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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Memórias Orais - Carlos Neto

Vai acompanhando de perto o esvaziamento da sua aldeia. Quando fez a 4ª classe as salas enchiam-se de alunos. Hoje só as paredes de uma antiga escola que não voltará a funcionar. “Éramos quatro salas cheias de rapazes e raparigas. Quatro salas, havia quatro professores. Agora estão vazias.”
A mãe de Carlos Neto faleceu cedo de mais e ele teve que ajudar o pai nos ofícios. Até ir para a tropa conheceu todos os campos que rodeavam Lagoaça, por onde andou com o gado e onde ajudava o pai nas lides da agricultura, não havia preferências, fazia o que aparecesse, diz. 
Depois de se alistar na Marinha embarcou para Moçambique onde esteve ano e meio. Até à Independência. “Andávamos no mar na costa toda de Moçambique, do Norte a Lourenço Marques, agora é Maputo, e o nosso trabalho era no cargueiro auxiliar da marinha de guerra, levávamos as tropas que iam daqui do Continente que iam daqui até Aveiro, de barco e nós com o outro barco é que as levávamos por mar até ao norte de Moçambique e vice-versa, quando acabavam no Norte trazíamo-las para Aveiro”. Soube da Revolução de Abril dentro de um barco quase em segredo e confessa que não percebeu muito bem do que se tratava. Os tempos por Moçambique eram iminentes e Portugal estava cada vez mais longe.
Carlos Neto acabaria por regressar e ingressou na GNR. Depois de fazer serviço pelo país ficou em Figueira de Castelo Rodrigo mais de vinte anos como efetivo, até à reforma. “Nunca fui apologista de vir aqui próximo da terra por causa dos amigos”. Regressou a Lagoaça, “à terra de que mais gosta” há 15 anos e por lá vê os seus dia. Estabeleceu-se na agricultura e é Tesoureiro na Junta de Freguesia onde diz que “tem que se atender às pessoas da melhor forma possível e resolver os assuntos”. Daqui consegue ver as necessidades da aldeia que sobretudo culminam na falta de jovens. Esses que desde cedo fogem para onde o futuro não seja tão incerto... Lagoaça por enquanto vai sendo “um deserto”, diz, ou calmaria como quando se vê de longe o voo da águia no Miradouro da Cruzinha.


Texto: Joana Vargas

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