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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

A casa de Irene - 1ª Parte

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Entrava-se por uma porta cujo retângulo exterior, em granito, continha as pilastras de boa madeira de castanho que ostentavam as marcas antigas da pedoa e da garlopa com que foram alisadas para que com as ferragens, que brilhantes por efeito do pano seco e do limpa metais causava em nós uma agradável sensação de obra limpa. A parede era de alvenaria recoberta de cal branca e continha por sobre a porta uma varanda com base de granito e apoios de ferro forjado com portas brancas de abrir e vidros em gelosia que alinhada com as quatro janelas, duas em cada flanco, mostravam solidez e bom gosto.
Ali nascera Irene, Quando criança brincou no jardim da casa que seu avô mandara construir para alojar a família e dar pousada a um ou outro amigo que vindo visitá-lo por ali se quedasse por aqueles lugares salubres e arejados.
Quando seu avô partiu, Irene era ainda criança de três anos. Seu pai passou então a ser o homem que tomou em mãos os negócios da família. Sua mãe, mulher serena e de educação com selo de Colégio Suíço, passou e ter mais intervenção na vida da casa. Era como se o passamento de seu avô tivesse tido o efeito contrário ao antecipado, pois a vida fez-se mais fluida, talvez por que seu pai houvesse imposto um ritmo diferente à forma como se geriam a casa de família, bem assim como os negócios.
Sua mãe perdera a relutância de dar ordens numa casa que verdadeiramente não lhe pertencia.
Agora era chegado o tempo da passagem de testemunho em situações de mudança que eram como um desafio à sua capacidade de penetrar no mundo para o qual haviam, tanto ela como ele sido educados e que esperava por ambos de braços abertos. Irene era já menina de escola e na sua cabeça de criança ainda não cabiam certos conceitos reservados aos adultos. 
Assim os primeiros anos após a morte do avô ela cresceu em corpo e maturidade, num ambiente de bem-estar e naturalmente se fez mulher. Fez estudos condizentes com a sua condição social e a vida que até aí correra como planeado passou a ter sobressaltos que não sendo de grande monta ajudaram a que ela passasse a se preocupar com a sociedade no seu todo e a prestar mais atenção aos que por falta de meios financeiros se quedavam pelas margens da sociedade e que persistentemente eram alvo de repressão e não aceitação pelas pessoas que um pouco por desfastio ou mesquinhez achavam que esses eram de outra condição e que não teriam nunca a possibilidade da sociedade os içar à condição  de homens e mulheres que tendo o direito a partilhar os bens da sociedade em cujas margens se encontravam, eram sempre repelidos por razões discriminatórias não condizente com a doutrina que os governos e alguns grupos sociais propagandeavam em tempo de eleições e que após haverem tomado o lugar nos seus gabinetes faziam o contrário do que tanto incensavam antes de serem eleitos.
Começava aqui uma actividade de participação nos grupos de repulsa pelas desigualdades entre humanos e a aprendizagem de como se pode ser útil e solidário mesmo quando o princípio, o meio e o fim das semelhanças entre indivíduos de classes sociais que se encontram nos antípodas de outras pode pelo seu humanismo congregar vontades para construírem um mundo melhor.
Assim Irene passou a ser vista por alguns como alguém que fugia aos seus princípios de herdeira de fazenda grossa acumulada por gente de uma classe burguesa, que gente como ela e apenas por capricho estava a tentar eliminar. Irene não era mulher de abandonar os seus ideais e essa característica apenas acicatou a sua reflexão e vontade de se fazer conhecedora das circunstâncias que levaram a que a sociedade durante séculos não tivesse curado de com ideias frescas que já durante muitos séculos são anunciadas e desejadas por alguns e repelidas por outros tantos e se continua a assistir a guerras que fazem sofrer tanto a humanidade, mesmo depois do que foi visto e condenado em sede própria referente às Primeira e Segunda Guerras Mundiais.
Irene tinha pensamentos de quem quer fazer algo, mas as condições que a realidade lhe apresentava não eram as mais promissoras, já que a sua proveniência, a classe média alta e a condição daqueles a quem pretendia defender eram zonas literalmente opostas e essa razão dificultava-lhe a sua defesa daquilo em que acreditava e ao mesmo tempo lhe retirava a capacidade de argumentação para defender a outra parte.
Assim Irene sentia o mundo fugir-lhe debaixo dos pés. A angústia acentuava-se e as ideias começaram a não serem tão claras como seria desejável.

Fim da primeira parte.



Bragança 17/08/2022
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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