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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Senhora da Veiga, Alfaião, Bragança: A origem da capela e, o milagre das vacas que ficaram dependuradas

Rui Feio assinala a capela da Senhora da Veiga, junto do rio Penacal, um afluente do Fervença, num local verdadeiramente bucólico. Está inserida numa cerca onde existem estruturas de apoio às romarias: instalações sanitárias, palco, bar e, um edifício polivalente. Continua o autor do livro “Locais de culto Mariano, terras de Bragança e Zamora”: “não há barulho, nem lixo, nem ruínas”. Embora em terrenos adjacentes à ermida, surgem moedas, cerâmicas, do período romano e, a capela pode estar assente sobre um sítio de culto pré cristão.

As Memórias Paroquiais, de 1758, falam da capela da Confraria da Sr.ª da Encarnação, a 25 de Março. Manuel António Pires, “caixeiro”, recorda-se que há 70 anos, as confissões [desobriga quaresmal] eram, tal como ainda hoje, pelo 25 de Março. Vinham dois, ou três, padres, cantavam-se os ofícios das almas e, de seguida fazia-se uma procissão, rezando o terço, até à Senhora da Veiga. Na aldeia guardava-se dia santo, não se trabalhava, talvez para recordar a festa antiga. Pois os padres sempre nos disseram que a Senhora da Veiga era a Senhora da Anunciação.

A transferência da festa de 25 de março, Sr.ª da Encarnação, para o 15 de agosto, Senhora da Assunção, terá acontecido nos finais do século XIX início do século XX, depois da fixação do dogma da Imaculada Conceição, em 1854. Em 1856 o livro de contas da Confraria assinala ainda na rúbrica das despesas a festa de 25 de março e, em 1934 o Abade de Baçal, menciona já o dia 15 de agosto, como o dia da festa da Senhora da Veiga, «muito concorrida de romeiros».

A alteração de datas terá a ver mais com a mudança de mentalidade espiritual, do que com o fenómeno de agosto e das férias dos emigrantes, pois o forte desta para a europa deu-se nos anos 60 do século passado e, como vimos o Abade nos anos 30 já situa a festa no dia 15 de agosto.

A arquitetura interior da capela é sóbria, do barroco final, 1714 a 1746, bastante afetada por xilófagos. Segundo o livro de contas da confraria, de 1795/96 fizeram-se obras, pintura do retábulo, estofar da imagem da Senhora, no valor de 32$000 reis, sendo mordomo António José Borges de Vale Benfeito. No ano de 1804/05, sendo mordomo Francisco Martins, fez-se intervenção em obra, na talha e, alvenaria, no valor de 880$000 reis. Na mordomia de Francisco Rodrigues, no ano de 1806/07, continuam as obras agora para desfazer um arco de cantaria arruinado, no valor de 17$650 reis e, ainda para desfazer o retábulo da Senhora, para amadeirar a capela de novo, no valor de 240$000 reis.

No retábulo predominam motivos espiralados e concêntricos, quatro colunas salomónicas com motivos vegetalistas, ramagens de videira e acanto, entremeadas com figuras de anjos, aves, semelhantes à fénix. Apesar da proliferação de imagens esculpidas, a textura da talha é bastante homogénea. Ao centro destaca-se a imagem da Senhora da Veiga. Nesta estrutura há ainda duas pianhas laterais, encrustadas a quando do último trabalho de pintura, feita por Francisco, de Nogueira. Nestas estão duas imagens de marmorite, a de São Francisco e de St.ª Jacinta Marto. O Sacrário é uma peça recente, adquirida pelo Cón. Abílio Augusto Miguel, pároco de Alfaião [1984/2000], como recorda Manuel Pires.

Na parede norte, no corpo da capela, existe um púlpito e, um conjunto de ex-votos à Senhora. No presbitério no lado norte existe uma pintura a óleo sobre tábua, de São Jorge e o dragão e, no lado oposto a imagem do lavrador a quem Virgem Maria apareceu e, lhe salvou a junta de bois. Andava o lavrador a arar em Sumidague, afirma Manuel Pires, em frente ao castelo dos mouros, próximo a um grande rochedo, repentinamente as vacas espantaram-se desataram a fugir e ficaram dependuradas, presas pelo arado. Pressentindo a desgraça e contando com os seus animais perdidos, colocou a vara aos ombros, olhou para o céu, invocou N.ª Senhora para que lhe acudisse na aflição. De repente, e sem sequer saber como, viu as vacas salvas. Considerando um milagre, de imediato, prometeu mandar erigir uma capela. O livro de contas da confraria assinala em 1786, em Alfaião, havia 75 vizinhos, a confraria, no mesmo período, tinha 188 irmãos e, esta estendia os seus ramos para o exterior, inclusive para a lá da Lombada como refere António, “alfaiate”. A Festa da Senhora da Veiga, 25 de março, o Jubileu dos Reis, 6 de janeiro, o Jubileu de S. João, 24 de junho e, o Jubileu do Espírito Santo, Pentecostes, mobilizavam em cada um destes dias «8 clérigos, para assistência à missa cantada, aos ofícios, à pregação e, às confissões». Para além da enorme importância religiosa das instituições da Igreja, tinham também estas uma função social relevante, a confraria constituía-se como mutualidade, apoiando os associados e, fazendo circular a economia local.

A festa da Senhora da Veiga realiza-se no terceiro domingo de agosto, precedida de novena preparatória. No primeiro dia, à noite, faz-se uma procissão de velas, desde a aldeia até à capela. Este ano sendo atípico, devido à pandemia, não houve procissão da aldeia, as novenas e a missa da festa decorreram ao ar livre, no adro da capela, cumprindo as orientações da Conferência Episcopal e os normativos da DGS.

Esta romaria foi sempre muito concorrida por gentes da cidade de Bragança e arredores que, ao longo dos séculos, vinham a banhos para as águas medicinais de Alfaião.

Pe. Estevinho Pires

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