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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 23 de julho de 2024

“Vivi a verdadeira e agora vivo a brincadeira” – Recriação da Ceifa e da Malha, em Morais, concelho de Macedo de Cavaleiros

 Mostrar que a “tradição ainda é o que era” foi o objetivo da atividade da Ceifa e da Malha que aconteceu este fim-de-semana, em Morais, no concelho de Macedo de Cavaleiros.


Foram muitos os participantes e curiosos que vieram matar saudades das tradições agrícolas. Entre uma pitada de saudade, nos mais velhos, nos mais novos reinava a curiosidade de saber como era e como se fazia.

É o caso de Carina Teixeira, professora, que veio de propósito de Marco de Canaveses, mesmo com as festas da cidade a acontecerem, para participar e assistir, pela primeira vez à atividade, como explica:

“Participámos na atividade da Ceifa, na parte da manhã e agora estamos a ver a parte da Malha. Foi uma experiência engraçada, porque embora nós tenhamos alguns conhecimentos prévios de como fazia o povo antigamente, ver e estar presente é totalmente diferente.”

Mas não veio sozinha, veio acompanhada pela sua prima, Cecília Fialho, que salientou a diferença dos nomes das alfaias agrícolas, de região para região:

“Eu gosto muito de tradições e foi ver outra maneira de viver as mesmas tradições que são comuns a todo o território de Portugal. Mas há diferenças, por exemplo, em como se chamam os útensilios agrícolas. Lá diz-se foice e aqui diz-se centoura. 

É muito salutar ver a comunidade junta neste grande convívio.”

De Valpaços, veio a família Cavalheiro, pai, mãe e filho, que esperavam que a malhadeira começasse a trabalhar para separar o grão do centeio da espiga. Luís Cavalheiro, amante desta atividade, confessa ter feito 50 quilómetros de propósito para vir assistir:

“Eu vim por causa da notícia que ouvi na vossa rádio, senão não sabia da existência desta atividade. 

Esta é uma tradição que já não acontece em muitas localidades, e eu sendo ainda um jovem. Ainda me lembro dessas atividades que agora já não existem.”

Também Natália Casimiro, veio de Bagueixe para assistir para se relembrar de como era:

“A ceifa e a malha, a festa e o convívio, foram os motivos que me trouxeram. Os meus pais eram agricultores e eu participava nestas atividades. Tenho memórias doces, foi difícil, mas venho aqui para recordar isso tudo.”

Na parte da manhã foi o momento da ceifa, tirar o centeio já crescido do solo, que contou com 80 participantes.

Na parte da tarde, foi o tempo de recolher a semente, mecanicamente com uma malhadeira.

Era ainda bastante o público que assistia à malhadeira, quando esta avariou e foram reunidos todos os esforços, tal como antigamente para a colocar a funcionar… Passado uma meia hora de arranjos, lá ela se decide e começa a trabalhar:

Já da aldeia, são muitos os participantes, vestidos a rigor, mesmo num dia mais fresco, como este sábado. Maria Martins de 61 anos, entre o trabalho do restaurante que gere, veio ceifar e malhar, como em todas as edições da atividade:

“Porque gosto e é uma tradição da nossa zona e não quero que ela caia no esquecimento.”

Está acompanhada de Laurinda Rego de 66 anos, que também participou sempre. Evoca as mesmas razões para participar:

“Porque eu gosto disto. Vivemos a verdadeira e agora vivemos a brincadeira. Agora até a vivemos mais animadas. Naquela altura éramos obrigadas a fazer.” 

Ana Bartolo, de 55 anos, sempre assídua, vem porque gosta da tradição:

“Porque gosto de ceifar e gosto desta tradição. Participo desde sempre. Faz-me lembrar os meus tempos de infância. Faz-me lembrar quando ainda não havia malhadeira e se malhava à mão. Tudo o que agora a juventude não conhece.”

E por vezes também havia lugar para brincadeiras:

“As pessoas às vezes dormiam nas terras. E a minha mãe não me deixava porque eu era menina, não era… Mas uma noite lá deixou. Havia luar e eu adormeci. O meu pai e o meu irmão levantaram-se de noite e segaram, durante muito tempo. De manhã, quando acordamos fez que chorava e disse: Passaram aqui uns ladrões e segaram esta terra. Olhai… Olhai.. segaram tudo… E nós ingénuos, nem percebemos que era ele a brincar connosco.”

A primeira edição desta atividade foi em 2006, criada pelo anterior presidente da Junta de freguesia de Morais, Mário Teles, que faleceu entretanto.

Para Miro Valadar, atual autarca local, a continuação da Ceifa e da Malha, enquanto atividade será realizada, em jeito de homenagem:

“Tentamos fazer um cartaz para um fim-de-semana. Temos pessoas de todos os lados: da Suiça, Porto, Lisboa e Marco de Cavaneves. Tentamos divulgar o que é bom da nossa terra.

Também fazemos uma homenagem ao senhor Mário teles, de uma forma muito simbólica”. 

Vai ser construído um pavilhão que terá o nome de Casa da Ceifa e da Malha, em Morais, na eira onde decorreu a malha do cereal, para acolher diversas atividades.

Escrito por Rádio ONDA LIVRE

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