Foram muitos os participantes e curiosos que vieram matar saudades das tradições agrícolas. Entre uma pitada de saudade, nos mais velhos, nos mais novos reinava a curiosidade de saber como era e como se fazia.
É o caso de Carina Teixeira, professora, que veio de propósito de Marco de Canaveses, mesmo com as festas da cidade a acontecerem, para participar e assistir, pela primeira vez à atividade, como explica:
“Participámos na atividade da Ceifa, na parte da manhã e agora estamos a ver a parte da Malha. Foi uma experiência engraçada, porque embora nós tenhamos alguns conhecimentos prévios de como fazia o povo antigamente, ver e estar presente é totalmente diferente.”
Mas não veio sozinha, veio acompanhada pela sua prima, Cecília Fialho, que salientou a diferença dos nomes das alfaias agrícolas, de região para região:
“Eu gosto muito de tradições e foi ver outra maneira de viver as mesmas tradições que são comuns a todo o território de Portugal. Mas há diferenças, por exemplo, em como se chamam os útensilios agrícolas. Lá diz-se foice e aqui diz-se centoura.
É muito salutar ver a comunidade junta neste grande convívio.”
De Valpaços, veio a família Cavalheiro, pai, mãe e filho, que esperavam que a malhadeira começasse a trabalhar para separar o grão do centeio da espiga. Luís Cavalheiro, amante desta atividade, confessa ter feito 50 quilómetros de propósito para vir assistir:
“Eu vim por causa da notícia que ouvi na vossa rádio, senão não sabia da existência desta atividade.
Esta é uma tradição que já não acontece em muitas localidades, e eu sendo ainda um jovem. Ainda me lembro dessas atividades que agora já não existem.”
Também Natália Casimiro, veio de Bagueixe para assistir para se relembrar de como era:
“A ceifa e a malha, a festa e o convívio, foram os motivos que me trouxeram. Os meus pais eram agricultores e eu participava nestas atividades. Tenho memórias doces, foi difícil, mas venho aqui para recordar isso tudo.”
Na parte da manhã foi o momento da ceifa, tirar o centeio já crescido do solo, que contou com 80 participantes.
Na parte da tarde, foi o tempo de recolher a semente, mecanicamente com uma malhadeira.
Era ainda bastante o público que assistia à malhadeira, quando esta avariou e foram reunidos todos os esforços, tal como antigamente para a colocar a funcionar… Passado uma meia hora de arranjos, lá ela se decide e começa a trabalhar:
Já da aldeia, são muitos os participantes, vestidos a rigor, mesmo num dia mais fresco, como este sábado. Maria Martins de 61 anos, entre o trabalho do restaurante que gere, veio ceifar e malhar, como em todas as edições da atividade:
“Porque gosto e é uma tradição da nossa zona e não quero que ela caia no esquecimento.”
Está acompanhada de Laurinda Rego de 66 anos, que também participou sempre. Evoca as mesmas razões para participar:
“Porque eu gosto disto. Vivemos a verdadeira e agora vivemos a brincadeira. Agora até a vivemos mais animadas. Naquela altura éramos obrigadas a fazer.”
Ana Bartolo, de 55 anos, sempre assídua, vem porque gosta da tradição:
“Porque gosto de ceifar e gosto desta tradição. Participo desde sempre. Faz-me lembrar os meus tempos de infância. Faz-me lembrar quando ainda não havia malhadeira e se malhava à mão. Tudo o que agora a juventude não conhece.”
E por vezes também havia lugar para brincadeiras:
“As pessoas às vezes dormiam nas terras. E a minha mãe não me deixava porque eu era menina, não era… Mas uma noite lá deixou. Havia luar e eu adormeci. O meu pai e o meu irmão levantaram-se de noite e segaram, durante muito tempo. De manhã, quando acordamos fez que chorava e disse: Passaram aqui uns ladrões e segaram esta terra. Olhai… Olhai.. segaram tudo… E nós ingénuos, nem percebemos que era ele a brincar connosco.”
A primeira edição desta atividade foi em 2006, criada pelo anterior presidente da Junta de freguesia de Morais, Mário Teles, que faleceu entretanto.
Para Miro Valadar, atual autarca local, a continuação da Ceifa e da Malha, enquanto atividade será realizada, em jeito de homenagem:
“Tentamos fazer um cartaz para um fim-de-semana. Temos pessoas de todos os lados: da Suiça, Porto, Lisboa e Marco de Cavaneves. Tentamos divulgar o que é bom da nossa terra.
Também fazemos uma homenagem ao senhor Mário teles, de uma forma muito simbólica”.
Vai ser construído um pavilhão que terá o nome de Casa da Ceifa e da Malha, em Morais, na eira onde decorreu a malha do cereal, para acolher diversas atividades.
Sem comentários:
Enviar um comentário