Barragem de Picote |
De farta substância se tem nutrido a Arquitectura Moderna em Portugal e um dos seus capítulos mais interessantes, até pelo trabalho interdisciplinar que promoveu, escreveu-se em terras de Miranda do Douro, quando o governo português, nos termos do acordo assinado em 1927, decidiu o aproveitamento hidroeléctrico do Douro Internacional. Referimo-nos às intervenções arquitectónicas das barragens de Picote e de Miranda do Douro. Embora exterior à Terra Fria Transmontana, também a barragem de Bemposta faz parte integral deste conjunto.
Empreendimentos tradicionalmente encarados como a celebração absoluta das capacidades dos engenheiros, vistos por alguns como os deuses modernos, tiveram, para surpresa de muitos, uma profunda participação dos arquitectos, que conceberam as centrais subterrâneas, os edifícios de comando, o parque social para milhares de trabalhadores e até determinados sectores das barragens.
No desenvolvimento conceptual dos projectos para Picote, Miranda do Douro e Bemposta a Hidro-Eléctrica do Douro, S.A.R.L., empresa fundada em 1953 com capitais do Estado, Caixas de Previdência e particulares, congregou-se um núcleo de arquitectos que nos anos de 1953 e 1954 riscaram, integrados num corpo técnico, as intervenções a desenvolver. Nos anais, registam-se os nomes dos arquitectos João Archer de Carvalho, Manuel Nunes de Almeida e Rogério Ramos. E, se outros arquitectos seriam chamados a colaborar posteriormente, anotem-se também os nomes de artistas como Júlio Resende e Barata Feyo.
Numa região sem tradição de grandes estaleiros, entre 1954 e 1959 decorreu a empreitada de Picote. Além da obra da barragem, propriamente dita, foi necessário desenvolver um programa de instalação a fundamentis de uma pequena cidade: estradas; habitações de tipologias diferenciadas; escola de grande e luminosa vidraça; centro comercial com correio, mercearia, talho, peixaria, drogaria e barbeiro; igreja forrada a tijolo com um singular alpendre e a manter o campanário, isento, como marcador de referência visual. Todas as imagens, alfaias litúrgicas, paramentos e apliques foram expressamente desenhadas; estalagem; piscina; estação de tratamento de água; plano urbanístico. Na captação do espírito do lugar, desenvolveram-se esquemas combinatórios de materiais como o granito e a madeira como o ferro, o cimento e o vidro, numa aproximação coerente à individualidade morfológica pré-existente.
Liceu Nacional de Bragança |
Mais perto dos nossos dias, a arquitectura moderna foi enriquecida pela reflexão e pelas propostas, ainda que nem todas concretizadas, que o arquitecto Viana de Lima efectuou para as Câmaras de Vinhais e da capital do Distrito. Homem de coragem, em pleno salazarismo, foi um dos que puseram em causa as relações de promiscuidade entre arquitectos e poder, pugnando, no I Congresso de Engenharia, para que fosse reconhecida liberdade aos autores em vez da subordinação a estilos que os organismos oficiais impunham.
Para Vinhais estudou, em 1966, um Mercado Municipal. Propunha o aproveitamento da inclinação do terreno, organizando o edifício em dois pisos e contemplando a articulação harmoniosa com a envolvente urbanística.
Hospital Distrital de Bragança |
No mesmo ano, materializavam-se os Edifícios da Torralta / Montepio Geral, com uma agência bancária, o cine-teatro, o hotel e um café-restaurante. No conjunto das intervenções projectadas, podem-se ainda enumerar os estudos para Estádio Municipal e diversos planos de urbanização que, entre 1983 e 1986, promoviam a reorganização de vários espaços públicos em Bragança.
in:rotaterrafria.com
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