O lagar de ouro de Algoso
Diz-se que em Algoso há, num certo sítio, um tesouro encantado, deixado pelos mouros. E que o tesouro é nada mais nada menos que um lagar de ouro. Contam os antigos que um dia, para o desencantar, foi lá um padre com o povo fazer rezas e esconjuros, daí resultando o aparecimento do diabo, sentado na ponta do peso do lagar.
E também se diz que o diabo tinha uma cara muito feia, e que se pôs a dizer:
– O tesouro aqui está. Onde quereis que vo-lo apresente?
Tanto o povo como o padre, ao verem a focinheira do dito, desataram a fugir em debandada e não quiseram mais saber do tesouro. Dizem que ainda lá está, mas que ninguém se atreve a procurá-lo.
Fonte: Inf.: Inês Rosa Fundo Afonso Martins, 44 anos; rec.: Vimioso, 1999.
O pente e o cabelo da moura
Na aldeia de Frades, do concelho de Vimioso, há um local chamado Puio, onde se conta que, numa certa manhã de Primavera, andava um pastor com o seu rebanho, e que, ao chegar a hora de comer a merenda, dirigiu-se, com o farnel às costas, para junto da fonte que hoje se chama Poço da Moura.
Depois de comer a merenda, ia beber água, mas, ao chegar à fonte, viu lá uma princesa a pentear-se com pente de ouro. Ela então procurou-lhe:
– Ó pastor, o que é mais lindo: o meu pente ou o meu cabelo?
O pastor pôs-se a olhar bem e a pensar, e por fim respondeu-lhe:
– São lindos os seus cabelos, mas o pente sempre é melhor.
Ela então encheu-se de desgosto e lançou-se à água, para não mais ser vista.
Diz-se que o pastor, ao preferir o pente, lhe dobrou o encanto. E também se diz que em manhãs de S. João outros têm sentido ali um tear a tecer. Pensa o povo que é a moura mais o seu encanto, e, daí, àquela fonte deram o nome de Poço da Moura.
Fonte: Inf.: Inês Rosa Fundo Afonso Martins, 44 anos; rec.: Vimioso, 1999.
Lenda do Penedo da Abrunheira
Em Santulhão, no concelho de Vimioso, há um lugar chamado Abrunheira, junto ao rio Sabor, que tem um grande penedo, onde, segundo a tradição, aparece nas manhãs de S. João uma moura encantada a tecer num tear de ouro e a guardar um valioso tesouro.
Diz o povo que antigamente o penedo estava do lado de Paradinha Nova, do concelho de Bragança. E então uns rapazes, que andavam à procura do tesouro, encontraram lá um escrito que dizia:
– Quem este penedo volver, achará um grande haver.
Como o penedo era muito grande e pesado, foram chamar todos os rapazes de Santulhão, e, todos à uma, lá conseguiram volver o penedo. E quando o viraram encontraram outro escrito que dizia assim:
– Deus seja louvado, que já estou do outro lado!
O tesouro que os rapazes esperavam encontrar nunca apareceu. Diz o povo de Santulhão que esse tesouro é a paisagem única, e extraordinariamente bela, que dali se avista.
Fonte: Inf.: Francisca Teresa Fernandes Moreno, 47 anos; rec.: Bragança.
O bruxo do castelo de Algoso
Há muitos e muitos anos, contavam os nossos avós, o castelo de Algoso era dos mouros e vivia lá um bruxo muito rico, que tinha andado a juntar muito ouro e muitas jóias.
Um dia, os cristãos resolveram tomar o castelo e expulsar os mouros. Então o bruxo, como era adivinho, soube deste ataque, e, horas antes, saiu do castelo com o tesouro para, sorrateiramente, ir enterrá-lo ao pé de uma fonte ali perto.
Quando estava nestes trabalhos, eis que lhe aparece uma rapariga, que ia buscar água à fonte com uma cantarinha de barro. Então o bruxo, com receio de que a moça denunciasse o seu segredo, tratou logo de a encantar com as suas artes mágicas. E disse:
– Em cobra ficarás encantada, p'ra que andes sempre de boca calada!
Assim aconteceu. A moça lá ficou junto àquela fonte transformada em cobra.
Depois os cristãos tomaram o castelo aos mouros, matando uns e expulsando outros, e do bruxo nunca mais se soube nada.
Diz o povo que, em noites de S. João, há quem tenha visto junto ao castelo uma jovem muito bela a dançar ao luar, achando-se, sobre as pedras da fonte, a pele de cobra que despe por momentos. E quando alguém se aproxima para tentar ir à fala com ela, logo a jovem desaparece e volta para a água da fonte, arrastando consigo a pele que a vai transformar de novo numa horrível cobra.
Fonte: Inf.: António Augusto Fernandes, 72 anos; rec.: Algoso, Vimioso, em 2001.
Mouros Míticos em Trás-os-Montes – contributos para um estudo dos mouros no imaginário rural a partir de textos da literatura popular de tradição oral
Alexandre Parafita
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