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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 19 de abril de 2016

SERRA DAS MEMÓRIAS

A estrada serpenteada da Serra do Marão foi conduzida durante décadas e décadas por Transmontanos e visitantes. Já nessa altura se registavam muitos acidentes que assinalavam o seu lado negro e violento.
Aqui e ali, imensas filas de carros a aguardar, entre ravinas, a chegada dos bombeiros para desobstruir a estrada. O som das ambulâncias ecoava no silêncio sepulcral. Sabíamos o perigo daquela estrada e em alguns lugares era assustadoramente evidente. Encostas inteiras, muitas vezes fustigadas pelo fogo, permaneciam inalteradas anos e anos. A insegurança era vivida com preocupação pelos adultos, mas sempre desvalorizada pelas crianças.
Os momentos de descanso interrompiam a exaustão da viagem. Recordo com saudade, as merendas à sombra do arvoredo, os piqueniques nas fontes naturais, a excelente água da Serra, a família reunida nas longas horas de viagem entre Mirandela e o Porto e no caminho de regresso. O dia de viagem começava bem cedo. A minha Avó Alaíde preparava os “tupperwares” dos bolos de bacalhau, os rissóis e os panados, acompanhados com o pão da D. Inês, as laranjadas tang em arcas frigorificas coloridas coincidiam com a frescura dos dias. Em agosto, depois da noite dos Bombos, partíamos habitualmente para o mês de férias nas Caxinas. A carrinha Toyota Hiace transportava-nos bem repleta, até ao destino final. No Marão repetiam-se as curvas contracurvas, solavancos e demoras sucessivas, pela passagem de um camião maior.
O Marão sempre caraterizou as nossas gentes e o nosso território. Como Miguel Torga bem apreciou em um Reino Maravilhoso: “Vê-se primeiro um mar de pedras. Vagas e vagas sideradas, hirtas e hostis, contidas na sua força desmedida pela mão inexorável dum Deus criador e dominador. Tudo parado e mudo. Apenas se move e se faz ouvir o coração no peito, inquieto, a anunciar o começo duma grande hora. De repente rasga a espessura desembainhada: - Para cá do Marão, mandam os que cá estão!.... Sente-se um calafrio. A vista alarga-se de ânsia e de assombro. Que penedo falou? Que terror respeitoso se apodera de nós?”
Da Serra, memórias permanecerão inalteradas em todos os Transmontanos. Umas boas, outras assustadoramente más. Muitos anos passaram e, finalmente, estamos a dias de inaugurar o Túnel do Marão. Um sonho concretizado, uma mais-valia óbvia para todos – e são muitos, que “passam o Marão”. Um investimento que terá o óbvio retorno para o desenvolvimento socioeconómico do interior, fundamental para a coesão territorial.
Ainda a este propósito, recentemente, um amigo do Minho abordando o custo excessivo pela paragem da obra, garantia que o túnel não era necessário, porque não havia pessoas. Dizia ele que “Era um investimento avultado, para ficar às moscas”. Fiquei surpreendida pela ignorância. Defendia, como contraponto e com unhas e dentes, uma fábrica de pneus da Continental Mabor, em Vila Nova de Famalicão que estava sem acessos e onde trabalhavam 3.000 pessoas. Havia que estabelecer prioridades, dizia o Senhor. Expliquei-lhe depois a necessidade do Túnel e o potencial de crescimento regional que poderá catapultar. Das memórias da Serra ficará o eterno horizonte e o silêncio sepulcral. O pior e o melhor dos Mundos no mesmo Marão. Felizmente, a serra das memórias manter-se-á viva.

Júlia Rodrigues
in:noticiasdonordeste.com

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