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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 8 de março de 2016

O Lodo e as Estrelas - Ernesto Rodrigues

O meu Verão de 1975, após um semestre em França, foi dedicado a O Lodo e as Estrelas, do Padre Telmo Ferraz, agora justamente celebrado pelos conterrâneos de Bruçó. Ocupou-me a tal ponto, que só há duas entradas no diário da época:
«31 de Julho. O grupo amador A Máscara estreia O Lodo e as Estrelas, que adaptei da obra homónima [1960] do padre Telmo Ferraz: as condições sub-humanas em que vivem os construtores da barragem de Picote, nos finais de 50.
Vai ser a travessia do distrito, à boleia, dormindo, comendo e representando onde bem calhar. Cai-me o cabelo de um ano pelas costas e a barba não se fica atrás.
Não há outra saída nesta cidade para um verão tórrido e cheio de maus sinais. Extremam-se os sentimentos dos portugueses, enquanto me pergunto se vou estar um segundo ano parado, à espera de entrar na Universidade.
10 de Setembro. Terminámos a digressão, sete mânfios de boa vai ela. Houve de tudo: desde problemas internos a apodos de «comunistas». Servimo-nos de atrelados de tractores, dormimos sobre fardos de palha, lavámo-nos em chafarizes.
Foram 22 sessões, com a peça e respectiva discussão pública precedidas de versos mais ou menos violentos (de poetas argelinos, por mim traduzidos, ao “Cântico Negro” regiano) que eu debitava. Tudo, bom Deus, entre o louvável e o péssimo. Agora, descansando, e cortando sempre, revejo as minhas três peças na gaveta.»
Retrato do Grupo de Teatro A Máscara, com nome impresso nas t’shirts, e uma cena com o capitalista lendo jornal, indiferente ao proletário no lodo, podem ser vistos no blogue de Henrique Martins: são imagens de um tempo em que a juventude intervinha, no ano em que esquerdas queriam alfabetizar à força o Nordeste e direitas incendiavam sedes e automóveis.
 O nosso teatro de guerrilha, por terras onde nunca se vira um palco, talvez deixasse alguma impressão saudável – no título, ao menos, que certos jornais gralhavam como O Iodo e as Estrelas…
Eram textos curtos e fortes, e, como os trabalhadores que para o Douro vinham, prosas deslocadas, o que sobressaltou censores do espírito, sem a flagrante empatia dessas páginas.
A edição tornou-se raridade.
Enquanto isso, noutro palco de guerra, angolano, o padre Telmo Ferraz fazia infinitamente mais do que nós: salvava corpos e almas. Homem de barragens ao medo e à miséria, eu ia sabendo de seu cá e lá, sem a oportunidade de uma longa conversa em que agradecesse livro, entretanto reeditado (1975), convidando a olhar as estrelas. Agradecendo, também, haver uma criatura de Deus tão importante nas nossas vidas.

in:mdb.pt


As fotos a que o Ernesto se refere são as que se seguem:

No Verão Quente de 1975. Tenho Orgulho e... Sinto Saudades...




HM


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