Gritava o tontinho de Além do Rio que esperava o comboio das seis
da tarde. E ria como se fosse dia de festa. Ele sabia que, mais dia menos
dia, os estudantes haviam de chegar. Era Outubro. E os estudantes
sempre lhe davam da merenda da viagem, algumas moedas e
sobretudo muita amizade.
-Pica a burra! Gritavam os estudantes!
-Já vieram os estudantes! Gritava o tontinho. E a estação animou-se
num grande bulício, com dezenas de estudantes de capa e batina,
soldados e caixeiros-viajantes. Os estudantes traziam garrafões de
vinho, sacos com a merenda, os livros e a roupa e sobretudo muita
vontade de regressar à boémia bragançana, depois dum verão quente
e enfadonho passado na aldeia.
Logo seria o 1º de Dezembro. Ainda era cedo para estudar. Ainda
faltava muito tempo para se levantarem cedo e irem para a mata de São
Sebastião empinar a História Universal, as fórmulas de Química ou os
intragáveis textos em latim de Catulo e Virgílio.
Este mês seria de visita às tabernas, de praxe aos calouros, de
cortesias às repúblicas, de serenatas na Praça de São Vicente e de
preparação da récita e do cortejo do 1º de Dezembro.
Margarida ouviu aquela animação e veio à janela que dava para a
estação.
Ali estavam os seus alunos. Pensou ela. Temos que fazer do nosso
Liceu um grande Liceu de homens e mulheres livres, fraternos, sem
preconceitos e sábios.
O MILAGRE DE BRAGANÇA-Romance
Fernando Calado
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