SOBRE O BLOGUE:
Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço.
A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também... (Henrique Martins)
COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022
Caretos de Podence | Entrudo Chocalheiro
Os caretos, figuras diabólicas mascaradas, saem pelas ruas de Podence no Carnaval, à procura de raparigas incautas. Saiba mais sobre este Entrudo, que é chocalheiro e património da Humanidade
Dos caretos de Podence se diz que são misteriosos e irreverentes. Que não podem ver um rabo de saias. Os chocalhos de latão pendurados, como um símbolo de virilidade, são usados para “chocalhar” as raparigas, de preferência solteiras. E os miúdos mais pequenos, os facanitos, seguem-lhes as pisadas (já vão participando meninas também).
Esta tradição ancestral, possivelmente com raízes celtas, permitia alguns excessos depois do longo e silencioso Inverno, celebrando a Primavera, um novo ciclo de fertilidade. Se o Carnaval de Podence esteve em risco, nos anos 1960, por causa da guerra colonial e da emigração, regressou em força nos anos oitenta. Ainda hoje os rapazes mascarados saem pelas veredas, em cabriolas barulhentas, frenéticas e imprevisíveis.
A pacata aldeia de Podence, meros 14 quilómetros quadrados cravados no centro do distrito de Bragança, transforma-se durante o Carnaval. As duas centenas de habitantes recebem milhares de pessoas, muitas delas emigrantes que regressam apenas durante este período.
Nos últimos anos, o número de visitantes multiplicou-se, graças à classificação do Entrudo Chocalheiro pela UNESCO. E a aldeia enfeitou-se para os receber, com murais e decoração alusiva aos caretos. Vamos saber mais sobre este Carnaval típico do nordeste transmontano?
O que são os caretos
Os caretos são expressões da cultura popular de Trás-os-Montes e da província espanhola de Zamora, o que denuncia, para estas celebrações, uma origem anterior à formação das nacionalidades. Caracterizam-se por trajes e máscaras que garantem o anonimato. E são protagonistas nas chamadas Festas do Inverno, que se estendem entre o solstício do Inverno e o Carnaval, em zonas rurais.
Existem caretos em toda a região transmontana – em Lazarim (concelho de Lamego), ou em Ousilhão (Vinhais), por exemplo – mas os de Podence distinguem-se pelos seus chocalhos. Daí o nome da festa ser “Entrudo chocalheiro”.
Os caretos de Podence usam mantas de lã quentinhas, com franjas bem coloridas, feitas artesanalmente: cada fato pode custar cerca de 800 euros. Mas o disfarce não fica completo sem a bizarra máscara pintada, de couro ou metal, sem os chocalhos e os paus, usados em lutas imaginárias.
Na última visita à região, conheci a oficina de dois artesãos, à porta da aldeia de Podence, que fazem fatos e máscaras. Até pintei uma, experiência que relatei em Macedo de Cavaleiros | Trilhos, geossítios e caretos.
Tradição que é Património da Humanidade
Os caretos de Podence entraram na lista de Património Imaterial da Humanidade da UNESCO em 2019, juntando-se ao fado, ao cante alentejano, à louça preta de Bisalhães e outras deliciosas idiossincrasias portuguesas.
As “Festas de Inverno – Carnaval de Podence” foram a única candidatura seleccionada pelo Governo para representar Portugal naquele ano.
O Careto de Podence é conhecido pelo seu comportamento performativo, “as chocalhadas” de que são alvo principal as mulheres, um ato simbólico que remete para uma origem remota e uma possível ligação a antigos rituais agrários e de fertilidade.
Hoje, estes mascarados, que visitam as casas de vizinhos e familiares, num ritual de convivialidade, são sobretudo emigrantes, constituindo-se, por isso, o Entrudo Chocalheiro como um momento essencial da vida dos descendentes de Podence, que regressam no Carnaval para dar continuidade à prática que herdaram de pais e avós.
Entrudo Chocalheiro de Podence
Os Caretos de Podence (apenas com membros do sexo masculino) organizaram-se em associação cultural e criaram um espaço museológico: a Casa do Careto. Estes homens de fatos com capuz de cores garridas e máscara de nariz saliente já fizeram soar os seus chocalhos de norte a sul do país, mas também na Disney em Paris, no Carnaval de Nice e de Viareggio (Itália), na Alemanha, em Espanha e até em Macau.
A sua missão inclui a organização do Entrudo Chocalheiro. Durante os quatro dias (Sábado a terça-feira) há muitas actividades disponíveis: caminhadas, passeios de BTT, exposições, concertos, feira de produtos tradicionais, raids fotográficos e animação de rua.
Mas os momentos mais importantes do Carnaval de Podence são os casamentos a fingir (Domingo Gordo), o desfile e a cerimónia da Queima do Entrudo, uma grande fogueira que queima um diabólico boneco de palha, momento dramático que anuncia o final da festa (Terça-feira de Carnaval).
Dicas úteis sobre o Carnaval de Podence
Onde ficar
Podence fica no concelho de Macedo de Cavaleiros, a cerca de 30 km a sul de Bragança. A aldeia fica próxima da linda albufeira do Azibo, onde existe algum alojamento. Veja aqui onde dormir em Podence.
Tenha em atenção que a oferta hoteleira esgota rapidamente no período do Carnaval, sugere-se reservar com antecedência. Na viagem a Macedo de Cavaleiros fiquei hospedada na Casa da Fraga, na freguesia macedense de Ferreira, um alojamento local muito charmoso, que recomendo vivamente.
Onde comer em Podence
Existem alguns restaurantes que servem comida tradicional, como alheiras e os casulos, em sopa ou cozido. Mas os habitantes de Podence têm o hábito de usar a parte de baixo das casas (antigamente ocupadas pelos animais) como restaurantes/bares improvisados, onde servem refeições ou simples petiscos. Há também as habituais tasquinhas, em vários pontos da aldeia.
Sem comentários:
Enviar um comentário