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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 15 de setembro de 2018

De que estão à espera, suas majestades, para darem uma volta ao Douro?

O Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP) encomendou um estudo à Universidade de Trás-os-Montes e Alto do Douro (UTAD) sobre o rumo estratégico para os vinhos da região. A versão final está disponível no site daquele organismo desde a passada sexta-feira. A partir de agora, já não há desculpas para tudo continuar na mesma miserável modorra, como se o mundo e a região não tivessem mudado profundamente nas últimas décadas.

Foto: Nelson Garrido

A primeira versão, apresentada no passado mês de Fevereiro, era um pouco mais do mesmo. Como aqui escrevi, no capítulo das soluções, só avançava com três propostas concretas e de algum relevo: a diminuição do stock mínimo de vinho do Porto, para atrair novas empresas e novos produtores (já baixou entretanto para os 75 mil litros, mas este é um valor que continua a afastar do negócio centenas de produtores-engarrafadores; para estes, o estudo defende, e bem, que possam comprar vinho do Porto a terceiros, para melhorar a qualidade dos seus pequenos stocks); a criação de um Simplex + para os agentes do sector; e a criação de uma plataforma logística regional no Douro. Como todos os estudos do género, propunha também algumas medidas com nomes pomposos que podem significar tudo ou nada, como a criação de um “Sistema Inteligente de Mercado”, de um “Sistema integrado de formação” e de uma “Regulação inteligente do vinho do Douro”.

Óbvio, embora bem fundamentado, no diagnóstico traçado, o estudo inicial deixava subjacente a velha tese de que os problemas da região duriense se resolveriam com mais promoção e consequente aumento das vendas de vinho. No contributo que enviou, a família Symington (é o maior proprietário do Douro) lembrou que o foco do trabalho “não deveria estar centrado nos mercados, mas sim nas gravíssimas debilidades na cadeia produtiva a montante e nas suas consequências devastadoras para o futuro do vinho do Porto e do DOC Douro”. “Uma grande parte do enorme crescimento das vendas do DOC Douro tem sido feito na base de uvas compradas a menos de metade do seu custo real. Como é que esta realidade pode ser deixada de fora numa análise estratégica?”, questionavam os Symington, acrescentando que “não é possível manter um sector dos Vinhos do Porto e do Douro (e consequentemente a economia regional da RDD), saudável, sustentável e vigorosa, assente em fundações institucionais e regulamentares antiquadas, desactualizadas e que não reflectem as necessidades de um sector cuja realidade mudou, de uma forma absolutamente radical, nos últimos 30 anos”.

Na versão final, os autores do estudo – vinte e um investigadores coordenados por Tim Hogg, professor da Escola Superior de Biotecnologia (ESB) da Universidade Católica do Porto e actual director Executivo da Plataforma de Inovação em Vinha e Vinho da UTAD, e João Rebelo, professor catedrático de Economia nesta universidade, sob a avaliação geral do economista Daniel Bessa – acolheram este e outros contributos e idealizaram um plano de acção bem mais realista e ambicioso.

São 11 as grandes medidas apresentadas, umas focadas no marketing e no negócio e outras na organização do sector. De todas, há uma que é só por si um programa de trabalho. É das tais que têm um nome pomposo - “Regulação competitiva do sector vitivinícola da Região Demarcada do Douro” – mas trata do essencial. E o essencial passa por resolver a distorção existente entre o custo real de produção de uvas para DOC Douro e o preço, abaixo do custo, a que são pagas, em resultado de um desequilíbrio entre a oferta e a procura. A consequência imediata é o empobrecimento dos produtores e a degradação da imagem do Douro, uma vez que os vinhos são vendidos a um preço que também não reflecte o verdadeiro custo de produção das uvas. Dos cerca de 40 milhões de litros de DOC Douro comercializados em 2017, 80 por cento foi vendido, à saída da adega, a um preço médio de 2,79 euros o litro, sem contar com os descontos que costumam ser feitos. Para uma região onde a produção média por hectare ronda os 4 mil quilos, é um preço ruinoso e desprestigiante.

Para inverter esta situação, os autores do estudo propõem a criação para os vinhos DOC Douro de um sistema regulatório semelhante ao que já existe no Vinho do Porto e que “tem permitido um relativo equilíbrio entre a oferta e a procura e a transferência de valor para os viticultores via preço das uvas”. Isto passa, basicamente, pela atribuição de quotas de produção também para o DOC Douro, o chamado “benefício”. Trata-se de uma medida com o seu quê de revolucionária mas justificada, face ao crescente peso dos vinhos DOC Douro na economia regional.

Paralelamente, é defendido um controlo mais apertado da qualidade do vinho comercializado com a chancela da denominação de origem, para que o Douro “se afirme como uma região de vinhos de elevada qualidade e não de volume”. E é proposto também um maior controlo da qualidade e da quantidade das uvas produzidas, de modo a “garantir um equilíbrio mais ´justo` entre a oferta e a procura, com a consequente valorização das uvas e do património vitícola”. De que modo? Além da fixação de quotas de produção, sugerem a redução gradual da área total de vinha, num horizonte temporal de 5 a 10 anos, pela via de um “processo voluntário de saída da actividade destinado a viticultores sem sucessores, sem vontade de continuar ou, simplesmente, sem dimensão para um projecto economicamente viável”. A compensação financeira “pela saída com dignidade da actividade poderia ser financiada com as reservas financeiras existentes no IVDP e por taxas pagas por todos os operadores da RDD, seja ao nível das uvas ou dos vinhos”.

Tantos os anos a dizer o mesmo! De que é que estão à espera, suas majestades? Se nada de relevante acontecer nos próximos anos, não será por falta de diagnósticos e de propostas - ou pela habitual inércia dos durienses. Será por falta de vontade, coragem ou saber de quem tem realmente o poder de mudar: o IVDP e o Ministério da Agricultura, a tutela.

Pedro Garcias
FUGAS
Jornal Público

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