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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 6 de setembro de 2025

O Cavaleiro das Sombras - Capítulo III – Os Arquivos da Cidade


 O dia nasceu cinzento, com a neve a cair em silêncio sobre os telhados de Bragança. Afonso não tinha pregado olho. A visão do Cavaleiro das Sombras perseguia-o mesmo de olhos fechados.

Ainda com a mente pesada, encontrou Lídia e Baltasar junto à porta de ferro da torre mais antiga do castelo, a que guardava os arquivos da cidade, um labirinto de pergaminhos, livros e tábuas de madeira cobertas de pó.

- Aqui está guardada a memória que não pode ser contada em praça pública, murmurou Baltasar, empurrando a porta com esforço.

O interior era húmido e escuro. Filas de estantes de carvalho apinhavam-se até ao teto, com volumes amarelados pelo tempo. O ar cheirava a couro e mofo. Afonso acendeu uma tocha e avançou decidido.

- Se Dom Martinho foi acusado de traição, deve haver um registo oficial, disse. - Mas também poderá haver aquilo que não foi mostrado ao povo.

Lídia subiu uma escada de madeira e começou a passar os dedos por lombadas gastas. Encontrou um códice com a marca da coroa. Folheou-o com cuidado.

- Aqui está… “Martinho de Soutelo, cavaleiro de armas, condenado por abrir a Porta de São Tiago ao inimigo.” - Leu em voz alta. Mas não há testemunhas registadas, nem carta de defesa. Só a acusação.

- Estranho… demasiado simples, comentou Afonso.

Enquanto isso, Baltasar, de olhar atento, puxava uma caixa escondida sob um monte de pergaminhos. Era uma arca pequena, selada com ferro enferrujado.

- Isto não devia estar aqui… disse, enquanto a abria com um estalo.

Dentro havia cartas soltas, enroladas com cordéis gastos. Lídia pegou numa delas, escrita com caligrafia apressada:

"Martinho é inocente. Não abriu porta alguma. O traidor veste o hábito da cidade, não a armadura."

O coração de Afonso acelerou.

- Um traidor dentro das próprias muralhas… alguém de confiança.

Baltasar retirou outra carta, mais reveladora ainda:

"Foi o alcaide quem negociou a entrega da Porta de São Tiago. Para salvar a própria pele, lançou a culpa sobre o cavaleiro."

Lídia levou a mão à boca, assustada.

- Então o Cavaleiro das Sombras tem razão. Foi injustiçado, condenado sem defesa, e a sua alma ficou presa pela mentira.

Afonso fechou o punho com força.

- Se esta verdade for revelada ao povo, talvez a sua alma finalmente descanse.

Mas antes que pudessem sair, um estrondo ecoou pelo arquivo. O vento gélido entrou por uma janela partida, espalhando pergaminhos pelo ar. No meio da corrente, a voz do espectro ressoou:

- As muralhas sabem a verdade. Mas não basta descobri-la, é preciso que alguém a proclame com coragem.

As velas apagaram-se, e o silêncio voltou a reinar.

Lídia olhou para os dois homens, com os olhos firmes apesar do medo.

- Temos de levar estas provas à praça. Mas… e se o povo não acreditar?

Afonso pousou a mão sobre o punho da espada.

- Então será a minha voz contra as muralhas. E não recuarei.

Baltasar sorriu, sombrio.

- Mas lembra-te, Guardião, a verdade liberta… ou desperta inimigos mais antigos do que as próprias muralhas.

Continua...

N.B.: A narrativa e os personagens fazem parte do mundo da ficção. Qualquer semelhança com acontecimentos ou pessoas reais, não passa de mera coincidência.

HM

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