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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 9 de junho de 2020

Dos espaços, dos agentes e das realizações em Bragança nos princípios da república

Olhemos, com um pouco mais de atenção, para todos estes agentes e meios e para todas estas manifestações e realizações que animam e caracterizam o "tempo de viver".
Para tal será preciso referir atividades culturais e espaços de sociabilidade e de lazer; clubes recreativos; associações políticas; agremiações socioprofissionais e culturais; grupos teatrais e musicais; sociedades desportivas; comissões festivas; em suma, aludir às associações, mais e menos elitistas, mais e menos populares… Com todas estas peças – e outras que se acrescentarão – e de todos estes elementos se constituía o rico puzzle da vida cultural e civilizacional que, à sua maneira, marcava o quotidiano da urbe e contribuía para preencher, também, a existência dos brigantinos. Como é compreensível, para além de ser difícil caminhar nestes terrenos movediços, são muitas as inércias e as continuidades. Impõe-se, por isso, recuar – mesmo que seja pouco – a tempos anteriores.
Em setembro de 1910 é inaugurado, com alguma pompa e com cerimónia pública, o coreto da Praça da Sé.
Regista-se uma vida cultural e intelectual que, pelas suas manifestações e atividades, não seria de esperar de um "meio frustre" – outro qualificativo de um documento –, como era este de Bragança.
Estabelecimentos de ensino e "instituições culturais" cumprem um papel educativo e cultural digno de nota, no que respeita ao ensino, à educação e à "dinamização cultural".
Órgãos de informação locais, variados e intervenientes, doutrinários, de grande qualidade intelectual e literária, independentemente da sua orientação política e ideológica, dão-nos uma ideia do panorama cultural e atestam o elevado nível de alguns membros das elites intelectuais. Como se frisou, são jornais que instruem, debatem, ensinam e educam; propagadores de ideias e doutrinas; fazedores de opinião. Perante a qualidade da imprensa local, somos tentados a lamentar que tão pouca gente a pudesse ler.
A "normal" atividade cultural e intelectual e as mais diversas expressões cívicas, desportivas e lúdicas, exigiam espaços variados: clubes, agremiações, teatros, cinema, praça de touros, coretos. Festas, festividades e cerimónias – cívicas, lúdicas e religiosas – tinham, ainda, como cenário e palco o espaço público e envolviam autoridades, forças vivas e população. Comemorações e festejos ritualizados e simbólicos, de cunho manifestamente popular – apesar de alguns recuos nestas manifestações (que se terão verificado a partir da segunda metade de Oitocentos) –, marcavam o tempo e o espaço…
E se a miséria do povo era uma nota marcante e muitos habitantes da Cidade viviam no limiar da pobreza, havia momentos e tempos programados para fazer esquecer as tristezas do quotidiano. Aí estavam as festas que assumiam vários cambiantes e que ajudavam mesmo a definir a diversidade de identidades de cidades, vilas e aldeias.
Para todas estas manifestações, iniciativas e espetáculos não faltam mediadores e agentes, atores e públicos que alimentam uma cultura de cariz mais erudito e uma cultura de feição mais popular. Como é óbvio, nenhuma "muralha da China" separa uma da outra. São muitos os contágios e as interações. Refira-se, ainda, as colaborações qualificadas e cooperantes, nos mais variados domínios culturais, de conterrâneos que haviam deixado a terra natal e que se tinham radicado, sobretudo, nos grandes centros, especialmente em Lisboa. Eram fecundas e profícuas as raízes que os prendiam à sua terra e às suas gentes.
A partir da segunda metade de Oitocentos "acentua-se o controlo político das multidões, legislando-se no sentido das diversões, jogos e festas populares serem canalizados para recintos fechados, onde o policiamento passa a ser efetuado e otimizado o controlo dos comportamentos".
A cultura, nos fins do século XIX, difundira, em especial através de associações cívicas ou profissionais diferenciadas, “novos comportamentos de novas civilidades e valores definidos pelos grupos a que estão associados – sejam grémios, clubes vários, associações ou sociedades – emulando-se em festas e saraus bem organizados pelas elites competentes e descritos na imprensa em espaço proporcional à hierarquia dos participantes, mas em que ganha dominância a vertente cultural e a política”. Os saraus brigantinos, públicos ou privados, eram muito concorridos. A partir da década de 1880, assiste-se à vinda regular de companhias profissionais, de espetáculos variados, que trazem um pouco do que se ia fazendo no Porto e em Lisboa. Mas, como veremos, também provinham de sítios mais distantes.
A Cidade conta associações, espaços e equipamentos de diversa índole, que marcam a existência da comunidade. Alguns desses espaços e dessas associações vão merecer um pouco mais de atenção por razões que se prendem com os papéis que desempenharam e a projeção que tiveram ou porque, mais prosaicamente, dispomos de mais elementos.
Em 1889, foram aprovados os estatutos dos Bombeiros Voluntários de Bragança. Enquanto não se edificava uma construção mais sólida, o que veio a acontecer anos depois, em julho de 1890, “a Câmara tomou de aluguer um coreto de madeira, que mandou colocar na Praça Camões, a fim de ali poderem tocar às quintas-feiras e domingos, e alternadamente, as duas bandas regimentais”. Esta programação cultural, porventura com alguns hiatos, ainda se mantinha em 1910.
Corria o ano de 1890. A Associação dos Artistas de Bragança “propõe-se prover a que esta Cidade não continue privada de um edifício destinado às diversões artísticas, restaurando o velho Teatro Brigantino”. Seriam, por conseguinte, muito deploráveis as condições do Teatro. Dois anos passados, em 1892, concretizava-se o projeto e estava concluída a  remodelação. A Gazeta de Bragança, em 15 de maio, noticia: “Teve lugar… a inauguração do Teatro Camões, mandado construir pela benemérita Associação Artística de Bragança, no local do antigo Teatro Brigantino”.
A poucos anos do fim do século, em novembro de 1896, a Câmara Municipal deliberou a criação de “um Museu Arqueológico em uma sala dos Paços do Concelho”, que abriu ao público a 14 de março de 1897.
Bragança continua a apetrechar-se… Não podia entrar no século que se avizinhava sem uma praça de touros, que foi inaugurada a 29 de junho de 1899 – como noticia O Nordeste de 4 de julho –, com “uma grandiosa corrida”.
Por alvará de 1902, são aprovados os estatutos da Associação Comercial de Bragança. Em abril de 1903, fazia-se, no Clube Brigantino, uma conferência sobre socialismo: “Teve lugar nesta casa de recreio uma conferência feita pelo nosso amigo distinto advogado e primoroso e enérgico jornalista, sr. dr. Eduardo Ernesto de Faria”. O Clube tinha nascido da “Assembleia”. Em 1905, há uma tentativa de fusão “entre as duas casas de recreio desta Cidade, denominadas Clube e Assembleia”, que não resultou.
João Afonso Dias, um dos fundadores
 da Associação Comercial de Bragança
Os estatutos e o regulamento interno do Grémio Brigantino são aprovados em 1906. Sobre estes estatutos, António Barbosa refere a existência de um artigo que “proíbe aos estudantes serem sócios daquela assembleia, roubando-nos assim um magnífico ensejo de convivência de professores e alunos”.
Em agosto de 1909, na Gazeta de Bragança, é noticiada “uma reunião preparatória da organização de uma nova sociedade de recreio, com a denominação de Grémio de Bragança, tendo sido aprovados os respetivos estatutos e nomeada uma comissão”.
Neste mesmo ano, são aprovados os estatutos do Clube de Caçadores de Bragança.
Em setembro de 1910 é inaugurado, com alguma pompa e com uma cerimónia pública, o coreto da Praça da Sé.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

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