terça-feira, 7 de julho de 2015

Cidade de Bragança

Distrito pertencente à província tradicional de Trás-os-Montes e Alto Douro. Limita a norte e a leste com Espanha, a sul com o Distrito da Guarda e com o Distrito de Viseu e a oeste com o Distrito de Vila Real. Área: 6608 km². Capital e sede de distrito: A cidade de Bragança.
“Segundo muitos escritores Bragança foi fundada por Brigo lV, rei de Espanha, no ano de 1906 antes de Cristo. O douto Abade de Baçal, porém, refuta essas afirmações dado como lendária a existência desse rei Brigo.
A princípio chamava-se Celobriga, mais tarde Brigâncio ou Brigância.
No tempo dos romanos era Bragança já uma cidade de grande importância, a que Augusto César pôs o nome de Julióbriga, em homenagem
a seu tio Júlio César, que a tinha reedificado e fez município do antigo direito latino.”
(Dr. Rocha Martins 1889).
“Derivou de Briganti, como se vê nos Brigantinos. Não se julgue que não houve outras Brigancias. Quicherat regista uma cidade Brigantia na Gália Cipalpina (hoje Briançon), e também Brigantia, cidade da Vindelícia, região entre os Alpes e o Danúbio.
Todas essas Brigantiae devem ter origem celta. Brigantia passou a Bragança por meio de uma forma Bregança. Talvez que a forma Braga ajudou a passar-se Bregança para BRAGANÇA. (Prof. Dr. Vasco Botelho do Amaral - 1949).
A primeira povoação, bastante importante, foi fundada anteriormente à era cristã. Talvez no ano de 1906 antes de Cristo.
Durante as guerras entre cristãos e mouros foi saqueada e ficou completamente arruinada, tendo sido reconstruída no século Xll, no local onde se encontra actualmente. D. Sancho l concedeu-lhe foral em 1187. D. Fernando ofereceu-a como dote a uma das suas cunhadas, irmã de D. Leonor Teles. Voltou à Coroa e foi dada, como ducado, a um filho natural de D. João l, ficando então definitivamente na posse da Casa de Bragança.
Encravada nas montanhas do Nordeste Transmontano, a antiga Bragança, olha com orgulho, do alto da sua cidadela, todos quanto a ignoram sem que a conhecerem.
Nascida nos confins do tempo, destruída pelas lutas cristãs – islamitas, reconstruída, em território pertencente ao Mosteiro Beneditino de Castro de Avelãs por cedência de outras e quiçá mais vastas áreas, Por Fernão Mendes, cunhado do primeiro rei português, D. Afonso Henriques, Bragança só em 1187, com D. Sancho l, vem a conhecer o primeiro foral.
Ter-lhe-ia sido dado esse foral pela sua afectiva importância militar, uma vez que se situava na linha de fronteiriça com a Galiza ?
Apesar do gesto meio tardio e das contínuas guerras e consequentes devastações que a assolaram, Bragança – ainda que obrigada a render-se aos espanhóis em 1762 e ocupada pelos franceses em 1808 – contra todos se revolta, persistindo em continuar bastião português.
Ducado em 1442, tendo como primeiro duque D. Afonso, filho ilegítimo de D. João l e genro do Condestável, Nuno Álvares Pereira, tornou-se uma das mais importantes casas da Europa. Dela sairão mais tarde alguns dos reis portugueses.
Em 1455, é-lhe concedida uma feira franca, o que revela bem a importância do burgo, e D. Afonso V eleva-a à categoria de cidade em 1466.
Ainda que fracamente impulsionada pelos seus duques, a cidade veio a conhecer relativo desenvolvimento com os Judeus, que nela encontravam acolhimento e “asilo quase seguro”. E, entre os séculos XV e XlX, tornou-se importante centro de cultura do sirgo e da indústria da seda.
O Castelo, com as suas duas cinturas castrenses, pelo interior das quais se estende a cidadela, hoje ainda surpreendentemente bem conservada e habitada, é um dos mais bem preservados de Portugal.
Franqueando os dois arcos da entrada que não conservam já as antigas portas, depara-se-nos a altiva torre de menagem, gótica, com 33 metros de altura e 17 de base, erguida no reinado de D. João l, ao qual a praça – forte aderira com prontidão. Já não existe a ponte levadiça, mas uma enorme porta que, no entanto, não dá acesso à torre. Este faz-se por extensa escadaria exterior, pela qual se pode penetrar em vários pisos. E se, no fundo, se podem ver a cisterna e o ergástulo (cárcere) – de meter medo ao mais bem intencionado forasteiro - , lá no alto, espreitando pelas ameias, de onde, em remotas eras, os defensores davam as boas-vindas aos atacantes com grandes caldeirões de líquidos ferventes (azeites, seiva de pinheiro, etc), poderá agora desfrutar-se uma inolvidável paisagem, do melhor miradouro da cidade.
Como que erguida por mãos diferentes e um pouco apressadas, encontra-se do lado setentrional A Torre da Princesa, que está na origem da lenda tão ciosamente guardada pelo povo.
Segundo a lenda (Linda Princesa):
“ Uma bela princesa, apaixonada por um jovem guerreiro e recusando os pretendentes fidalgos que lhe oferecia seu cruel tio, persistiu em esperar pelo noivo, que, partido para as lides da guerra, já muito tardava.
Entretanto, o tio, servindo-se de um estratagema, tentou provar-lhe que o noivo do seu coração estava morto. Assim, entrou furtivamente no quarto da princesa altas horas da noite, fingindo-se fantasma, para a aconselhar a escolher marido. Mas logo a outra porta do quarto se abriu e um raio de sol o iluminou, vendo-se assim descoberto na sua traição.
Esta é também a origem dos nomes da Porta do Sol e da Porta da Traição. E, embora a lenda erudita reze que a princesa se manteve na sua torre esperando o ansiado noivo, o povo mantém que o Romeu, numa noite tempestuosa, a conseguiu raptar, fornecendo-lhe uma espécie de guarda-chuva com o qual ela se lançou nos braços”.
Dentro da cidadela encontra-se um interessante pelourinho – onde eram amarrados e castigados os réus de grandes delitos – formado por uma coluna encimada com algumas esculturas e cuja base é uma porca toscamente esculpida em granito, à qual ainda hoje se chama “porca da vida”.
Frente ao castelo ergue-se, curiosamente pentagonal, a “Domus Municipalis”, monumento único da arquitectura civil medieva na Península Ibérica e que se pensa ter sido edificada como casa de água, fazendo a cachorraria interior e exterior converter para a cisterna e sua nascente as águas pluviais. Mais tarde, tornando-se o lugar de reunião dos “homens bons” do concelho.
Ainda dentro do castelo poder-se-á apreciar a velhíssima Igreja de Santa Maria, românica, mas na qual se misturam o estilo renascença e o barroco, em consequência da transformação que sofreu aquado da sua reconstrução no século XVlll. Esta é também a época da pintura que se pode ver no tecto da igreja.
Não se pense, porém, que as muralhas do castelo encerram todos os monumentos dignos de ser apreciados na velha cidade.
Rica em arquitectura religiosa – mais do que na civil - , em que os estilo se confundem um pouco mercê das destruições havidas e posteriores reconstruções, oferece-nos, ao descer as ruas que dão acesso à cidadela, a Igreja de São Vicente, primitivamente românica (século Xlll) e reconstruída no século XVll.
Embora o pórtico de acesso seja renascentista, esconde no interior uma capela rica em talha dourada e com uma abóbada pintada e igualmente dourada. À volta da nave, tem interessante azulejaria do século XVll; lateral e exteriormente, encontra-se também um painel de azulejos, alusivo à proclamação, em 1808, do general Sepúlveda contra a ocupação napoleónica. De interesse ainda o artístico fontanário situado na parede deste painel.
Foi nesta igreja, segundo reza a tradição, que teve lugar o casamento secreto de D. Pedro l com D. Inês de Castro, abençoado pelo deão da Sé da Guarda.
A mesma tradição conta que D. Isabel, que se dirigia para Trancoso para a celebração do seu casamento com D. Dinis, pernoitou na até há pouco Igreja de São Francisco (que posteriormente dotou de grandes bens). Esta ao tempo era convento, segundo a tradição edificado na presença de São Francisco de Assis. Mais tarde, foi convertido em hospital militar e ainda, depois, em asilo.
A Igreja de São Bento, padroeiro da cidade, apresenta uma pintura do tecto, atribuida ao pintor religioso Bustamante, considerada uma relíquia do barroco nordestino.
Dignas de atenta observação são a Capela da Casa da Misericórdia, com um retábulo de talha dourada do século XVll, e a velha Igreja de Santa Clara (conventual), onde novamente se confundem o estilo renascença com o barroco, e que possui uma apreciável pintura no tecto, datada do século XVlll.
Na Praça da Sé, aprincipal da cidade, em cujo centro se ergue um interessante e trabalhado cruzeiro, encontra-se a velha Sé – Catedral, templo quinhentista doado aos Jesuítas, que aqui instalaram um colégio até à data da sua expulsão. Pouco depois, este templo foi doado à Mitra de Miranda, mais tarde transferida para Bragança. Também aqui o estilo renascença se deixou infiltrar pelo barroco, sendo de apreciar as suas janelas trabalhadas e, no interior, o arco renascentista, o rodapé de azulejo do século XVll, o retábulo de talha dourada e o tecto da sacristia, apainelado e pintado. A igreja liga com o claustro onde funcionava o colégio jesuíta, mais tarde adaptado a liceu, a que dava vida uma imensa e azougada população flutuante de estudantes. Como curiosidade, há que referir a existência de uma filha da célebre “cabra” de Coimbra (relógio da Universidade coimbrã), que os estudantes brigantinos cognominaram de “cabrita:
“Se Coimbra tem a cabra, / Bragança tem a cabrita. / E em começando as aulas, / Se a mãe berra ... a filha grita”.
Em frente da Sé e representante da arquitectura civil, ergue-se o Solar dos Caladinhos, com uma pedra de armas; pouco mais abaixo, encontra-se a Casa dos Vargas, com uma interessante fiada de varandas com grades de ferro, e a Casa do Arco, também ela velho solar, construída no século XVll, com pedra de armas e uma fachada dupla para duas ruas, ligadas por um curioso arco transversal coberto.
Se o visitante que está a apreciar este interessante arco palmilhar um pouco mais a rua, encontrará o Museu do Abade de Baçal, que se estende por dois andares e pelo jardim do antigo Paço dos Bispos. Nas suas bem recheadas salas podem apreciar-se notáveis obras de arte, desde alabardas da época de Bronze e esculturas zoomórficas pré – romanas a móveis dos séculos XVll e XVlll, retratos, pinturas, faianças, etc.
É certo que muito tempo será necessário para o visitante percorrer o museu e admirar o recheio de todas as salas; mas também é certo que, numa próxima vinda à cidade, não prescindirá de rever o velho museu, que o carinho do abade de Baçal transformou num dos melhores deste país.
Mas a velha urbe transmontana tem mais para oferecer ao visitante. Um passeio pela Estrada do Turismo, ladeada de frondosas árvores, põe agora a cidade a seus pés, numa espectacular policromia, e permite-lhe ainda subir ao cabeço de São Bartolomeu, onde poderá entrar na pequena mas interessante ermida, de onde se desfruta um panorama inesquecível. Depois, percorrendo a estrada do circuito, está-se de regresso à cidade.
Vale ainda a pena descer a Estrada do Sabor e, na sua magnífica praia fluvial, à sombra das árvores, observar os peixes do rio e gozar um sossego cada vez mais raro.
MUSEU DO ABADE DE BAÇAL
Está situado num edifício de sóbrio estilo seiscentista, alterado na primeira metade do século XVlll, (1737), sob a orientação de D. João de Sousa Carvalho, bispo de Miranda; possui um amplo jardim onde se encontra uma valiosa colecção epigráfica luso – romana, que constitui, assim uma secção do museu ao ar livre. A fachada ostenta o brasão de D. João de Sousa Carvalho.
O Museu do Abade de Baçal é, pelas suas características gerais, um museu de arte, arqueologia e etnografia. A data da sua fundação remonta ao último decénio do século XlX e a ideia da sua criação deve-se a um núcleo de ilustres bragançanos, perfeitamente actualizados nas tendências culturais da época, entre os quais o coronel Albino Pereira Lopo. Sob a sua direcção, abriu ao público em 14 de Março de 1807 o Museu Municipal de Bragança, que ficou instalado no edifício dos Paços do Concelho, transitando, mais tarde, para o antigo Paço Episcopal.
O conjunto das peças está dividido pelas seguintes secções: Arqueologia - Epigrafia - Etnografia - Ourivesaria e Paramentos - Mobiliário - Escultura e Artes Decorativas.
Apontamento do Jornal do Comércio do ano de 1900:
“Bragança, capital de Distrito e cabeça de Concelho, tem 5.535 habitantes, está situada à beira do rio Fervença, junto das ruínas da antiga Brigantia. Antiga praça de armas. Deu-lhe D. Sancho 1 o seu primeiro foral em 1187. Tem alguns bons edifícios, um museu de antiguidades e uma casa de câmara, que parece ser edifício românico da alta Idade Média. O concelho tem 49 freguesias e 30.790 habitantes.
O Distrito de Bragança, formado de uma parte da antiga província de Trás-os-Montes, tem uma superfície de 6.510 Km2 e uma população de 185.200 habitantes. Abrange 12 concelhos e 301 freguesias. Os concelhos são: Alfândega da Fé – Bragança – Carrazeda de Anciães – Freixo de Espada à Cinta – Macedo de Cavaleiros – Mirando do Douro – Mirandela – Modadouro . Torre do Moncorvo – Vila Flor – Vimioso e Vinhais. O seu terreno é muito montanhoso e apresenta as serra de: Nogueira (1.321 metros acima do nível do mar) ; Bornes de Montesinho (1.596 m); Coroa (1.270 m); Vinhais (1.027 m). O Distrito é banhado pelos rios Douro, que forma grande parte do limite do do distrito, Sabor , Tua, Rabaçal. Possui ainda muitos terrenos incultos. Produtos agrícolas, vinhos, sericicultura. Costumes e trajos populares muito interessantes. Dialectos locais bem marcados, dentro dos quais se salienta o “mirandês”.
AS FESTAS DO NATAL ( e as máscaras diabólicas)
Na região compreendida entre os concelhos de Freixos de Espada à Cinta, Miranda do Douro e Bragança, intervém um tipo especial de mascarados no ciclo das Festas do Natal: os “caretos”, “chocalheiros” , “zangarrões” – “mascarões”. A despeito de se apresentarem como as personagens mais características, eles actuam, incongruamente, como meros mendicantes ao serviço da igreja, percorrendo as localidades a recolher esmolas, na companhia dos respectivos mordomos.
Em Bemposta (Mogadouro), onde o costume mantém plena vigência, essas personagens saiem nos “dias do chocalheiro”, a 26 de Dezembro a 1 de Janeiro, a partir da meia-noite.
Máscara e indumentária são pertença da aldeia, e durante o ano ficam à guarda da igreja. O cargo de “chocalheiro” é leiloado todos os anos pelo mordomo da festa, mantendo-se os licitantes em segredo, atinge somas por vezes vultuosas e é exercido em cumprimento de promessas.
Na companhia dos mordomos, o “chocalheiro” percorre a freguesia batendo a todas as casas e recolhendo as esmolas que ninguém lhe recusa. Exercendo prerrogativa de excepção, entra não raro nas casas e delas leva o que bem entende, especialmente chouriços.
A sua actuação na rua é insólita e temida, sobretudo pelas mulheres solteiras, com quem permite liberdades licenciosas, e também pelo rapazio, que foge espavorido, gritando com todas as forças: “Vem aí o “chocalheiro” – Vem aí o diabo !”.
De facto ele exibe vários atributos conotados com o diabo, além da máscara, o fato azul mostra uma série de listas brancas e vermelhas, uma caveira pintada nas costas, um rabo de crinas comprido, uma bexiga de porco pendente do capuz e uma figura de serpente a tiracolo.
A tradição local consagra a superstição de que, se alguém morre no dia em que ele deambula pelas ruas, vai para o inferno, o mesmo sucedendo àquele que por ventura morra investido naquela figura. Na verdade, a actuação destes “caretos” denuncia uma personalidade que os situa no domínio do fantástico.
Assumindo inteiramente uma natureza diabólica, a sua aparição impõe pelo terror a presença de um ser que se coloca fora da lei e das convenções, que escapa às normas quotidianas e autoriza o que é interdito. Aos olhos das gentes das raras aldeias em que sobrevivem, aparecem como uma verdadeira entidade mágica, sombria e inquietante, mas necessária. E pode pensar-se que sua aceitação se justifica por conter um sentido vago de protecção da comunidade, sendo através deles que se normalizam certas forças estranhas e difusas que nesse período se crêem desencadeadas.

Lenda da Princesa
Quando a cidade de Bragança era ainda a aldeia da Benquerença, existia uma princesa bela e órfã que vivia com o seu tio, o senhor do Castelo. A princesa tinha-se apaixonado por um jovem nobre e valoroso mas pobre, que também a amava, e que tinha partido para procurar fortuna, prometendo só voltar quando se achasse digno de a pedir em casamento. Durante muitos anos a princesa recusou todas as propostas de casamento até que o tio resolveu forçá-la a casar-se com um nobre cavaleiro seu amigo. Quando a jovem foi apresentada ao cavaleiro decidiu contar-lhe que o seu coração era do homem por quem esperava há 10 anos, o que encheu de cólera o tio que resolveu vingar-se. Nessa noite, o senhor do Castelo disfarçou-se de fantasma e entrando por uma das duas portas dos aposentos da princesa, disse-lhe que esta seria condenada para sempre se não acedesse a casar com o cavaleiro. Quando estava a ponto de a obrigar a jurar por Cristo, a outra porta abriu-se e, apesar de ser de noite, entrou um raio de sol que desmascarou o falso fantasma. A partir de então a princesa nunca mais foi obrigada a quebrar a sua promessa e passou a viver recolhida numa torre que ficou para sempre lembrada como a Torre da Princesa. As duas portas ficaram a ser conhecidas pela Porta da Traição e a Porta do Sol.


Fonte: Diciopédia 2000

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