Versão A:
No alto do monte erguia-se uma torre que era habitada por uma linda princesa moura, afamada pelas suas extraordinárias riquezas e ainda mais pela sua beleza incomparável. Quando algum cavaleiro se dirigia às sentinelas da torre, solicitando licença para falar à princesa, as sentinelas, trazendo o consentimento da castelã, traduziam-no invariavelmente pela fórmula: A dona chama.
Cavaleiro que entrasse na torre na torre não tornava a sair. Um denodado cavaleiro, mais feliz do que os outros, porque logrou sair são e salvo do empreendimento de que tantos nunca escaparam, pôde, depois de adormecida a princesa, tirar-lhe de um dedo um anel; levantou-se da cama com todo o cuidado para não a acordar e, chegando até às sentinelas que lhe quiseram embargar a passagem, mostrou-lhes o anel, sinal certo de indissolúvel aliança. Convencidas as sentinelas deixaram-no passar. A princesa, depois de acordada, não vendo o cavaleiro, gritou pelas sentinelas, que a informaram do sucedido.
– Está descoberto o meu segredo! – exclamou a princesa, ficando em seguida encantada juntamente com os seus tesouros.
A princesa, como era incontinente, recebia sempre os cavaleiros que a procuravam; depois para que não descobrissem o seu segredo – a princesa tinha pernas de cabra –, mandava-os matar. Se não fosse a astúcia do último cavaleiro, nunca se alcançaria saber que a linda moira que habitava a torre era Dona Chamorra, pernas de cabra, cara de senhora.(34)
Versão B:
A origem da vila de Torre de Dona Chama tem relação com a lenda de uma moura rica, poderosa e bela, que ocupava os seus dias em grande luxúria, seduzindo os homens e tornando-os objecto dos seus jogos de amor. Depois, para tentar preservar o pudor, mandava-os matar, com a justificação de que a haviam molestado na sua honra.
Um dia, Dona Chama – assim era conhecida – atraiu aos seus encantos um jovem cavaleiro, cristão, dotado de grande astúcia e inteligência, que depressa percebeu a teia perversa em que, pela sedução, estava sendo enredado.
Por isso, aceitou, na aparência, todos os jogos de amor e paixão de Dona Chama, mas, logo que a sentiu adormecida no leito, ergueu-se em silêncio, retirou-lhe de um dos dedos o valioso anel que simbolizava a sua honra, e abandonou sorrateiramente os aposentos.
Ao passar pelos criados, exibiu o anel dizendo que lhe fora emprestado pela senhora para que servisse de salvo-conduto à saída e à entrada do castelo. Ninguém lhe pôs, por isso, qualquer entrave.
Contudo, o jovem saiu e já não voltou mais, e a bela moura, ao acordar pela manhã, levou tempo a acreditar e a aceitar que fora, pela primeira vez, enganada por um homem. Pela primeira vez, também, sentia-se prisioneira de uma paixão. Por isso, mandou todos os criados procurar o jovem, por terras próximas e longínquas, e ofereceu alvíssaras aos habitantes da zona para que o procurassem também. – Trazei-o até mim, por favor, pois tenho de recuperar o anel! – justificava a moura, fazendo crer que outra coisa não desejava senão fazer justiça pelo roubo a que fora sujeita.
Em vão. Nem o jovem nem o anel apareceram mais. À frustração amarga de um amor desencontrado, Dona Chama juntava agora a desonra de ter perdido definitivamente o anel. Por isso, dali a dias, não conseguindo suportar o desgosto, a moura pôs o lindo vestido que usara no dia em que atraiu o jovem, penteou os longos cabelos, soltos e sedutores, e, por fim, cravou no peito um pequeno punhal, lançando-se para a morte na cisterna do castelo.
Durante muito tempo, o povo dizia ouvir os suspiros e gemidos da bela moura, que provinham do fundo da cisterna.(35)
(34) Esta versão é a que consta igualmente nas Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança do Abade de Baçal (Alves, 1934: 457)
(35) Das duas versões aqui apresentadas, a segunda é a mais próxima das referências que a ela encontrámos nas Memórias Paroquiais de 1755. (apud, Azevedo, 1903: 216.
Fonte – versão A: LOPO, Joaquim de Castro – "Excursão à Torre de Dona Chama", in O Aqueólogo Português, Vol. 1, nº 9, Lisboa, 1895, pp. 235-236. Fonte – versão B: PARAFITA, Alexandre – O Maravilhoso Popular – Lendas. Contos. Mitos., Lisboa, Plátano
Editora, 2000, pp. 167-168.
Número total de visualizações do Blogue
Pesquisar neste blogue
Aderir a este Blogue
Sobre o Blogue
SOBRE O BLOG:
Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço.
A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)
(Henrique Martins)
COLABORADORES LITERÁRIOS
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.
terça-feira, 11 de outubro de 2016
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário