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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A arborização do Concelho de Bragança (1910)

Majestoso panorama!
Montanhas soberbas. crescendo sucessivamente em altura, desdobrando-se em largas e caprichosas ondulações, tendo como fundo de quadro as serras de Montesinho e da Sanabria, cujos cimos parece topetarem com as nuvens! Grandioso e imponentíssimo quadro!
Mas nem só pela feição estética, aliás importante- atenta a influência benéfica que sobre o caráter do homem deve exercer o as peta da região em que vive-. a arborização se recomenda.
Sobrelevam a todas, as considerações de valor económico e de importância higiénica que o arvoredo representa.


As árvores, fixando e amparando a terra pelas raízes e fazendo infiltrar no solo parte das águas pluviais. atenuam os estragos das enxurradas, que, em encostas, de tão forte declive como as que contemplamos, abrem profundas ravinas nuns pontos, deixando em outros a rocha subjacente inteiramente a nu e absolutamente desvalorizada para qualquer cultura.
Bastaria isto para impor a necessidade de povoar os cimos e planaltos destas montanhas, aqui pelo castanheiro, acolá pelo sobreiro, além pelo carvalho. conforme as aptidões geológicas e exposição do solo; pelo freixo e pela nogueira nos vales; pelos choupos  e amieiros nas bordas dos ribeiros e pela vegetação arbusteira e mato rasteiro nos pontos em que a terra, pela sua magreza. não tivesse capacidade para mais.
Não é ainda única a função do arvoredo evitar a devastação da terra pelas torrentes. São noções rudimentares. não ignoradas pelos rapazinhos que fazem exame de 2. 0 grau de instrução primária, as que ensinam que o arvoredo regulariza a humidade do solo e da atmosfera, modera a temperatura, melhora as condições climatéricas e, pela função clorofiliana das folhas, organiza o ar ambiente, salubrizando-o. Acrescente-se o fornecimento de madeiras de construção e de combustível, facilitando o bem-estar e melhorando as condições de vida, e resultará um elenco muito sucinto e incompleto das vantagens económico-higiénicas da arborização.
É certo que, com a nudez arbórea que por este lado nos descontenta, contrasta singularmente o aspeto das montanhas a Oeste da Cidade, regularmente vestidas de arvoredo.
Desde o Castro, seguindo pela Castanheira, Formil, Gostei, Danai, etc., a arborização ostenta-se, ora em maciços, ora esparsa, mas enfeitando mais ou menos o terreno e embelezando a paisagem.
Talvez para explicar tão acentuada diferença no aspeto destas duas regiões, comparadas sob o ponto de vista da arborização, seja lícito aventar a hipótese- inteiramente gratuita é certo -. da influência ancestral dos frades do convento do Castro de Avelãs, que por ali estanciaram por bastante tempo. A minha fantasia compraz-se em visionar o frade por essas longínquas eras. aconselhando umas vezes. impondo outras, a plantação, e inoculando no espírito do lavrador o amor da árvore e a convicção da sua utilidade; o que, de geração em geração e hereditariamente, se transmitiria até à a tua I. Simples devaneio, talvez.
O certo é que por aquele lado a árvore não escasseia; mas mesmo por aí se notam largas manchas de ermo, que outrora foram matas cerradas de carvalho, hoje, mercê do machado destruidor, reduzidas a vegetação rasteira.
No planalto da Serra de Nogueira, onde me levaram obrigações profissionais, vi, há anos. um largo extenso trato de terra, em que o carvalhal pompeou luxuriante e denso, convertido em chão deserto. onde a custo se erguiam moitas de esguios exemplares de carvalho, que em breve, como os seus irmãos mais velhos. seriam decepados.
Lembra-me que o Nordeste, jornal desta Cidade, após a excursão escolar de estudo feita pelos alunos do Liceu de Bragança àquela serra, referiu com assombro e tristeza a existência de vastos espaços da montanha e condições semelhantes ao que vi e tão fundamente me impressionou. Desta descrição, ainda que descolorida, não ressaltará a necessidade de colocar estes largos pedaços de serra sob o regímen florestal, evitando, com tal providência, a depredação total de tamanha riqueza e promovendo, para futuro próximo, o ressurgimento de bosques, que constituirão abundância de benefícios para o Concelho e especialmente para as povoações adjacentes?

Fonte- O Trasmontano. Suplemento da Illustração Trasmontano. fevereiro de 1910

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