sábado, 14 de novembro de 2015

Natal Transmontano

As Festas dos Rapazes:

A tradição da Festa dos Rapazes cumpre-se ano após ano, com as tropelias dos caretos (rapazes solteiros mascarados), que espalham pelas ruas o espírito festivo. É nesta festa que os rapazes se fazem homens, um ritual pagão que foi assumido pela Igreja Católica com a consagração de Santo Estêvão, o patrono da festa.
A Festa dos Rapazes começa a ser preparada no dia 1 de Novembro (Dia de Todos os Santos), altura em que os mordomos e os rapazes se juntam para ir à lenha, que, posteriormente, é leiloada para recolher fundos para a festa.
Pelas 6 da manhã do dia 25, os rapazes mascarados saem à rua para a alvorada. "Aqui fazem-se três rondas. A primeira é no dia 14, depois fazem outra na noite do dia 24 e a última é no dia 25, logo de manhã cedo. Os rapazes que não forem à ronda têm que pagar uma multa. Noutras aldeias, os rapazes faltosos são castigados nas águas geladas dos tanques ou dos rios, como acontece em Varge, no concelho de Bragança."
As Festas dos Rapazes são um ritual de passagem exclusivo do sexo masculino. Os rapazes vestem-se com fatos de serapilheira às cores, máscaras de latão ou madeira e chocalhos à cintura, realizando os tradicionais desfiles dos "caretos", "chocalheiros" ou "carochos".
Neste ritual de passagem, em que vale tudo, os jovens louvam os mortos, castigam os males sociais e "purificam os habitantes".
Origem:
Segundo o investigador Pinelo Tiza, de Bragança, as Festas dos Rapazes podem remontar aos romanos, nas festas chamadas "Juvenalia", celebradas a 24 de Dezembro. Nestas festas enquadram-se os ritos de passagem, cujo simbolismo se relaciona com a passagem da idade infantil à idade da juventude e executada sob as mais diversas acções que nos induzem a isso mesmo: participação exclusiva dos jovens na festa, provas de resistência física, aplicação de uma disciplina rigorosa, pagamento de multas por quaisquer actos de indisciplina ou outras. Outra das características destas festas é a crítica social e a expurgação, o "ridendo castigat nores". Os mascarados apresentam perante o povo os actos de reprovação e ficando assim a comunidade preparada para dar início a um novo ciclo agrário.
Ao mesmo tempo, os mascarados criam o caos e impõem as suas regras, só e apenas até ao momento para-litúrgico.
As visitas às casas e as saudações são outros dos aspectos destas festas que se voltam a celebrar no Carnaval, com outros rituais, mas que simbolizam o início de um outro ciclo e a entrada na Primavera.
Abade Baçal, no tomo XI (p.40) descreve muitas das Festas dos Rapazes que acontecem no Nordeste Transmontano e que, durante muito tempo, se realizaram à sombra da Igreja, embora anunciadas em honra de um santo, normalmente aquele que melhor se enquadrasse com a data escolhida para a celebração da festa.
Hoje em dia, estão autorizados a participar nestas Festas, rapazes cada vez mais jovens, não estando estabelecida nenhuma idade em especifico para poder participar. Esse é um factor que se fica a dever não só a um início cada vez mais precoce da puberdade, mas sobretudo à desertificação humana do Interior e, sobretudo, das aldeias onde estas tradições ainda resistem.
Culto ao Fogo:
Outros cultos que permanecem estão relacionados com o fogo. Em várias povoações rurais fazem-se enormes fogueiras, chamadas "Fogueira do Galo", para celebrar o Natal ou o Ano Novo.
Também é tradição preparar um ramo de árvore composto por doces, frutas, fumeiro e cigarros, bens recolhidos porta-a-porta pela povoação. Esse ramo é depois arrematado e comido pela população como forma de celebrar a chegada do novo ano. Por norma, o arremate é feito entre grupos de solteiros e casados, cabendo, depois, ao grupo vencedor, organizar a festa e determinar se o outro grupo, de solteiros ou casados, pode participar ou não.
Mas mais polémica é a tradição de Vale Salgueiro, em Mirandela, onde a passagem da idade infantil para a idade adulta é assinalada com a distribuição de cigarros a crianças. Nesse dia, as crianças podem fumar e, pese embora as campanhas anti-tabaco, esta é uma tradição que continua a realizar-se ano após ano no Dia de Reis.
Tradições gastronómicas:
No que diz respeito à alimentação, é tradição, no dia de Natal, comer o polvo e o bacalhau cozido, com batatas, grelos e rabas cozidas, tudo bem regado com azeite da região.
À mesa não faltam as tradicionais filhoses de abóbora, as rabanadas, a aletria doce, e o bolo-rei.
Nestes últimos anos, as pastelarias locais começaram a inovar a receita do bolo-rei sendo já tradição o bolo-rei de castanha ou de chila.
No dia de Ano Novo, a tradição manda comer o cabrito assado no forno, mas em muitas casas é, também, neste dia que se prova o fumeiro.

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