Versão A:
Diz a tradição que, onde hoje se encontra a vila de Torre de Dona Chama, habitou outrora uma princesa moura que mandou construir uma torre num morro, de onde avistava tudo à volta. E na torre colocou uma sineta com a finalidade de chamar para as refeições as gentes que trabalhavam nos campos.
Havia assim o hábito de, sempre que ouviam tocar a sineta, dizerem as pessoas:
– Vamos lá, que a dona chama!
E daqui nasceu o nome da povoação.
Mas as pessoas antigas também dizem que a moura vivia com uma criada que era muito faladora e que gostava de ir conversar com as pessoas da povoação. A patroa, quando dava pela sua falta, tocava a sineta da torre e então a criada dizia para as pessoas:
– Tenho que ir, que a dona chama!
Há quem diga que foi assim que nasceu o nome de Torre de Dona Chama.
Versão B (Dona Chamôrra):
Dona Chamôrra era uma princesa moura muito bela e rica, mas ambiciosa e má. Tinha o seu castelo no monte mais alto de uma povoação que ela dominava e onde os habitantes eram seus escravos, entregando-lhe todo o ouro que arranjavam no dia a dia. E para que não se esquecessem de subir ao monte a entregarem-lho, ela ia à torre do castelo e tocava três vezes num enorme gongo de ouro. O som ecoava nas redondezas e cá em baixo o povo dizia:
– Vamos, que a Dona Chama!
E assim a moura amontoava riquezas e mais riquezas no seu castelo, ao mesmo tempo que o povo passava fome.
Até que um dia o povo se cansou de tantos sacrifícios e, após reunião de todos, decidem revoltar-se contra a tirania da moura: deixaram de lhe levar mais ouro. Ela bem tocava no gongo, mas o povo... nada.
Ela então, incapaz de lutar contra todos, e adivinhando que a seguir lhe iriam buscar o ouro ao castelo, resolve vingar-se à sua maneira. Agarra no ouro todo que tinha e enterra-o num poço bem fundo com uma enorme pedra em cima. E ao lado abre outro poço e enche-o de peste, cobrindo-o com uma pedra igual. De maneira que os poços não se diferençavam.
Foi depois à torre do castelo, tocou três vezes para chamar o povo e disse:
– Vou desaparecer, mas vós nada lucrareis com isso. Quem tentar encontrar o poço onde está o ouro enterrado, arrisca-se a encontrar o poço de peste e, se tal acontecer, morrereis todos. Por isso, se pobres estais, pobres ficareis.
E o povo, conformado, retorquiu:
– Pelo menos, somos livres!
Diz-se que os poços ainda lá estão com as respectivas pedras em cima. E que ninguém se atreve a ir lá procurar o tesouro.
Versão C (O roubo dos burros):
Contavam os mais antigos que os mouros, noutros tempos, viviam na torre da vila e dali mandavam em todas estas terras à volta. A mulher do rei mouro, que era muito má, quando queria chamar as pessoas para que fossem trabalhar para ela, tocava uma sineta e as pessoas então diziam:
– A dona chama! A dona chama!
E destas palavras ficou o nome Torre de Dona Chama.
Um dia, o povo, farto de ser mandado pelos mouros, pediu ao rei cristão que viesse libertá-lo daquele jugo. O rei cristão veio no dia da festa da terra e resolveu pôr em prática um plano infalível. Mandou convidar o rei mouro para a cerimónia da bênção do pão, ao que este acedeu, comparecendo com toda a sua guarnição.
E, como a torre ficou então desprotegida, o rei deu ordens aos populares para que, enquanto decorriam as cerimónias, fossem lá e roubassem todos os burros aos mouros que era a única cavalaria de que dispunham.
E, com esta cavalaria, o povo ganhou a batalha, tomou o castelo e expulsou os mouros da povoação.
Fonte – versão A: Inf.: Maria Beatriz Pires Pereira, 52 anos; rec.: Vilar de Ouro, Mirandela, 2001. Fonte – versão B: Inf.: Ana Maria Bernardo, 45 anos; rec.: Torre de Dona Chama, Mirandela, 2001.
Fonte – versão C: PARAFITA, Alexandre – “Ritualização da guerra em Trás-os-Montes – O roubo dos burros”, in Revista Loa, n.º 19, Março 2004, Bragança, N-Meios, p. 5.
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