Mário Correia |
Uma das principais vocações do CMTST é o tratamento, catalogação e disponibilização de recolhas sobre as tradições transmontanas, através de um conjunto "muito alargado de materiais" que vão desde a imagem, som e fotografias, até a uma biblioteca com mais de seis mil livros de temas como etnomusicologia, antropologia, história, filosofia ou política e, claro, língua mirandesa.
"Isto é um centro de estudo e investigação, não é um museu por onde as pessoas passam de visita. O espólio do CMTST é composto basicamente pelo registo da tradição oral, bibliografia desses fonogramas e claro, passa sempre pela língua mirandesa, para ser estudada", explicou à Lusa o diretor do CMTST, Mário Correia.
O CMTST tem sede na vila de Sendim, no concelho de Miranda do Douro, distrito de Bragança, sendo um espaço de visita de estudantes e investigadores, de diversas áreas do saber, que procuram "a identidade deste território através dos cantares ou da música de raiz tradicional".
"O centro é o fiel depositário das recolhas feitas neste território, que vão desde as danças, passando pela música tradicional e cancioneiro popular, porque faz registo e arquivo para memória futura, já que vivemos um tempo de 'desruralização' e despovoamento das aldeias do interior", frisou o também investigador.
Quem entrar no espaço cultural, depressa se apercebe que vai visitar e "entranhar-se" nas vivências da "peculiar" cultura do Nordeste Transmontano, com particular incidência nas Terras de Miranda, que se estendem pelo concelhos de Bragança, Miranda do Douro, Mogadouro, Freixo de Espada à Cinta e Vimioso, dos quais o centro reúne todo um conjunto de recolhas.
"Há pouco tempo, constatei que mais de metade dos meus informantes já falecerem desde 1981 e até agora. Quando um idoso morre 'é uma biblioteca que desaparece'. Actualmente a tradição oral já não tem os mesmos circuitos e é preciso deixar legados para o futuro, para que a tradição se mantenha", enfatizou Mário Correia.
Olhando um pouco para o passado, o investigador apercebe-se de que já não há fiadoras, e cantigas da cegada ou rezas e ladainhas vão desaparecendo. "Hoje não é possível recolher este património. O facto de, ao longo de 18 anos, o ter registado é muito importante", vincou.
Mário Correia lembra que as recolhas efectuadas por um dos ícones da cultura mirandesa, o padre António Maria Mourinho, foram todas digitalizadas no CMTSTM, o que constitui uma "legado único" para o panorama cultural do Planalto Mirandês e para o país.
O centro é visitado por investigadores europeus do programa Erasmus e por investigadores de várias universidades portuguesas, para fins de conhecimento e investigação etnomusical.
Quem conhece o dia-a-dia do centro, refere que há pessoas que passam por Sendim para se inteirarem do espólio e conhecerem o seu legado. "Este representa uma mais-valia para a vila de Sendim, já que aqui estão depositadas muitas horas de recolha, investigação e, com este trabalho, muitas das nossas tradições foram recuperadas", indicou Maria Albino, uma das vizinhas das instalações do CMTST.
Altino Martins, outro morador de Sendim, também ligado à realização de eventos culturais, frisa que é muito importante trabalhar com este equipamento. "Nunca pensei que, nos últimos 20 anos, o diretor do CMTST fosse capaz de criar empatia com os sons da nossa terra. Este equipamento é uma mais-valia não só para o Nordeste Transmontano, mas também para todo os pais", observou.
Há, porém, mais números a ter em conta, do acervo do CMTST, que está ao dispor da comunidade científica e da população em geral tais como 575 DVD, com recolhas de tradições portugueses e estrangeiras, aos quais se juntam 67.570 fonogramas, de discos a cassetes analógicas.
Os arquivos em suporte em VHS são 227 e o centro conta ainda com registos de Michel Giacometti e recolhas feitas por Judith Cohen, de comunidades de cripto-judeus. Todos estes trabalhos, feitos pelo centro de musica, estão ao dispor dos investigadores e também para edição.
Agência Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário