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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

O EXAME DA QUARTA

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
 
A primeira, segunda e terceira classes tinham prova no final do ano. A cópia, o ditado, a redação e a resolução de problemas eram primorosamente executados numa folha de trinta e cinco linhas dobrada na borda esquerda. Era nessa borda que a examinadora (eram raros os professores primários) colocava a classificação e o veredito final da passagem ou reprovação. Começava de manhãzinha, todos os alunos muito arranjadinhos, alguns estreavam fatiota nova e, a meio da tarde, sabidos os resultados era altura de festejar com laranjada e bolachas de baunilha.
Na quarta havia exame.
Era um marco e, como tal, a preparação era maior bem como toda a envolvente a começar pela fatiota. As meninas faziam tranças e caracóis e enfeitavam-se com rendas e laços. A validação do conhecimento e aptidão era feita em Moncorvo e também isso contribuía para dar maior solenidade ao acontecimento.
Agora acabou!
Sei bem que desse tempo, a par de boas recordações há, sem dúvida, erros e defeitos que urgia modificar e remediar. Não só pelo que já na altura estava já errado como pelo que o tempo tornou obsoleto e anacrónico. A terrível palmatória e as restantes e humilhantes punições físicas e morais há muito que deveriam ter sido erradicadas. Numa época de calculadoras e computadores não se justificará, por certo, a memorização mecânica e repetitiva da tabuada e outras papagueações sobejamente conhecidas. Mas não me é fácil entender que nessa revoada vá, por arrasto, a exigência de rigor, qualidade e esforço cognitivo. Que tem, suponho eu, que ser devidamente medido e certificado. É bom notar que entre o oito e o oitenta existe uma enorme gama de variantes e gradações possíveis.
Sem dúvida que é bom que os alunos se sintam bem na escola e que nela sejam felizes. Mas esse desiderato não pode impedir tudo o resto e tudo o resto é muito e muito importante. A escola é a fábrica dos profissionais do futuro. Aos que hoje clamam pelo fim dos exames de forma generalizada gostaria de os convidar a refletir comigo:
- É natural que um médico que tenha sido um aluno feliz, me atenda melhor no seu consultório, mas eu prefiro que ele tenha aprendido adequadamente as ciências da natureza e da vida e que essa aprendizagem tenha sido certificada!
- Igualmente será simpático ser atendido por um mecânico com um percurso escolar agradável, mas eu quero confiar a reparação dos travões do meu carro a quem tenha aprendido e saiba aplicar as leis fundamentais da mecânica.
- Por mais atencioso que o funcionário bancário seja, não prescindo da garantia que ele sabe somar adequadamente, antes de lhe entregar as minhas pequenas economias.
- Não duvido que um piloto de avião possa melhorar o ambiente a bordo se o percurso escolar tiver sido cumprido com agrado, mas dificilmente entraria numa aeronave em que o seu condutor para além de conhecer minimamente a geografia do planeta saiba distinguir bem os graus do ângulo de ataque aerodinâmico, dos graus da temperatura exterior à cabine de pilotagem e da graduação do vinho servido a bordo.
Custa-me a crer que haja quem pense de outra forma!

José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance), Canto d'Encantos (Contos) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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