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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Mais algumas Lendas do Concelho de Vimioso

O lagar de ouro de Algoso

Diz-se que em Algoso há, num certo sítio, um tesouro encantado, deixado pelos mouros. E que o tesouro é nada mais nada menos que um lagar de ouro. Contam os antigos que um dia, para o desencantar, foi lá um padre com o povo fazer rezas e esconjuros, daí resultando o aparecimento do diabo, sentado na ponta do peso do lagar.
E também se diz que o diabo tinha uma cara muito feia, e que se pôs a dizer:
– O tesouro aqui está. Onde quereis que vo-lo apresente?
Tanto o povo como o padre, ao verem a focinheira do dito, desataram a fugir em debandada e não quiseram mais saber do tesouro. Dizem que ainda lá está, mas que ninguém se atreve a procurá-lo.

Fonte: Inf.: Inês Rosa Fundo Afonso Martins, 44 anos; rec.: Vimioso, 1999.

O pente e o cabelo da moura

Na aldeia de Frades, do concelho de Vimioso, há um local chamado Puio, onde se conta que, numa certa manhã de Primavera, andava um pastor com o seu rebanho, e que, ao chegar a hora de comer a merenda, dirigiu-se, com o farnel às costas, para junto da fonte que hoje se chama Poço da Moura.
Depois de comer a merenda, ia beber água, mas, ao chegar à fonte, viu lá uma princesa a pentear-se com pente de ouro. Ela então procurou-lhe:
– Ó pastor, o que é mais lindo: o meu pente ou o meu cabelo?
O pastor pôs-se a olhar bem e a pensar, e por fim respondeu-lhe:
– São lindos os seus cabelos, mas o pente sempre é melhor.
Ela então encheu-se de desgosto e lançou-se à água, para não mais ser vista.
Diz-se que o pastor, ao preferir o pente, lhe dobrou o encanto. E também se diz que em manhãs de S. João outros têm sentido ali um tear a tecer. Pensa o povo que é a moura mais o seu encanto, e, daí, àquela fonte deram o nome de Poço da Moura.

Fonte: Inf.: Inês Rosa Fundo Afonso Martins, 44 anos; rec.: Vimioso, 1999.

Lenda do Penedo da Abrunheira

Em Santulhão, no concelho de Vimioso, há um lugar chamado Abrunheira, junto ao rio Sabor, que tem um grande penedo, onde, segundo a tradição, aparece nas manhãs de S. João uma moura encantada a tecer num tear de ouro e a guardar um valioso tesouro.
Diz o povo que antigamente o penedo estava do lado de Paradinha Nova, do concelho de Bragança. E então uns rapazes, que andavam à procura do tesouro, encontraram lá um escrito que dizia:
– Quem este penedo volver, achará um grande haver.
Como o penedo era muito grande e pesado, foram chamar todos os rapazes de Santulhão, e, todos à uma, lá conseguiram volver o penedo. E quando o viraram encontraram outro escrito que dizia assim:
– Deus seja louvado, que já estou do outro lado!
O tesouro que os rapazes esperavam encontrar nunca apareceu. Diz o povo de Santulhão que esse tesouro é a paisagem única, e extraordinariamente bela, que dali se avista.

Fonte: Inf.: Francisca Teresa Fernandes Moreno, 47 anos; rec.: Bragança.

O bruxo do castelo de Algoso

Há muitos e muitos anos, contavam os nossos avós, o castelo de Algoso era dos mouros e vivia lá um bruxo muito rico, que tinha andado a juntar muito ouro e muitas jóias.
Um dia, os cristãos resolveram tomar o castelo e expulsar os mouros. Então o bruxo, como era adivinho, soube deste ataque, e, horas antes, saiu do castelo com o tesouro para, sorrateiramente, ir enterrá-lo ao pé de uma fonte ali perto.
Quando estava nestes trabalhos, eis que lhe aparece uma rapariga, que ia buscar água à fonte com uma cantarinha de barro. Então o bruxo, com receio de que a moça denunciasse o seu segredo, tratou logo de a encantar com as suas artes mágicas. E disse:
– Em cobra ficarás encantada, p'ra que andes sempre de boca calada!
Assim aconteceu. A moça lá ficou junto àquela fonte transformada em cobra.
Depois os cristãos tomaram o castelo aos mouros, matando uns e expulsando outros, e do bruxo nunca mais se soube nada.
Diz o povo que, em noites de S. João, há quem tenha visto junto ao castelo uma jovem muito bela a dançar ao luar, achando-se, sobre as pedras da fonte, a pele de cobra que despe por momentos. E quando alguém se aproxima para tentar ir à fala com ela, logo a jovem desaparece e volta para a água da fonte, arrastando consigo a pele que a vai transformar de novo numa horrível cobra.

Fonte: Inf.: António Augusto Fernandes, 72 anos; rec.: Algoso, Vimioso, em 2001.

Mouros Míticos em Trás-os-Montes – contributos para um estudo dos mouros no imaginário rural a partir de textos da literatura popular de tradição oral

Alexandre Parafita

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