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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Literal e metaforicamente falando

Por: António Pires 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


 Ainda que possa parecer um tema pouco excitante, por, de certa forma, não ser uma prioridade do dia a dia do leitor comum, julgo, no entanto, apropriado trazer hoje aqui um exemplo de como o uso da língua tem o poder de consagrar/dicionarizar palavras e expressões que, à luz da gramática, estão em completo desacordo com os princípios por ela fixados.
Quando, pois, dizemos “literalmente”, referimo-nos a um advérbio de modo, que, sendo o oposto/antónimo de “metaforicamente” ou” figurativamente”, tem o significado de “conforme a letra”, “real”, “objectivo”, etc. É o chamado sentido denotativo, em que as palavras são utilizados no sentido exacto, Ipsis verbis, não havendo, pois, lugar a outra interpretação ou leitura, senão a que nos é dada pelo valor (básico) semântico dos elementos frásicos do acto comunicativo.
A conhecida e extravagante jornalista da SIC, Joana Latino, destacando a importância do turismo na economia nacional, reportava, num dado serviço noticioso, o seguinte: “A baixa lisboeta foi literalmente invadida por espanhóis”. Ou seja, a repórter sugeriu que os nuestros hermanos tinham ocupado, através dum ataque bélico, pelas armas, a capital do reino. Felizmente a ocupação foi metafórica. Literalmente, a última invasão foi em 1580 (?).
José Alberto Carvalho, o reputado pivot da SIC, referindo-se a uma das últimas vitórias do actual campeão de fórmula 1, Lewis Hamilton, dizia: “O piloto Inglês esmagou literalmente a concorrência”. Ainda bem que nós, utilizadores da língua, temos a competência linguística para, perante um dado contexto, atribuir o adequado valor semântico às palavras. Se assim não fosse, no caso em apreço, podíamos pensar que se tratava duma tragédia. O “esmagamento” foi poético, metafórico/simbólico/figurativo.
O gongórico comentador da SportTV, Luís Freitas Lobo – que partilha com o famigerado cantor Quim Barreiros o cognome de “poeta do povo” -, num jogo de futebol entre Sporting e Benfica, realçava, desta forma, a importância do ex número 8 e capitão da equipa de Alvalade: “Bruno Fernandes leva literalmente a equipa às costas”. Mais um caso de incongruência semântica: o homem que pretende intelectualizar a linguagem do futebol devia querer dizer “metaforicamente”. Sim, porque tal façanha, no sentido literal, é humanamente impossível.
Num outro jogo de futebol, um certo catedrático do desporto rei (não consigo precisar o nome), descrevia, desta forma, uma jogada de golo iminente, em que o guarda – redes da nossa selecção consegue, “in extremis”, negar o golo ao adversário: “Rui Patrício tirou literalmente o pão da boca ao adversário”. Não, o muito que Rui Patrício podia ter feito era tirar metaforicamente o pão da boca, porque esta expressão popular tem o significado de impedir que alguém realize algo que estava prestes a acontecer. E foi literalmente o que aconteceu. Que se saiba, as regras actuais do futebol ainda não contemplam a possibilidade dos atletas ingerirem o alimento bíblico ou beber uma cervejola durante o jogo.
Mas não é por estes modismos linguísticos que os males vêm ao mundo. Como é costume dizer-se, o que interessa é ter saúde!

António Pires
Texto de 2020

António Pires, natural de Vale de Frades/S. Joanico, Vimioso. 
Residente em Bragança.
Liceu Nacional de Bragança, FLUP, DRAPN.

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