis da região, a horta e venda de legumes é um extra que vai compensado, porque o forte do rendimento deste agricultor vem da cortiça e da amêndoa.

“Os ganhos não são muitos, mas prejuízo também não”, concretizou.

Fotografia: António Pereira

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