Por: Manuel Eduardo Pires
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Falei há tempos noutro texto dos incêndios para dizer mais ou menos o que vou dizer agora. E tal como agora para nada, eu só queria mesmo desabafar. Por estes dias anda tudo aflito, e com razão, com o que está a acontecer: gasto de recursos, aflições, perda de bens, feridos, mortos. Animadas até mais não pelas televisões, mil vozes opinam, protestam, indignam-se, ameaçam, condenam e propõem duas mil soluções durante dois ou três dias, até que chova, se lá chegarem. Desses, mil novecentos e noventa e nove exige e não faz nada, até porque não sabe que fazer. E realmente ninguém sabe. Tal como na matemática, na vida em geral há problemas que não têm solução. Este parece-me ser um deles.
Era eu garoto e já ouvia os velhos dizer “em setembro, secam as fontes e ardem os montes”, sabedoria popular acumulada por gerações: na bacia do mediterrâneo, à medida que os verões longos e sem chuva avançam, a humidade do ar, do solo e das plantas diminui drasticamente, e aconteça o que acontecer basta uma chispa para que as chamas levem tudo pela frente. A bem dizer pirómanos nunca faltaram. Nem descuidados. O pior é que por essa altura, mais ou menos, houve quem tivesse tido a triste ideia de começar a arrancar a floresta autóctone para a substituir por uma espécie arbórea importada do outro lado do mundo, o eucalipto, uma espécie que evoluiu no árido clima australiano e aprendeu a sobreviver nele. Apesar de produzir sucessivas camadas de casca que secam rapidamente e a sua folhagem conter óleos altamente inflamáveis que atraem o fogo como um íman, isso é-lhe indiferente. Não apenas o suporta bem, como até beneficia com ele. O calor liberta as sementes dos invólucros e facilita a germinação. A cinza que deixa para trás é o melhor fertilizante. Os troncos queimados ganham rebentos ao fim de poucos dias.
Os “técnicos” da época omitiam isto e diziam o que lhes convinha: que as árvores tinham crescimento rápido e davam elevado retorno aos donos das terras. E a eles também, claro. Já então havia alertas. Lembro-me, só para dar um exemplo, de Gonçalo Ribeiro Teles, de boa memória. E não apenas ele. Aqui perto, em Valpaços, pelos anos oitenta, se não erro, houve pancadaria da boa entre a GNR e as populações que se opunham ao eucaliptal. Salvou-se o termo de Valpaços, mas o lucro e a estupidez prevaleceram. De resto a CEE, carente de pasta de papel, incentivava-nos com subsídios tentadores.
Ao cabo de uns anos, milhões de pessoas descobriram às suas custas estarem no meio de uma ratoeira que dispara repetidamente e da qual não podem sair. Hoje, quem com alguma sensibilidade e bom senso, mesmo que não saiba puto de ecologia, atravesse a zona centro do país, só o pode fazer arrepiado, benzendo-se, com o credo na boca. Para esses, aquilo que está a acontecer por estes dias não surpreende. E agora rien à faire a não ser tentar minimizar os estragos. É escusado cair em enganos. Na hora do aperto finge-se que sim, mas não há solução. Nada poderá já erradicar essa peste que em má hora nos invadiu, um crime ambiental a somar a tantos outros. Admiro-me de ver as pessoas admirarem-se com os incêndios há quatro décadas e não posso deixar de pensar que ou estão distraídas, ou não atingem, ou pior, estão de má-fé. Penso nas celuloses, que colocam os seus “investigadores” bem pagos a invocar um sem número de “estudos” que “provam” aquilo que elas querem. Aconteceu com as petrolíferas. Durante anos e anos, fartas de saber que o CO2 libertado pelos escapes dos automóveis era veneno, vinham dizer na comunicação social o contrário do que os seus estudos realmente concluíam.
Era eu garoto e já ouvia os velhos dizer “em setembro, secam as fontes e ardem os montes”, sabedoria popular acumulada por gerações: na bacia do mediterrâneo, à medida que os verões longos e sem chuva avançam, a humidade do ar, do solo e das plantas diminui drasticamente, e aconteça o que acontecer basta uma chispa para que as chamas levem tudo pela frente. A bem dizer pirómanos nunca faltaram. Nem descuidados. O pior é que por essa altura, mais ou menos, houve quem tivesse tido a triste ideia de começar a arrancar a floresta autóctone para a substituir por uma espécie arbórea importada do outro lado do mundo, o eucalipto, uma espécie que evoluiu no árido clima australiano e aprendeu a sobreviver nele. Apesar de produzir sucessivas camadas de casca que secam rapidamente e a sua folhagem conter óleos altamente inflamáveis que atraem o fogo como um íman, isso é-lhe indiferente. Não apenas o suporta bem, como até beneficia com ele. O calor liberta as sementes dos invólucros e facilita a germinação. A cinza que deixa para trás é o melhor fertilizante. Os troncos queimados ganham rebentos ao fim de poucos dias.
Os “técnicos” da época omitiam isto e diziam o que lhes convinha: que as árvores tinham crescimento rápido e davam elevado retorno aos donos das terras. E a eles também, claro. Já então havia alertas. Lembro-me, só para dar um exemplo, de Gonçalo Ribeiro Teles, de boa memória. E não apenas ele. Aqui perto, em Valpaços, pelos anos oitenta, se não erro, houve pancadaria da boa entre a GNR e as populações que se opunham ao eucaliptal. Salvou-se o termo de Valpaços, mas o lucro e a estupidez prevaleceram. De resto a CEE, carente de pasta de papel, incentivava-nos com subsídios tentadores.
Ao cabo de uns anos, milhões de pessoas descobriram às suas custas estarem no meio de uma ratoeira que dispara repetidamente e da qual não podem sair. Hoje, quem com alguma sensibilidade e bom senso, mesmo que não saiba puto de ecologia, atravesse a zona centro do país, só o pode fazer arrepiado, benzendo-se, com o credo na boca. Para esses, aquilo que está a acontecer por estes dias não surpreende. E agora rien à faire a não ser tentar minimizar os estragos. É escusado cair em enganos. Na hora do aperto finge-se que sim, mas não há solução. Nada poderá já erradicar essa peste que em má hora nos invadiu, um crime ambiental a somar a tantos outros. Admiro-me de ver as pessoas admirarem-se com os incêndios há quatro décadas e não posso deixar de pensar que ou estão distraídas, ou não atingem, ou pior, estão de má-fé. Penso nas celuloses, que colocam os seus “investigadores” bem pagos a invocar um sem número de “estudos” que “provam” aquilo que elas querem. Aconteceu com as petrolíferas. Durante anos e anos, fartas de saber que o CO2 libertado pelos escapes dos automóveis era veneno, vinham dizer na comunicação social o contrário do que os seus estudos realmente concluíam.
Manuel Eduardo Pires. Estes montes e esta cultura sempre foram o meu alimento espiritual, por onde quer que andasse. Os primeiros para já estão menos mal, enquanto a onda avassaladora do chamado progresso não decidir arrasá-los para construir sabe-se lá o quê, mas que nunca será tão bom. A cultura, essa está moribunda, e eu com ela. Daí talvez a nostalgia e o azedume naquilo que às vezes digo. De modo que peço paciência a quem tiver a paciência de me ir lendo.
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