Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
As coisas que aconteciam nos meus tempos de Rapaz e que de quando em vez, me passam pela memória, que começa a fraquejar, mas que ainda retém quanto baste para me fazer sentir parte inteira, da gente que foi a base que usei para me fazer seu par.
Nos primeiros anos da década de 60 a Rua Alexandre Herculano era de longe a mais animada da cidade.
Desde a Moagem do Loreto até à Praça da Sé era raro encontrar uma casa que nos baixos não tivesse um "soto "que desta ou daquela especificidade era governado por um patrão que cultivava na relação entre pares, uma característica de honestidade nos negócios e uma disposição inata para fazer rir o povoléu que adorava esse estado de espírito galhofeiro e alegrete que fazia esquecer as agruras da vida que eram fardo pesado mas que acabava mais leve após episódios de puro humor são e que dava aos personagens uma aura que não se extinguiu ainda, passados que são tantos anos, e o facto de quási todos terem falecido.
Há alguns que por serem mais pândegos ainda hoje são recordados como se estivessem presentes para contarem façanhas que, de tantas vezes repetidas oralmente, ficaram para a posteridade como prova de que o povo era brincalhão e de uma invenção que não lembrava ao Diabo.
Quando há dias, em plena feira das Cantarinhas, conversando com um amigo da minha idade me recordei de um episódio protagonizado pelo Senhor César Barata, barbeiro e grande brigantino cujo humor era de uma finura a todos os títulos merecedor da nossa admiração. Junto da Barbearia Ideal havia o estabelecimento do Valentim Velasco, que era especializado em vestidos de noiva, A Casa da Noiva! Chamava-se assim e o nome era apropriado pois que havia sempre alguns exemplares deste tipo de vestidos em exposição tanto dentro da loja, como fora, à porta, onde dois manequins deveras graciosos, faziam realçar a classe de tais obras de arte.
Ora, aconteceu que numa manhã soalheira e alegre o Valentim Velasco, ou a D. Bernardete, sua esposa e responsável pela coleção de vestidos, caprichou na qualidade de tais adereços, colocando na cabeça do manequim uma grinalda em arco que era coisa linda de se ver.
O Snr. César depois de vestir o casaco branco e de haver colocado a tesoura e o pente mais a navalha da barba, já pronto para escanhoar o Dr. Patrício, foi chamado pelo Padre Carneiro para vir cá fora admirar a obra de arte da costureira que havia confecionado tal maravilha.
Não deu por perdido o tempo que demorou a apreciá-la e não resistiu à tentação, retirando a grinalda da cabeça do manequim e colocando-a na sua, já com cabelo branco onde a grinalda contrastava admiravelmente. Compôs a parte em arco que assentava no topo da cabeça e depois de a sentir segura dirigiu-se à Barbearia e de pé por detrás do Dr. Patrício e em frente ao espelho fez uma careta que levou o Dr. Patrício, surpreendido, a dar um salto na cadeira e a perguntar o que havia acontecido para o Snr. César se apresentar em tal figura. Calmamente o Snr. César fez um gesto com a mão alisando o cabelo e dizendo ao cliente que tinha ficado fascinado com tal obra de arte e que não poderia deixar de a colocar na sua cabeça em homenagem a quem a havia idealizado e confecionando. O Dr. Patrício rendeu-se à explicação e acomodou-se na cadeira onde sentado lhe colocaram a toalha branca tendo o Snr. César começado a tarefa de lhe escanhoar a face que mostrava um rito de surpresa por tão desusado modo.
O Valentim Velasco, espavorido pela descoberta do roubo da grinalda entrou na Barbearia para perguntar se alguém tinha assistido ao ato de supressão do alheio e deparou--se com a grinalda triunfalmente pousada na cabeça do amigo e só foi capaz de balbuciar: - Só tu serias capaz de me pregar tamanho susto, mas convenhamos que não te fica mal.
Ditosa terra que tais filhos teve!
Há dias escrevi um aviso aos meus leitores (as) dizendo-lhes que por motivos de saúde pararia com as minhas publicações. Como felizmente me sinto melhor, reato a escrita destas pequenas memórias que são a minha forma de demonstrar o amor que tenho à nossa terra.
Nos primeiros anos da década de 60 a Rua Alexandre Herculano era de longe a mais animada da cidade.
Desde a Moagem do Loreto até à Praça da Sé era raro encontrar uma casa que nos baixos não tivesse um "soto "que desta ou daquela especificidade era governado por um patrão que cultivava na relação entre pares, uma característica de honestidade nos negócios e uma disposição inata para fazer rir o povoléu que adorava esse estado de espírito galhofeiro e alegrete que fazia esquecer as agruras da vida que eram fardo pesado mas que acabava mais leve após episódios de puro humor são e que dava aos personagens uma aura que não se extinguiu ainda, passados que são tantos anos, e o facto de quási todos terem falecido.
Há alguns que por serem mais pândegos ainda hoje são recordados como se estivessem presentes para contarem façanhas que, de tantas vezes repetidas oralmente, ficaram para a posteridade como prova de que o povo era brincalhão e de uma invenção que não lembrava ao Diabo.
Quando há dias, em plena feira das Cantarinhas, conversando com um amigo da minha idade me recordei de um episódio protagonizado pelo Senhor César Barata, barbeiro e grande brigantino cujo humor era de uma finura a todos os títulos merecedor da nossa admiração. Junto da Barbearia Ideal havia o estabelecimento do Valentim Velasco, que era especializado em vestidos de noiva, A Casa da Noiva! Chamava-se assim e o nome era apropriado pois que havia sempre alguns exemplares deste tipo de vestidos em exposição tanto dentro da loja, como fora, à porta, onde dois manequins deveras graciosos, faziam realçar a classe de tais obras de arte.
Ora, aconteceu que numa manhã soalheira e alegre o Valentim Velasco, ou a D. Bernardete, sua esposa e responsável pela coleção de vestidos, caprichou na qualidade de tais adereços, colocando na cabeça do manequim uma grinalda em arco que era coisa linda de se ver.
O Snr. César depois de vestir o casaco branco e de haver colocado a tesoura e o pente mais a navalha da barba, já pronto para escanhoar o Dr. Patrício, foi chamado pelo Padre Carneiro para vir cá fora admirar a obra de arte da costureira que havia confecionado tal maravilha.
Não deu por perdido o tempo que demorou a apreciá-la e não resistiu à tentação, retirando a grinalda da cabeça do manequim e colocando-a na sua, já com cabelo branco onde a grinalda contrastava admiravelmente. Compôs a parte em arco que assentava no topo da cabeça e depois de a sentir segura dirigiu-se à Barbearia e de pé por detrás do Dr. Patrício e em frente ao espelho fez uma careta que levou o Dr. Patrício, surpreendido, a dar um salto na cadeira e a perguntar o que havia acontecido para o Snr. César se apresentar em tal figura. Calmamente o Snr. César fez um gesto com a mão alisando o cabelo e dizendo ao cliente que tinha ficado fascinado com tal obra de arte e que não poderia deixar de a colocar na sua cabeça em homenagem a quem a havia idealizado e confecionando. O Dr. Patrício rendeu-se à explicação e acomodou-se na cadeira onde sentado lhe colocaram a toalha branca tendo o Snr. César começado a tarefa de lhe escanhoar a face que mostrava um rito de surpresa por tão desusado modo.
O Valentim Velasco, espavorido pela descoberta do roubo da grinalda entrou na Barbearia para perguntar se alguém tinha assistido ao ato de supressão do alheio e deparou--se com a grinalda triunfalmente pousada na cabeça do amigo e só foi capaz de balbuciar: - Só tu serias capaz de me pregar tamanho susto, mas convenhamos que não te fica mal.
Ditosa terra que tais filhos teve!
Há dias escrevi um aviso aos meus leitores (as) dizendo-lhes que por motivos de saúde pararia com as minhas publicações. Como felizmente me sinto melhor, reato a escrita destas pequenas memórias que são a minha forma de demonstrar o amor que tenho à nossa terra.
Bragança, 04/05/2022
A. O. dos Santos
(Bombadas)
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