As trajectórias dos emigrantes nordestinos não diferem muito em relação às preferências dos emigrantes de Portugal continental, apesar de apresentarem aspectos de conteúdo específicos. A América é o continente que absorve o maior número de emigrantes, cerca de 564 333 indivíduos, 93,27% de um total de 605 034. Dentro deste continente destaca-se o Brasil (tabela n.º 1) que, só por si, absorve 519 989 emigrantes (85,28% do total), apresentando para estes dois decénios valores consideráveis no continente e perante outros continentes.
Comparando a emigração com destino ao Brasil de Portugal continental e do Distrito de Bragança, podemos concluir que os valores absolutos e percentuais de ambas as regiões são significativos. Nos dois primeiros decénios do século XX, a percentagem do distrito foi superior, já que, num universo de 48 160 emigrantes, 93,59% (45 071 indivíduos) se deslocaram para aquele país. O valor percentual é notório: 93,58%, atendendo à escala e dimensão demográfica do distrito (população de facto), calculada segundo os censos da população para 1900 com 185 162 indivíduos, para 1911 em 192 024 e em 1920 com um
decréscimo para 170 302.
Os valores relativos às TBE (Taxa Bruta de Emigração) distrital e continental são também dignos de menção, respectivamente para 1901-1911, 9,69‰ e 5,14‰; para 1912-1920, 17,20‰ e 6,09‰.
As TBE do Distrito de Bragança apresentam valores, em permilagem, superiores aos de Portugal continental, ilustrando, pois, a saída em massa de muitos nordestinos.
No conjunto da comunidade emigrante portuguesa do Brasil, no período 1901-1920, 8,73% é ocupada pelos emigrantes nordestinos. O ano de 1912 é decisivo em termos de valores absolutos para Portugal continental e Distrito de Bragança, tanto para o total dos destinos, 77 745 indivíduos e 11 532 respectivamente, bem como para o caso concreto do Brasil, 72 245 e 11 151 emigrantes, respectivamente. Em termos percentuais, o ano de 1908 é marcante tanto para o Continente como para o Distrito de Bragança. A percentagem dos que se deslocam para o Brasil corresponde, respectivamente, a 97,57% e 98,66% dos emigrantes.
No conjunto da comunidade portuguesa no Brasil, o ano de 1912 absorve 15,43% de emigrantes nordestinos, valor máximo, seguido de 13,49% para 1913. Apenas os anos de 1903, 1906, 1909, 1910 e 1911 se apresentam, para o Distrito de Bragança, com valores percentuais inferiores aos do continente, no tocante ao volume de emigrantes que se deslocam para o Brasil. Curioso também verificar que a partir de 1916 até 1920 a diferença ultrapassa os 20%. A 2ª década do século concentrou a maior percentagem, na qual o ano de 1912 “recolheu os louros” com 11 532 emigrantes. As expectativas que a 1.ª República
alimentara traduziram-se, inversamente, num volume considerável de emigrantes, que alheios a pressões políticas, porque “massa anónima”, abandonaram a terra natal. Apenas a insegurança do período bélico de 1914-1918 contrariou, temporariamente, este fluxo já que, logo a seguir, se transformou num verdadeiro factor de angariação de emigrantes.
1 SERRÃO, 1974: 113
Por: Maria da Graça Lopes Fernandes Martins
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