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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Breve História da Casa Menéres – Quinta do Romeu

Aspecto exterior do Museu, no Romeu
Na segunda metade do século XIX, Clemente Menéres, oriundo da Vila da Feira, negociava em vinhos e cortiça nos mercados do norte da Europa e do Brasil.
Anteriormente já tinha vivido algum tempo nesta colónia e viajado pela Europa, Médio Oriente e Norte de África. Até Wenceslau de Moraes, nas suas cartas do Japão, refere com elogios a presença de um seu stand na Feira de Osaka em 1903!
Provavelmente nessas suas digressões, apercebe-se da importância futura destes produtos e resolve então investir na produção, transformação e comercialização dos mesmos, modelo esse que ainda hoje se mantém na Quinta do Romeu.

Nesse sentido, em 1874 visita pela primeira vez Trás-os-Montes à procura de sobreirais que constava por lá haver e que não eram explorados. De imediato compra os que encontra e que se situavam nas terras incultas onde não se dava mais nada. Cria assim a Quinta do Romeu, que mais tarde deu origem à Sociedade Clemente Menéres Lda, com sede no extinto Convento de Monchique no Porto, comprado em hasta pública em 1872.
Replanta algumas vinhas de vinho generoso que encontra dizimadas pela filoxera e povoa outras encostas com olivais.
Faz uma fábrica de rolhas no Romeu e, para poder escoar os seus produtos, empenha-se profundamente em trazer o Caminho de Ferro para esta zona, o que consegue movimentando a opinião pública de então.
Para além de instalações agrícolas e casas para o pessoal que, já na altura, era pouco, e sem formação, constrói uma Escola Primária, contrata e aloja as professoras e dá o almoço às crianças.
Antes de falecer, faz a referida sociedade por quotas com os filhos, com o objectivo de manter indivisas as suas propriedades. Como o morgadio, embora vantajoso sob esse aspecto, era injusto, estipula ainda que a transmissão de quotas só possa ser feita aos seus descendentes directos.
Sucedeu-lhe seu filho José Menéres que continua o trabalho de seu pai. Cria a Confraria de Nossa Senhora de Jerusalém do Romeu para zelar por um Santuário do século XVI que seu pai encontrara abandonado e reconstruiu, cria a Cooperativa Por Bem para abastecer de mercearia quem cá vive e cria ainda uma Casa do Povo com consultório médico, farmácia e biblioteca, onde também se fez teatro e passaram filmes, numa Máquina Cinematógrafo de 1912 que trabalhou no Cinema Pathé, no Porto, e no Teatro Afonso Sanches em Vila do Conde.
Depois de José falecer, seu irmão Manuel Menéres dá novo impulso ao “Romeu”. Para além de enormes avanços agrícolas, em colaboração íntima com o Prof. J. Vieira Natividade, o seu trabalho mais notável foi a recuperação de três aldeias, Vale de Couço, Vila Verdinho e Romeu, dando condições de habitabilidade e de vida dignas a todos os seus habitantes. Depois de ter gasto praticamente todas as suas economias pessoais, teve ajudas para continuar esse trabalho da então Junta de Colonização Interna e do Ministério das Obras Públicas, no tempo do Engenheiro Arantes e Oliveira. Estava-se nos anos sessenta.
Porque as crianças andavam de pé descalço, e pouco acompanhadas nas aldeias, cria uma creche e um jardim infantil, onde lhes é dado banho, de vestir e de comer. Faz o Restaurante Maria Rita e o pequeno Museu das Curiosidades com peças antigas de família e outras que se lhe foram adicionando por oferta ou direito de idade, e cujas receitas revertem para a manutenção da obra social.
Após o seu falecimento, sucede-lhe seu filho Clemente Menéres que mantém e aperfeiçoa o “Romeu”, conduzindo-o desde os tempos conturbados do PREC até aos desafios da EU.
Vinda da Monarquia, passou ainda esta Casa a Implantação da República, duas Grandes Guerras, uma Revolução e a Integração Europeia.
Actualmente, esta Sociedade tem cerca de 60 sócios, sustenta aproximadamente 35 famílias, e a PAC e a globalização da economia são o cenário onde a acção se desenvolve e que alteram radicalmente a sua escala.
Apesar de catastróficos incêndios florestais, a produção de cortiça continua, o vinho generoso é de excelente qualidade e o azeite é Biológico, com Denominação de Origem Protegida, e uma referência de qualidade tanto em Portugal como no estrangeiro. Foi considerado o melhor da Península Ibérica em 1999 pela revista alemã “Der Feinschmecker”. Vende-se em Portugal, Alemanha, Suiça, Dinamarca, EUA, Japão, etc.
Hoje em dia, a fábrica de rolhas do século passado do Romeu é Museu, a Escola Primária funciona com professores colocados pelo Ministério e está alugada à Câmara Municipal de Mirandela por 360$00 anuais, a ex-Casa do Povo foi reactivada este ano como sala de palestras, a antiga máquina de projectar está no Museu das Curiosidades, as aldeias recuperadas estão mais ou menos degradadas tanto pelo abandono das populações como pelas violações do poder local, o Restaurante Maria Rita é uma referência nos principais guias turísticos nacionais e estrangeiros, as Creches emanciparam-se e são agora uma IPSS dirigida pela Paróquia, este ano com um Centro de Dia novo orientado para apoio domiciliário à terceira idade, que actualmente precisa mais do que as crianças, o Santuário está mais bonito e a Cooperativa é explorada pelo Sr. Toninho que faz as melhores alheiras da região!
A vida desta Casa agrícola não passa, assim, só pela economia ou subsidiologia, mas por um equilíbrio frágil entre cinco vectores fundamentais que é necessário cuidar e harmonizar permanentemente: 1 – o desenvolvimento pessoal e digno de quem dela vive; 2 – a terra ou ambiente; 3 – a técnica e equipamento; 4 – as vendas; 5 – a economia e finanças.

J. P. Menéres
Romeu, 29/9/1999

1 comentário:

  1. Conhecia já a história desta aldeia e da família Menéres. De qualquer forma um texto que nos dá a conhecer as origens e a história de uma das aldeias mais bem preservadas do Distrito.

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