sábado, 14 de novembro de 2015

Arquivo secreto da diocese Bragança-Miranda revela lado desconhecido do Abade de Baçal

A Diocese de Bragança-Miranda decidiu abrir o arquivo secreto com documentação do último século e encontrou escritos que prometem revelar um lado pouco conhecido de uma das figuras mais destacadas da região, o Abade de Baçal.

A informação foi divulgada esta sexta-feira pelo bispo diocese, José Cordeiro, à margem da abertura do congresso que, na passagem dos 150 anos do nascimento, evoca a vida, obra e pensamento do homem que reuniu as memórias arqueológico-históricas do distrito de Bragança.

"Parte-se do investigador ou do arqueólogo e depois - por consequência - lá se fala do padre. Eu creio que deve ser ao contrário: partir do homem, do cristão, do padre e depois ver como é que este sacerdócio e a sua missão o levou a ser tudo aquilo que nós já conhecemos sobejamente", defendeu José Cordeiro.

O prelado considerou que "as pessoas não dispõem desta documentação, nem sabem (que existe) porque ela não estava ao dispor de ninguém", mas a diocese promete disponibilizá-la logo que esteja concluído o processo de reorganização do secreto que, desde os inícios do século XX não foi tocado.

"Nesta reorganização nós temos uma especial atenção e cuidado a todos os escritos e a tudo aquilo que se refere ao Abade de Baçal, entre outras figuras, porque queremos também dar a conhecer aquilo que é reservado, aquilo é desconhecido e nomeadamente deste grande homem, deste grande padre, além de um grande investigador que é o padre Francisco Manuel Alves", afirmou.

Em causa estão correspondência, requerimentos ao bispo, atividade cultural e responsabilidade na sociedade civil que na altura assumiu e que "será tudo disponibilizado no arquivo diocesano para proporcionar àqueles que são os estudiosos do Abade de Baçal que tenham também acesso a esses textos", logo que esteja concluído o processo.

Francisco Manuel Alves foi pároco em Mairos e Baçal, sendo nesta última paróquia que ganhou o título de Abade, aos 70 anos.

Calcorreou a pé, na companhia do fiel amigo - um cão - o Nordeste Transmontano fazendo um trabalho de pesquisa e recolha arqueológica e das tradições locais perpetuado no legado hoje disponível no Museu Regional do Abade de Baçal e nas publicações de 12 tomos com as memórias arqueológico-históricas do distrito de Bragança.

Ao mesmo tempo que fazia este trabalho, o bispo da época também lhe pediu que fizesse a recolha dos registos paroquiais e de todo o espólio que estava nas paróquias e "foi graças a este trabalho que hoje a diocese tem um arquivo diocesano magnifico e um dos melhores do país ao nível das dioceses".

Morreu aos 82, no cair da folha, como sempre desejou e no mesmo dia, a 13 de novembro, em que foi criado o museu que comemora cem anos.

A data é assinalada no congresso, que decorre durante dois dias, em Bragança, com perto de duas dezenas de oradores entre os quais Joaquim Pais de Brito, que realçou a capacidade do Abade de pegar "no erudito, mas também nas histórias e cultos populares, até tradições de bruxas e feiticeiras, fazendo o inventário sem estar a rir, a criticar, a distanciar-se".

"Cobriu tantos domínios e teve tantos interlocutores e tudo isto chegava a Lisboa e ao Porto através dos grandes mestres da etnografia: José Leite Vasconcelos, em Lisboa, ou Rocha Peixoto, no Porto", apontou.

O etnógrafo realçou que "nenhuma obra das etnografias locais escritas em Portugal, em nenhum sítio se encontra com esta dimensão, com esta multiplicidade de aspetos".

Jornal de Notícias

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