Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 20 de setembro de 2025

As estratégias das plantas: aproveitar cada raio de sol

 A luz é o recurso mais precioso para a maioria das plantas. É através dela que produzem alimento, crescem, se reproduzem e sobrevivem. Mas a luz nem sempre chega na quantidade ou na direção certa, e cada espécie desenvolveu estratégias próprias para captá-la e usá-la de forma eficiente.

Papoila. Foto: Armennano/Pixabay
A arte de seguir a luz

Algumas plantas movem folhas, ramos ou flores para seguir a luz ao longo do dia, numa dança silenciosa conhecida como fototropismo. Entre os exemplos mais evidentes estão as flores do girassol (Helianthus annuus) e plantas herbáceas como a beldroega (Portulaca oleracea), cujos ramos e folhas se inclinam para maximizar a exposição à luz, especialmente em ambientes expostos e secos.

Outras espécies preferem manter as folhas ou os ramos permanentemente inclinados ou verticais, protegendo-se da exposição direta e da perda de água, ao mesmo tempo que aproveitam a luz disponível. Entre elas estão certas gramíneas dos géneros Festuca e Stipa, ou árvores e arbustos como o sobreiro (Quercus suber), o pinheiro-bravo (Pinus pinaster), o medronheiro (Arbutus unedo) e o carrasco (Quercus coccifera).

Medronheiro. Foto: sara150578/Pixabay

Estes movimentos e ajustes, muitos deles imperceptíveis, são mecanismos de eficiência energética que permitem maximizar a energia captada e conservar recursos, garantindo que cada planta prospere mesmo em ambientes exigentes, onde cada raio de sol é precioso.

Fotossíntese: estratégias para cada habitat

Nem todas as estratégias estão à vista. Enquanto algumas plantas ajustam a posição de folhas e flores para captar melhor a luz, outras otimizam a maneira como a transformam em alimento, armazenando-a sob a forma de energia química e adaptando a fotossíntese às condições do ambiente.

Na maioria das plantas de climas temperados, a fotossíntese é do tipo C3. Entre os exemplos estão árvores e arbustos nativos, como o carvalho-cerquinho (Quercus faginea), o zambujeiro (Olea europaea subsp. europaea var. sylvestris), o castanheiro (Castanea sativa), a esteva (Cistus ladanifer), o rosmaninho (Lavandula stoechas) ou a abelhinhas (Briza maxima). 

Estas plantas captam dióxido de carbono durante o dia, quando os poros (estomas) das folhas estão abertos, usando-o para produzir açúcares. Mas, essa abertura constante expõe-nas a perdas de água por evaporação, especialmente em dias quentes ou em períodos de seca prolongada.

Castanheiros. Foto: Jean-Pol Grandmont/WikiCommons

Para lidar melhor com ambientes quentes e luminosos, algumas plantas recorrem à fotossíntese C4, que lhes permite captar dióxido de carbono de forma mais eficiente e continuar a produzir alimento mesmo com os estomas parcialmente fechados, reduzindo a perda de água. Entre os exemplos mais conhecidos estão o milho (Zea mays) e a cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) e outras gramíneas como o caniço-do-sequeiro (Arundo micrantha) ou a grama-comum (Cynodon dactylon).

Em condições ainda mais extremas, onde a seca é constante e cada gota de água é preciosa, as plantas recorrem à fotossíntese CAM. Neste sistema, os estomas abrem-se apenas à noite, quando a temperatura baixa e a evaporação é mínima, absorvendo dióxido de carbono que será armazenado e usado durante o dia seguinte. É o caso dos catos e das suculentas. Plantas nativas como a erva-pinheira (Sedum sediforme) ou o umbigo-de-vénus (Umbilicus rupestris), que crescem entre pedras e sobre muros, em locais onde o calor é intenso e a água escasseia, são bons exemplos.

Em diferentes partes do mundo, as plantas desenvolvem estratégias engenhosas para aproveitar a luz. Na floresta tropical, as folhas das plantas de sombra são largas e finas, captando até o último raio de luz filtrado pela copa. Nos desertos escaldantes, as suculentas acumulam água e ajustam a abertura dos estomas, respirando apenas à noite, enquanto os catos orientam-se para aproveitar o sol do amanhecer e reduzir a exposição ao calor. Nas tundras frias, plantas pequenas e compactas mantêm as folhas mais próximas do solo, protegendo-se do vento e conservando calor.

Cada uma destas estratégias é uma forma de maximizar o uso da energia disponível, ajustando-se de maneira única às condições do habitat e garantindo que cada espécie sobreviva e prospere mesmo nos ambientes mais exigentes.

Raízes que economizam recursos

Enquanto as folhas procuram a luz, as raízes exploram o solo à procura de água e nutrientes que sustentam esse processo. Algumas plantas espalham raízes superficiais, prontas a absorver rapidamente a água da chuva; outras aprofundam-se, alcançando lençóis freáticos; e muitas formam associações com fungos micorrízicos, aumentando a capacidade de absorção de nutrientes do solo.

A estevinha (Cistus salviifolius) tem raízes ramificadas que exploram camadas superficiais de solo pedregoso, captando água de forma rápida. O alecrim (Salvia rosmarinus) desenvolve raízes mais profundas, capazes de resistir a períodos de seca prolongada. Pequenas herbáceas, como a erva-de-são-joão (Hypericum perforatum), exploram micro-habitats húmidos junto a fendas de rochas ou depressões do terreno, aproveitando cada gota de água disponível.

Alecrim. Foto: Miguel Angel Masegosa Martínez/WikiCommons

É um equilíbrio delicado: acima, a energia do sol; abaixo, os recursos da terra. Esta coordenação entre folhas e raízes garante que cada fotão e cada gota de água sejam aproveitados ao máximo, um diálogo invisível de eficiência e sobrevivência.

Crescimento e desenvolvimento ao longo do ano

O crescimento e desenvolvimento das plantas não ocorre de forma uniforme. Cada espécie  tem o seu ritmo, adaptado às condições do habitat. As etapas do desenvolvimento também mudam ao longo do ano e dependem de fatores como luz, temperatura e disponibilidade de água.

A época de floração, por exemplo, é característica de cada espécie e é fortemente influenciada pelo fotoperíodo, ou seja, a relação entre a duração das horas de luz e das horas da noite. 

  • Plantas de dia longo, como a papoila (Papaver rhoeas) ou a malva-de-três-meses (Lavatera trimestris), florescem no final da primavera ou no verão, quando a noite é mais curta. 
  • Plantas de dia curto, como a quita-merenda (Colchicum montanum) ou o açafrão-bravo (Crocus serotinus), florescem no final do verão, outono ou inverno, quando a noite é igual ou mais longa que o dia.
  • Algumas espécies são indiferentes ao fotoperíodo, florescendo independentemente da duração do dia, como a cila (Scilla monophyllos) ou o narciso-bravo (Narcissus serotinus). 
  • Outras só respondem ao fotoperíodo após receberem estímulos adicionais, como mudanças de temperatura ou períodos de seca, como a campainha-amarela (Narcissus bulbocodium)ou a cebola-albarrã (Drimia maritima). 

Esse controlo sazonal garante que a reprodução e o crescimento ocorram nas condições mais favoráveis, otimizando o investimento energético e aumentando as hipóteses de sobrevivência.

Competição e ocupação de nichos

Em habitats naturais, as espécies coexistem explorando luz, água e nutrientes de formas diferentes evitando a competição direta. Algumas ocupam rapidamente o espaço superior, captando a maior parte da energia luminosa, enquanto outras se adaptam a sombras ou solos pobres, aproveitando recursos que as concorrentes não usam. É assim que se estabelecem diferentes nichos ecológicos, permitindo que várias espécies partilhem o mesmo espaço sem se prejudicarem mutuamente.

Campainha-de-outono. Foto: Lies Van Rompaey/Wiki Commons

Entre essas espécies, arbustos como as maias (Cytisus striatus) e a aroeira (Pistacia lentiscus) aproveitam solos secos e expostos, enquanto herbáceas como a papoila-comum (Papaver rhoeas), a bonina (Bellis perennis), a campainha-de-outono (Acis autumnalis) ou o açafrão-bravo (Crocus serotinus) colonizam clareiras e terrenos abertos. 

Em locais mais húmidos ou de sombra, o azereiro (Prunus lusitanica) ou o feto-pente (Blechnum spicant subsp. spicant) exploram micro-habitats inacessíveis a plantas de pleno sol.

Cada planta é uma engenheira silenciosa, equilibrando luz, água e nutrientes com precisão e adaptando-se às condições do seu habitat. Observar estas estratégias ensina-nos sobre resiliência e eficiência na gestão energética da natureza.

A diversidade de soluções – folhas que se movem, raízes que exploram o solo de formas distintas, sistemas de fotossíntese adaptados ao calor e à seca, ou ciclos de floração sincronizados com a duração dos dias – garante a sobrevivência das espécies e a estabilidade dos ecossistemas.

No mundo natural, cada raio de sol conta, cada gota de água é preciosa, e cada estratégia é uma aposta cuidadosa no futuro. Compreender como as plantas captam, transformam, armazenam e aproveitam a energia ajuda-nos a valorizar melhor a biodiversidade que nos rodeia e a refletir sobre como podemos aprender com estes mestres da eficiência energética.

Sem comentários:

Enviar um comentário