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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

A lenda de Dona Chama

Versão A:
No alto do monte erguia-se uma torre que era habitada por uma linda princesa moura, afamada pelas suas extraordinárias riquezas e ainda mais pela sua beleza incomparável. Quando algum cavaleiro se dirigia às sentinelas da torre, solicitando licença para falar à princesa, as sentinelas, trazendo o consentimento da castelã, traduziam-no invariavelmente pela fórmula: A dona chama.
Cavaleiro que entrasse na torre na torre não tornava a sair. Um denodado cavaleiro, mais feliz do que os outros, porque logrou sair são e salvo do empreendimento de que tantos nunca escaparam, pôde, depois de adormecida a princesa, tirar-lhe de um dedo um anel; levantou-se da cama com todo o cuidado para não a acordar e, chegando até às sentinelas que lhe quiseram embargar a passagem, mostrou-lhes o anel, sinal certo de indissolúvel aliança. Convencidas as sentinelas deixaram-no passar. A princesa, depois de acordada, não vendo o cavaleiro, gritou pelas sentinelas, que a informaram do sucedido.
– Está descoberto o meu segredo! – exclamou a princesa, ficando em seguida encantada juntamente com os seus tesouros.
A princesa, como era incontinente, recebia sempre os cavaleiros que a procuravam; depois para que não descobrissem o seu segredo – a princesa tinha pernas de cabra –, mandava-os matar. Se não fosse a astúcia do último cavaleiro, nunca se alcançaria saber que a linda moira que habitava a torre era Dona Chamorra, pernas de cabra, cara de senhora.(34)

Versão B:
A origem da vila de Torre de Dona Chama tem relação com a lenda de uma moura rica, poderosa e bela, que ocupava os seus dias em grande luxúria, seduzindo os homens e tornando-os objecto dos seus jogos de amor. Depois, para tentar preservar o pudor, mandava-os matar, com a justificação de que a haviam molestado na sua honra.
Um dia, Dona Chama – assim era conhecida – atraiu aos seus encantos um jovem cavaleiro, cristão, dotado de grande astúcia e inteligência, que depressa percebeu a teia perversa em que, pela sedução, estava sendo enredado.
Por isso, aceitou, na aparência, todos os jogos de amor e paixão de Dona Chama, mas, logo que a sentiu adormecida no leito, ergueu-se em silêncio, retirou-lhe de um dos dedos o valioso anel que simbolizava a sua honra, e abandonou sorrateiramente os aposentos.
Ao passar pelos criados, exibiu o anel dizendo que lhe fora emprestado pela senhora para que servisse de salvo-conduto à saída e à entrada do castelo. Ninguém lhe pôs, por isso, qualquer entrave.
Contudo, o jovem saiu e já não voltou mais, e a bela moura, ao acordar pela manhã, levou tempo a acreditar e a aceitar que fora, pela primeira vez, enganada por um homem. Pela primeira vez, também, sentia-se prisioneira de uma paixão. Por isso, mandou todos os criados procurar o jovem, por terras próximas e longínquas, e ofereceu alvíssaras aos habitantes da zona para que o procurassem também. – Trazei-o até mim, por favor, pois tenho de recuperar o anel! – justificava a moura, fazendo crer que outra coisa não desejava senão fazer justiça pelo roubo a que fora sujeita.
Em vão. Nem o jovem nem o anel apareceram mais. À frustração amarga de um amor desencontrado, Dona Chama juntava agora a desonra de ter perdido definitivamente o anel. Por isso, dali a dias, não conseguindo suportar o desgosto, a moura pôs o lindo vestido que usara no dia em que atraiu o jovem, penteou os longos cabelos, soltos e sedutores, e, por fim, cravou no peito um pequeno punhal, lançando-se para a morte na cisterna do castelo.
Durante muito tempo, o povo dizia ouvir os suspiros e gemidos da bela moura, que provinham do fundo da cisterna.(35)


(34) Esta versão é a que consta igualmente nas Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança do Abade de Baçal (Alves, 1934: 457)
(35) Das duas versões aqui apresentadas, a segunda é a mais próxima das referências que a ela encontrámos nas Memórias Paroquiais de 1755. (apud, Azevedo, 1903: 216.

Fonte – versão A: LOPO, Joaquim de Castro – "Excursão à Torre de Dona Chama", in O Aqueólogo Português, Vol. 1, nº 9, Lisboa, 1895, pp. 235-236. Fonte – versão B: PARAFITA, Alexandre – O Maravilhoso Popular – Lendas. Contos. Mitos., Lisboa, Plátano
Editora, 2000, pp. 167-168.

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