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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 10 de junho de 2012

Dia de Portugal - «Falta uma verdadeira política de defesa da língua portuguesa»


Fazem da língua portuguesa a sua pátria e centro das suas vidas. Através da palavra escrita e dita contribuem, em diversas áreas, para a difusão da Língua de Camões. O ensaísta Eduardo Lourenço, os escritores José Eduardo Agualusa, Lídia Jorge e Fernando Dacosta e a professora Maria do Carmo Vieira falam-nos, numa perspectiva pessoal, sobre o que é hoje esta entidade, com 250 milhões de falantes, denominada Língua Portuguesa. Opiniões a que não escapa o Acordo Ortográfico, as políticas para a língua e os instrumentos de divulgação da mesma, seja a literatura, ou a música popular.
«A minha Pátria é a língua portuguesa». Bernardo Soares, no «Livro do Desassossego».
Para Eduardo Lourenço, ensaísta consagrado e recentemente galardoado com o Prémio Pessoa 2011, «Portugal nunca teve uma verdadeira política de defesa da Língua» e que «se descurou este factor fundamental da identidade de um povo». 
Recorda que «está cansado de repetir sempre o mesmo» sobre a Língua. Ainda assim, insistimos: «o sonho de uma Comunidade de Povos de Língua Portuguesa tem de ser um sonho de estrutura e de amplitude lusíadas. Mas, a verdade, é que nunca foi concretizado. Naquilo que é o espaço universal de uma língua, somos cada um de nós que escolhemos essa forma de viver e sentir, é isso que nos faz povo e Pátria».
O filósofo realça que a língua de Camões «é essencialmente a expressão da sua diferença e é uma realidade onde se constrói a Pátria. Por isso tem de ser defendida, independentemente dos tempos, vontades e do dinheiro». E questiona: «o que restou da nossa presença no mundo? A Língua é o elo essencial como povo e como cultura que somos». 
Edurado Lourenço
Nesta conversa que decorreu ao telefone a partir de França, onde vive desde 1960, Eduardo Lourenço lembra que «ninguém é proprietário da língua e cada falante é o seu guardião». E «se há coisa que já não podemos mudar é que a nossa Língua está entre as mais faladas no Mundo. E isso tem de nos obrigar a protegê-la e a potenciá-la a nosso favor», vinca o professor.
Também a escritora Lídia Jorge considera que a Língua Portuguesa «foi e é o elemento cultural que assenta em dois alicerces da nossa matriz enquanto povo». A autora de «Costa dos Murmúrios» realça que essa base «tanto se vê nos termos da construção identitária construída no espaço europeu, ou naquilo que podemos considerar as diferenças que por ela se teceu e tece nos países colonizados e onde se fez o idioma nacional ou a língua oficial que é o Português».
O jornalista e escritor Fernando Dacosta não tem dúvidas: «a promoção da Língua Portuguesa nos últimos anos em Portugal tem sido feita de forma displicente». E argumenta: «o nosso país nunca teve uma política da Língua Portuguesa e não é agora - que o dinheiro acabou - que vamos ter. A Língua nunca foi vista como um desígnio nacional e foi sempre uma promessa adiada por parte do poder político». 
O autor de «As Máscaras de Salazar» sublinha que o poder em Portugal «esteve sempre perante pressões e nunca se apercebeu que a Língua Portuguesa é um dos maiores valores e mais-valias que temos. Isto só começou a ser compreendido quando os jovens países africanos e antigas colónias portuguesas adoptaram a Língua Portuguesa como língua oficial e elemento aglutinador do seu país», afiança, acrescentando que «os governos vão a reboque e os seus dirigentes têm provado serem ignorantes da literatura, da História e da memória». 
Maria do Carmo Vieira, professora de Português do Ensino Secundário, corrobora da mesma opinião e considera que, «lamentavelmente somos nós próprios a abdicar da potencialidade da Língua Portuguesa em Portugal e no Mundo» e dá o exemplo do que acontece em mestrados de Economia «em que as aulas são leccionadas em inglês, o mesmo acontecendo em reuniões do Conselho Científico». 
«Atitude “provinciana” diria Fernando Pessoa…»
«Também o recente “Manifesto pela Universalidade da Divulgação da Produção Científica” contesta a exclusividade do inglês na publicação de textos científicos, um acto que os promotores consideram de visão curta, parcial e discriminatório, defendendo o uso da língua materna na produção dos referidos textos, o que significa que os cientistas portugueses deveriam escrever em Português», exemplifica.
Por último, a docente recorda «a atitude dos nossos dirigentes em países estrangeiros, nem sempre usando nos seus discursos a Língua Portuguesa e caindo mesmo na tentação algo ridícula de em Espanha usar um espanhol aportuguesado. Atitude “provinciana” diria Fernando Pessoa… Fala-se muito nos mais de 200 milhões de falantes de Língua Portuguesa, mas, na prática, o que se faz?», questiona a professora.
Sobre o ensino da Língua no estrangeiro Maria do Carmo Vieira salienta que «o que temos vindo a assistir é que a sua leccionação tem sido abandonada pelo próprio poder, ainda que demagogicamente insinue que continua a proteger a Língua Portuguesa, sabendo, no entanto, que não existe nenhuma política em relação à Língua». 
«É um facto a extinção de leitorados, bem como de aulas de Português para filhos de emigrantes, actos consumados sem a mínima preocupação política em elaborar estratégias que promovam o ensino da Língua Portuguesa, no Mundo. Sendo o Ministro dos Negócios Estrangeiros a entidade que tutela o Ensino do Português no estrangeiro causa alguma estranheza este comportamento, tendo em conta o gosto que manifesta, inúmeras vezes, em ostentar o seu patriotismo», critica a professora. 
Maria do Carmo Vieira salienta que «vivemos tempos difíceis, o que não impede que se trabalhe, mas como, na realidade, nunca existiu uma política da Língua que não fosse a da sua destruição, custa desbravar o caminho e dar início a um diálogo persistente, por exemplo, entre o Governo português e os governos cujos países possuem comunidades portuguesas, no sentido de acordar estratégias e metodologias que promovam o ensino da Língua Portuguesa». «Afinal para que serve existir um Secretário de Estado das Comunidades?», questiona, dizendo que «o que falta é uma política em defesa da Língua Portuguesa».
O escritor angolano José Eduardo Agualusa considera que «a Língua Portuguesa vai muito bem», já que se «expressa em várias literaturas, mereceu um Prémio Nobel e tem vários escritores com reconhecimento internacional». 
Realça que a música em Língua Portuguesa «atrai gente em todo o mundo. E a música brasileira é a principal razão que leva jovens europeus a quererem aprender português».
Refere que são os escritores que escrevem em Língua Portuguesa que, em larga medida, «deviam fazem o papel de divulgação e sedimentação da língua». 
Mas para o autor de «Nação Crioula», na divulgação «são sobretudo os músicos, de longe» os que fazem mais esse trabalho e garante que «a música popular tem muitíssimo mais força que a literatura».
Agualusa
Considera que Portugal soube desenhar uma política de língua, com apoio às traduções e ao ensino da língua no exterior, que «funciona bastante bem. Esperemos que o Brasil faça um esforço idêntico nos próximos anos», refere o escritor. 
Nos países lusófonos, o interesse pela Língua varia. E Agualusa explica porquê: «interesse quase nenhum na Guiné-Bissau, onde, aliás, nunca se falou português, até ao interesse e à rejeição, em Angola, onde o português, como língua materna, cresce rapidamente, esmagando as línguas indígenas, e suscitando reacções de forte repulsa por parte de algumas das comunidades ameaçadas».
Acordo Ortográfico:
Sobre o novo Acordo Ortográfico, em vigor desde Janeiro de 2009, Eduardo Lourenço está «manifestamente» contra o documento, considerando-o «desnecessário» e revelando «apenas a força que o Brasil tem assumido nos últimos anos», também no caso, «querendo assumir-se como o comandante da Língua Portuguesa». 
Já a professora Maria do Carmo Vieira regressa umas décadas na História para dizer que o Acordo Ortográfico de 1990 «já revelava um interesse colonialista em relação à Língua Portuguesa por parte do Brasil, em função de interesses relativos ao mercado livreiro e não só». 
«Por alguma razão se invocou o número de falantes brasileiros para justificar as alterações propostas, chegando-se ao descalabro de acusar, na Nota Explicativa do Acordo, “a teimosia lusitana” na manutenção das consoantes mudas, fazendo-se tábua rasa da componente cultural da língua, ou seja da sua etimologia. Um exemplo flagrante da “cientificidade” dos argumentos usados em uníssono por portugueses e brasileiros, já que os países africanos de Língua Portuguesa pouco foram ouvidos ou mesmo ignorados», critica.
Diz por isso ser «profundamente contra» este novo Acordo Ortográfico que «está a causar o caos no ensino da língua materna». «Já se vêem professores e alunos a dizer as palavras para ver se “pronunciam” ou não as consoantes mudas; outros, completamente indiferentes, avançam mais do que o estipulado pelo acordo e chovem «setoriais», «impatos», «de fato», «contatos» e «contatar» e até já há alunos que justificam os seus erros ortográficos porque eles pronunciam desse modo as palavras. Na verdade, perdendo-se o sentido da ortografia, perde-se a possibilidade de escrever correcto, no respeito pelas componentes cultural ou etimológica/uso». 
Maria do Carmo Vieira apela a todos os cidadãos para conhecerem então uma iniciativa legislativa de cidadãos que está a recolher as 35 mil assinaturas exigidas para serem entregues na Assembleia da República, com vista à revogação da entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 90. 
Fernando Dacosta é outro crítico que não poupa os que decidiram avançar com o Acordo Ortográfico da Língua. «É uma das maiores imbecilidades que já vi, a todos os níveis, sobretudo, a nível político. Portugal, pelo papel que devia ter na Lusofonia, e pela potência colonial que foi, devia ter-se colocado num papel discreto. Devíamos ter estado um pouco mais na retaguarda, esperar que todos os países de língua oficial portuguesa concordassem e assinassem o Acordo Ortográfico. E só depois de todos eles se entenderem, Portugal então apoiaria a decisão conjunta de todos os países. O que José Sócrates e Pedro Passos Coelho fizeram foi interferir no processo e, subservientemente, colocarem-se aos pés do Brasil, traindo os povos africanos», acusa o escritor, sublinhando que «Portugal cometeu um atentado contra a sua cultura e identidade» com este documento.
Já José Eduardo Agualusa considera que «defender a existência de duas ou mais ortografias num mesmo território linguístico parece-me tão absurdo quanto defendê-la dentro das mesmas fronteiras políticas. Nunca ouvi ninguém defender várias ortografias dentro de Portugal». Agualusa considera, porém, que «falta uma política comum, e falta mais empenho por parte do Brasil».
Lídia Jorge foi a única que preferiu não tecer comentários sobre o novo Acordo Ortográfico.
A Língua: alguns números
De recordar que, em 2010, e de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), falavam Português, em todo o Mundo, 240,52 milhões de pessoas. O Brasil lidera a lista de países onde a língua-mãe é o português com 198 milhões de falantes, prevendo-se que esse número suba para os 335 milhões em 2050 naquele país. 
A Língua de Camões é falada nos cinco continentes, e oficial em oito países (embora coexistindo com outras línguas e dialectos locais): Angola (12,7 milhões de habitantes), Brasil (198,7 milhões), Cabo Verde (429 mil), Guiné-Bissau (1,5 milhões), Moçambique (21,2 milhões), Portugal (10,7 milhões), São Tomé e Príncipe (212 mil) e Timor-Leste (1,1 milhões). 
Dados oficiais indicam que existem mais de cinco milhões de emigrantes portugueses, radicados sobretudo nos Estados Unidos, França, Luxemburgo, Suíça, Inglaterra, Canadá e Venezuela, e uma diáspora brasileira de três milhões de pessoas.
A língua portuguesa é ainda falada em regiões por onde os portugueses marcaram presença ao ao longo da História como Macau, Goa (Índia) e Malaca (Malásia).


Ana Clara
in:cafeportugal.net

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