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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Tudo a arder

Por: Manuel Eduardo Pires
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
 
Falei há tempos noutro texto dos incêndios para dizer mais ou menos o que vou dizer agora. E tal como agora para nada, eu só queria mesmo desabafar. Por estes dias anda tudo aflito, e com razão, com o que está a acontecer: gasto de recursos, aflições, perda de bens, feridos, mortos. Animadas até mais não pelas televisões, mil vozes opinam, protestam, indignam-se, ameaçam, condenam e propõem duas mil soluções durante dois ou três dias, até que chova, se lá chegarem. Desses, mil novecentos e noventa e nove exige e não faz nada, até porque não sabe que fazer. E realmente ninguém sabe. Tal como na matemática, na vida em geral há problemas que não têm solução. Este parece-me ser um deles.
 Era eu garoto e já ouvia os velhos dizer “em setembro, secam as fontes e ardem os montes”, sabedoria popular acumulada por gerações: na bacia do mediterrâneo, à medida que os verões longos e sem chuva avançam, a humidade do ar, do solo e das plantas diminui drasticamente, e aconteça o que acontecer basta uma chispa para que as chamas levem tudo pela frente. A bem dizer pirómanos nunca faltaram. Nem descuidados. O pior é que por essa altura, mais ou menos, houve quem tivesse tido a triste ideia de começar a arrancar a floresta autóctone para a substituir por uma espécie arbórea importada do outro lado do mundo, o eucalipto, uma espécie que evoluiu no árido clima australiano e aprendeu a sobreviver nele. Apesar de produzir sucessivas camadas de casca que secam rapidamente e a sua folhagem conter óleos altamente inflamáveis que atraem o fogo como um íman, isso é-lhe indiferente. Não apenas o suporta bem, como até beneficia com ele. O calor liberta as sementes dos invólucros e facilita a germinação. A cinza que deixa para trás é o melhor fertilizante. Os troncos queimados ganham rebentos ao fim de poucos dias.
 Os “técnicos” da época omitiam isto e diziam o que lhes convinha: que as árvores tinham crescimento rápido e davam elevado retorno aos donos das terras. E a eles também, claro. Já então havia alertas. Lembro-me, só para dar um exemplo, de Gonçalo Ribeiro Teles, de boa memória. E não apenas ele. Aqui perto, em Valpaços, pelos anos oitenta, se não erro, houve pancadaria da boa entre a GNR e as populações que se opunham ao eucaliptal. Salvou-se o termo de Valpaços, mas o lucro e a estupidez prevaleceram. De resto a CEE, carente de pasta de papel, incentivava-nos com subsídios tentadores.
 Ao cabo de uns anos, milhões de pessoas descobriram às suas custas estarem no meio de uma ratoeira que dispara repetidamente e da qual não podem sair. Hoje, quem com alguma sensibilidade e bom senso, mesmo que não saiba puto de ecologia, atravesse a zona centro do país, só o pode fazer arrepiado, benzendo-se, com o credo na boca. Para esses, aquilo que está a acontecer por estes dias não surpreende. E agora rien à faire a não ser tentar minimizar os estragos. É escusado cair em enganos. Na hora do aperto finge-se que sim, mas não há solução. Nada poderá já erradicar essa peste que em má hora nos invadiu, um crime ambiental a somar a tantos outros. Admiro-me de ver as pessoas admirarem-se com os incêndios há quatro décadas e não posso deixar de pensar que ou estão distraídas, ou não atingem, ou pior, estão de má-fé. Penso nas celuloses, que colocam os seus “investigadores” bem pagos a invocar um sem número de “estudos” que “provam” aquilo que elas querem. Aconteceu com as petrolíferas. Durante anos e anos, fartas de saber que o CO2 libertado pelos escapes dos automóveis era veneno, vinham dizer na comunicação social o contrário do que os seus estudos realmente concluíam.


Manuel Eduardo Pires
. Estes montes e esta cultura sempre foram o meu alimento espiritual, por onde quer que andasse. Os primeiros para já estão menos mal, enquanto a onda avassaladora do chamado progresso não decidir arrasá-los para construir sabe-se lá o quê, mas que nunca será tão bom. A cultura, essa está moribunda, e eu com ela. Daí talvez a nostalgia e o azedume naquilo que às vezes digo. De modo que peço paciência a quem tiver a paciência de me ir lendo.

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