O Passeio Público talvez tenha sido um dos elementos que melhor define o tipo de sociedade em que a burguesia do século XIX aspirava viver. Representava como que uma reação tardia mas desfavorável ao ambiente de corte de aldeia e aos seus desfasamentos e simbolizava a consagração da alteração do quadro das tradicionais relações sociais com a incorporação das transformações políticas e a consciencialização do mundo novo que os progressos técnicos impulsionavam. Os ecos deste novo mundo ganharam velocidade e a sua difusão pelas gazetas e nos botequins alcançou um público cada vez mais vasto. Dos novos costumes tendiam a fazer parte as agradáveis sensações que a vida em sociedade podia oferecer, agora ao ar livre em espaços amplos, de dia ou ao fresco luar estival. Num louvável esforço de atualização, os membros da Comissão Municipal mandavam afixar editais com a publicitação da obra do Passeio de S. Sebastião, “por ser de utilidade o recreio público”.
Estávamos na primavera de 1834. Na zona sobranceira ao Mosteiro de S. Francisco, a amenidade do Passeio Público beneficiava da sombra do castelo e das árvores plantadas junto aos fossos, numa atmosfera em que a Torre da Princesa inspirava alguns corações afetados pelos heróis lutadores de algum romance francês. Todavia, não sabemos durante quanto tempo os peraltas e os senhores oficiais da tropa local teimaram nessas passeatas, sobretudo se levarmos em conta a avareza das fontes no que respeita ao passeio do elemento feminino, mesmo que acompanhado por um(a) criado(a) ou um progenitor sisudo e circunspecto.
A escassa utilização deste espaço condená-lo-ia ao fracasso social, apenas contrariado, embora com distinta função, quando o calendário litúrgico determinava que se percorresse o alinhamento de cruzes de cantaria que aí se ergueram como símbolos das diversas estações da via crucis. Contudo, o convívio dos citadinos com a natureza artificial dos jardins teria continuidade no alindamento da área da barbacã do castelo, junto às Portas de Santo António. Era o Jardim de Caçadores, denominação que nos remete para a proximidade do quartel do Batalhão de Caçadores n.º 3 e, em consequência, para a costumada frequência de militares. Honrando a ação destes em Moçambique, no contexto da questão colonial, em dezembro de 1895, receberia o nome de Jardim do Batalhão Expedicionário de África. Por decisão municipal, a água que fornecia o pequeno espelho de água que existia numa das duas secções e também para rega era proveniente da cisterna da Casa da Água, o primitivo edifício dos Paços do Concelho.
Apesar do seu caráter efémero, a componente social da primeira iniciativa de alindamento e modernização da Cidade não seria bastante para fazer esquecer a variedade de obstáculos que afetavam a maioria dos arruamentos, incluindo os que derivavam dos fenómenos naturais. Neste conjunto de consequências, os mais frequentes relacionavam-se com as águas pluviais, mormente quando a sua corrente continuada esventrava os solos dos arruamentos.
Por isso é que, no verão de 1847, se olhava à conveniência de trazer limpo o Cano do Ribeirinho e à necessidade de se “aplanar o caminho que vai para o Aljube e Rua do Cano”. Urgência que também abrangia a Rua do Paço onde, por se achar “intransitável”, seria vantajoso fazer “um socalco para deter a terra”. Seria na adjacência destes territórios que, já no tempo do Estado Novo, se definiria, em terrenos outrora pertencentes à cerca dos padres da Companhia de Jesus, o perímetro do Jardim Dr. António José de Almeida, um espaço de boa amplitude que ganhava projeção com a conclusão dos trabalhos do rasgamento e normalização da Rua da República.
Mais tarde, no patamar superior do Jardim Dr. António José de Almeida seria inaugurado um busto do Abade de Baçal, obra do escultor Sousa Caldas. Com este bronze prestava-se uma homenagem ao erudito bragançano, quando ainda era vivo, e, ao mesmo tempo, nobilitava-se um espaço público que permitia associar o lazer a um modo de vida de contexto urbano.
Já em 1964, na plataforma do Jardim do Batalhão Expedicionário virada para o Monte de S. Bartolomeu, inaugurar-se-ia um monumento em que se representava D. Fernando, segundo duque de Bragança, aparelhado para a guerra. A sua inauguração fez parte das festividades comemorativas do centenário da concessão, em 20 de fevereiro de 1464, no arraial de Ceuta, do estatuto de cidade a Bragança.
Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa
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