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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

RECORDANDO O PASSADO…EM BRAGANÇA

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..."

Fecho os olhos, e vejo. – Como vejo, Deus meu! – Vejo, o passado, que passou; vejo, sonhos bons, que não pude ou não soube realizar. Vejo: injustiças, ingratidões, aleivosias, dos que julgava serem amigos… mas não eram.
Vejo melhor quando cerro os olhos, e caio em sonolência, que é um dormir acordado.
A velhice, também, tem encantos, e momentos de alegrias e de amarguras: umas vezes, o passado surge pintado a cores garridas, cheio de risos e sol; outras vezes, tudo fica negro, negro como a noite negra; e a alma constrangida, entristece e chora.
No turbilhão da vida, encontrei enganos e desenganos; e, também, grandes ingratidões: que enlutaram a alma, enchendo-a de amarguras e tristezas desinquietantes.
Em Bragança – que saudosas recordações tenho dessa cidade! – encontrei  almas simples, boas e amigas, que nunca as pude esquecer. Pensei serem amizades para sempre… mas a vida separou-nos.
Em derradeira tentativa, ainda procurei reatar o ténue fio que restava; não consegui: vaidades, desprezos, orgulhos, indiferenças – sei lá! – quebraram o barbante que julgava unir o passado ao presente. Por certo não sabiam, nem sabem, que a amizade, é o maior bem, se for sincera e desinteressada.
Nunca foi tão fácil, como agora, comunicar, mesmo quando extensas distâncias separam: o telefone, a Internet, aproxima. Todavia nunca houve tanta solidão! … Tanta falta de humanidade! … Tanta ingratidão! …
Egoísmo? Talvez. Pensam: “ Se não necessito do auxilio monetário; da influência que teve na coletividade; para quê telefonar-lhe? Para quê enviar-lhe e-mail amigo, se ele, agora, é velho, doente, insignificante?! …
Nas horas de solidão – e são tantas! … – penso, no que: ouço, vejo e leio. Penso, também, nos que já partiram; e nos que ainda não partiram…mas é como tivessem partido…
Penso, nas alegrias que passei (recordando o tempo de outrora) e na angustia, que senti, ao ver-me injustiçado no BC3, que estava em construção, e tudo por falta de carácter, por mentira, de quem tinha medo da verdade…
Penso, também, na vida pacata e rotineira, que levava nessa amorosa cidade transmontana: Nas tardes aconchegantes, no Café “ Lisboa”; mais tarde, no velho e elegante “ Chave d’Douro”.
E, igualmente, nas quentes noites de Verão, passadas no jardim, à beira do tranquilo Fervença, onde os jovens namoravam e deambulavam, placidamente, embalados por românticas canções, quase sempre, de Roberto Carlos.
Penso, com o coração apertado de saudade, na casa acolhedora – meu refugio predileto, – onde Senhora e Mãe, recebia-me sempre com afetuoso e singelo sorriso, nos lábios, e palavras maternais, que acalentavam o coração entristecido.
Tudo desapareceu. Primeiro: as pessoas, que conheci e cavaqueei, nas longas e frias noites de Inverno, ao redor das brasas rubras, da fuliginosa pedra do lar, quando a neve caia, em rolão, e o frigidíssimo vento da Sanábria, parecia fazer talhos na epiderme enregelada…
Depois: a cidade…
Pouco restou do passado: alguns edifícios; algumas ruas alindadas; e a velhíssima e vetusta cidadela, com o castelo imponente e a senhorial Domus Municipalis.
Numa tépida noite de Verão – recordo, como se fosse hoje! - assisti, encantado, no castelo, à exibição do grupo de dança: “ Verde Gaio”, que deveras impressionou-me.
Certa ocasião – como me lembro! … - chegou a Bragança, famoso ilusionista, que possuía dons especiais: dirigia, de olhos vendados, uma viatura; e mostrou ser extraordinário hipnotizador, no Cine-Teatro, perante a admiração do público.
Nessa recuada época – e já lá vai meio século! … –  as novidades eram poucas. As conversas versavam, em regra: mexericos: falava-se de namoros, das meninas do Magistério, e dos militares. Os mais velhos, e mais sisudos, comentavam programas da RTP, e falavam de negócios.
Em 1969, assisti, com o Sr. Manuel do “Café Lisboa”, à chegada do Apolo II, a solo lunar; e recordo ter visto (a preto e branco,) a imagem esfumada, de Neil Armstrong, a cravar, na superfície rugosa da Lua, a vistosa bandeira Americana.
Em horas de descanso, enquanto o sono não me domina: penso, medito, recordo, o tempo que foi, e já não é…
Imensa tristeza abate-se, então, na alma, ao lembrar-me, que tudo, que presenciei: cenas, episódios, conversas, que animaram a velha cidade, desapareceram, como se nunca tivessem acontecido…
Jamais voltarão as amenas e saudosas tardes de domingo no “ Floresta”; os aprazíveis passeios à pousada; as cavaqueiras “eruditas”, como encarregado da Biblioteca Itinerante, em modesta tasquinha, bebericando vinho com gasosa.
Tudo pertence ao passado. Passado que se esfumou, diluindo-se em saudade, e morrerá, para sempre, quando eu partir – ai de mim! – para a eternidade.
E um tumulto de pensamentos e imagens, de saudosas nostalgias, em ondas de tristeza e ternura, invade-me a alma, constrangida… como forasteira, na própria Pátria.

Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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