Por: Fernando Calado
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Ontem foi dia de plantar a horta. Como quem diz: micro horta. As alfaces, os aipos, as cebolas, as beringelas, os feijões, os tomates, os pimentos, as melancias e os melões até se riem para a gente! Louvado seja Deus!
Os vizinhos passam… sorriem… e só dizem: - Então anda a trabalhar muito?!
Afastam-se… mas leio-lhe os pensamentos:
- Que andará este a fazer… a brincar às hortas»?!
Na verdade um aldeão que se urbanizou não percebe nada de hortas, das fases da lua e do bom manejo, preciso, rigoroso, do sacho a traçar linhas retas como quem faz uma pintura.
Entendo os meus vizinhos e quase peço desculpa pelo atrevimento.
Mas eu tinha que fazer esta horta, em tua memória, minha mãe, que todos os anos, por esta altura, antes de ires para as novenas da Senhora da Serra, fazias a nossa imensa horta lá para os lados de Valdeguimbra… Vinha o sol, o poço enchia-se de água cristalina para as infindas regas… e a horta produzia, milagrosamente, para sustento da família e dos animais que reclamavam comida. Depois regressavas a cassa… o sol era um braseiro… vinhas cansada… vermelha… mas feliz… a burra carregava a fartura para os teus e para os pobres.
… Louvado seja Deus!
… depois o sol levou-te… o poço calou-se… o pintassilgo estranhou-te e as rãs no ribeiro coaxaram dolorosamente…
… hoje ofereço-te a minha micro horta que se chama: “HORTA EUGÉNIA MINGA”
… e cada legume e cada fruto serão os teus olhos de mãe a sorrir:
- Meu filho tu nunca percebeste nada de hortas! Vai estudar! E sorrias maternamente.
… porque te estás a rir, Eugénia?!
… que dia tão bonito e o sol já beija a tua horta… o amor existe!
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
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(Henrique Martins)
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