Os pais mais ricos puseram os filhos a estudar em Bragança, o sobrinho como era mais pobre pagaram-lhe também os estudos. O mais pobre dando valor aos estudos aplicava-se, mas os mais ricos eram mais “baldas”, até que um dia foram os três para a tropa. Na tropa o mais pobre como tinha estudos foi para tenente, enquanto que os mais ricos foram para soldados rasos. O pobre ficou encarregue da distribuição dos salários entre os soldados, entretanto os primos tanto lhe fizeram que o iludiram para desviar o dinheiro para irem para a batota, levando a que o pobre homem perdesse o dinheiro todo. Após o sucedido, combinaram fugir os três, foram mundo até que encontraram um palácio, onde ouviram uma voz a chamá-los para entrarem para uma sala, para a qual entraram e encontraram uma mesa grande e bem composta com muita comida. Ao chegar à noite ouviram outra voz:
- O soldado numero tanto vai dormir ao quarto número tal.
A voz mandava cada um dormir a seu quarto, mas os dois irmãos não quiseram e dormiram num só quarto. Pela noite dentro apareceu ao pobre uma rapariga para lutar com ele e disse:
- Tu de manhã vais ver o tanque, onde estão três pombas, duas a brincar na água e uma murcha (era a que estava a lutar com ele).
Os dois de manhã questionaram-no:
- O que andaste tu a fazer? Lutaste tanto!
Ele negou tudo, porque a rapariga tinha-lhe dito para o fazer. Na noite seguinte, voltaram os dois irmãos a dormir juntos e o primo no quarto indicado pela voz, voltando a lutar com a rapariga, dizendo-lhe esta:
- Olha amanhã vais a cavalo e vais-me a buscar à feira dos encantos, mas quando lá chegares lá aquilo torna-se num mar, mas tu avanças não tenhas medo que não é água. Estarão muitos a dizer que os leves a eles, segue, no entanto, em frente que hás-de me encontrar a mim muito murchinha.
O rapaz montou a cavalo e vieram embora os dois, depois chegaram a um sitio no qual ela puxou de um anel com o nome dela gravado, dando-o ao rapaz dizendo:
- Eu quero casar contigo, mas tu tens que ir ter comigo à cidade de Tavas.
No caminho o cavalo ficou doente e morreu, tendo que fazer o resto do caminho a pé, encontrando uma velhinha que lhe perguntou para onde ele ia, ele contou-lhe toda a verdade. A velhinha pegou, então, numa varinha dando-a ao rapaz:
- Tu quando precisares de alguma coisa bates com esta varinha três vezes que eu apareço e faço o que for preciso.
O rapaz chegou a uma ladeia perto da cidade da rapariga, mas ele com o cabelo grande, todo esfarrapado e a barba por fazer pediu pousada numa casa de um alfaiate que lá havia. Esse alfaiate estava a fazer o vestido de noiva para a rapariga, pois tinha prometido casar com outro rapaz e a rapariga nunca mais aparecia, por isso demorou um ano a preparar o casamento.
O alfaiate é que tinha o pano para fazer o vestido mas não sabia fazer o feitio que a rapariga queria, andando, por isso, aborrecido. Ao contar o seu problema ao “pobre” este mandou o alfaiate trazer trigo, nozes e aguardente que ele fazia-lhe o vestido.
Já era quase dia e o rapaz só comia e bebia e o vestido por fazer, ao começar a ver as horas apertar, resolveu bater com a varinha três vezes no chão aparecendo-lhe
Nossa Senhora que lhe perguntou o que era preciso e lhe fez o vestido tal como a rapariga o queria. O rapaz meteu o anel que ela lhe deu num bolso do vestido e coseu-o, chamando depois o alfaiate que, ao ver o vestido tão perfeito, começou a dizer que tinha Deus em casa.
A rapariga ao vestir o vestido descobriu o anel que tinha dado ao rapaz que a desencantou, mandou, então, chamar o alfaiate perguntando-lhe:
- Quem tem em casa?
- Não tenho ninguém.
Mas após muita insistência da rapariga o alfaiate lá lhe disse que tinha lá um velhinho, ao que a rapariga lhe disse para não o deixar sair que ela ia lá vê-lo. Ela falou, então, aos pais para adiarem o casamento quinze dias, mandando também chamar o pobre para casa dela. Contudo, ele disse que só iria se fosse o pai dela lá buscá-lo com as tropas, o que aconteceu e o pobre pediu, então que o deixasse ir à frente do batalhão a comandar as tropas, ficando o pai da rapariga muito admirado com a capacidade do rapaz. Ao chegarem a casa a rapariga mandou arranjarem o rapaz para o prepararem, apresentou-o aos pais e disse-lhes que queria casar com ele, eles aceitaram e o casal foi feliz para sempre.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localização geográfica: PAÇO DAS MÓS – ORIGEM + 60 anos.
FICHA TÉCNICA:
Título: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUÍS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e início dos capítulos)
Edição: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
Recolha de textos 2005: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA
Recolha de textos 1985: BELARMINO AUGUSTO AFONSO
Na edição de 1985: ilustrações de José Amaro
Edição de 1985: DELEGAÇÃO DA JUNTA CENTRAL DAS CASAS DO POVO DE
BRAGANÇA, ELEUTÉRIO ALVES e NARCISO GOMES
Transcrição musical 1985: ALBERTO ANÍBAL FERREIRA
Iimpressão e acabamento: ROCHA ARTES GRÁFICAS, V. N. GAIA
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