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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

EN103: eco road trip de Bragança ao Alto Minho

 A Estrada Nacional 103 (EN103) liga o interior transmontano ao litoral minhoto. É um percurso sinuoso, algo agreste, mas de uma beleza natural emocionante. Banda sonora escolhida, vamos fazer-nos à estrada


Depois da estrada nacional 2 se ter tornado um íman para os Jack Kerouac portugueses, surgem alternativas não menos encantadoras. A norte, há duas estradas que convidam a uma road trip: a EN222, que já foi considerada a mais bela do mundo (no Alto Douro Vinhateiro), e a EN103, desconhecida até agora.

O percurso da EN103 estende-se da zona raiana de Trás-os-Montes até Neiva, perto de Viana do Castelo, e é marcado pela água, com grandes rios a irromperem a paisagem, e por duas regiões protegidas: o Parque Natural de Montesinho e o Parque Nacional da Peneda-Gerês, ambos considerados reserva da biosfera pela UNESCO.

Ao longo de quatro dias, fiz esta road trip com uma vibe ecológica e regressei a casa encantada. A aventura passou por várias localidades transmontanas e estendeu-se ao Alto Minho, já fora dos limites da EN103. Querem reviver o percurso comigo? Primeiro é preciso escolher a música – já se sabe que não há viagem de carro sem banda sonora. Eu ando numa onda Mayra Andrade (cliquem aí no play).

A EN103 começa, ou termina, em Bragança: foi precisamente no extremo nordeste de Portugal que iniciei a road trip. A estrada convida a uma paragem em Vinhais, Chaves, Boticas, Montalegre (com um pequeno desvio), Vieira do Minho, Braga e Viana do Castelo. Paragens que se podem facilmente multiplicar, assim haja vontade e tempo.

Cada uma destas localidades oferece múltiplos encantos, rios caudalosos, mesa farta, ar puro, desportos radicais e, para quem o procura, tranquilidade e silêncio.

BRAGANÇA

Muito do encanto de Bragança concentra-se no interior da cidadela, uma segunda cidade dentro da cidade, rodeada de muralhas. Vocês conhecem bem o meu amor a lugares históricos ?. Ali encontra um castelo belíssimo, incluído na minha lista Castelos em Portugal: 8 sugestões encantadoras, cuja torre de menagem funciona como museu militar, a Domus Municipalis, a Igreja de Santa Maria e um pelourinho peculiar com um verraco, ou berrão, que remete para raízes celtas.

As muralhas escondem ainda o Museu Ibérico da Máscara e do Traje, com fatos e máscaras das festas de Inverno de Trás-os-Montes e de Zamora (Espanha), incluindo os famosos caretos de Podence, elevados à categoria de Património Mundial da Humanidade.

Mas nesta road trip procuro Natureza, pelo que transponho os limites da cidade, rumo ao Parque Natural de Montesinho, que esconde a Serra da Coroa (1273 m) e de Montesinho (1486 m), lobos, javalis, corças, veados e cerca de 240 outras espécies.

Entre estas paisagens selvagens existem ainda aldeias com tradições ancestrais. Uma das mais encantadoras é Rio de Onor, que toma o nome do rio que a atravessa, e se estende para além da fronteira, para a homónima Rihonor. Em breve escrevo um post mais detalhado sobre esta e outras aldeias, onde as fachadas de xisto ou granito se fundem com a paisagem, e a ruralidade continua muito presente.

Onde ficar em Bragança

Na Pousada de Bragança – São Bartolomeu, com uma linda vista sobre o castelo. Duas opções mais em conta, mas um pouco mais afastadas do centro histórico, são o Hotel São Lázaro e o Ibis. Em Gimonde, perto do rio Sabor, o hotel rural O Abel é uma opção segura. Já em Rio de Onor, gostei muito da Casa do Rio, que para além da privacidade, oferece várias actividades de piqueniques a passeios TT, workshops de cogumelos ou de fotografia.

VINHAIS

A pequena vila de Vinhais não possui um património esmagador, mas convida a uma breve visita ao Castelo, ao Convento de São Francisco, à Igreja de S. Facundo, ao centro cultural Solar dos Condes de Vinhais e ao pelourinho manuelino. Vinhais é também conhecida pelos enchidos e pela tradição do Dia dos Diabos, na quarta-feira de cinzas.

O encanto da região – uma das portas de entrada para o Parque Natural de Montesinho – reside na natureza envolvente e nas águas cristalinas dos rios Baceiro e Tuela. Vale muito a pena conhecer o Parque Biológico de Vinhais (PBV), no perímetro florestal da Serra da Coroa.

As cápsulas com vista para a piscina biológica são uma opção de alojamento muito divertida.

Rodeado por grandes bosques de carvalhos, o Parque de Vinhais tem uma piscina biológica, um parque aventura, um centro hípico e um grande recinto com animais: ouriços-caixeiros, javalis, corças, raposas e várias aves de rapina que não têm condições de serem reintegradas no seu habitat. Estão também ali representadas algumas raças autóctones como a cabra-preta de Montesinho, o porco bísaro, a ovelha churra galega bragançana e o simpático burro mirandês.

Alimentar ou tratar dos animais são actividades divertidas para se fazer em família (as crianças adoram). O Parque Biológico de Vinhais foi, sem dúvida, um dos pontos altos da road trip pela EN103.

Onde ficar em Vinhais

O próprio Parque Biológico de Vinhais tem parque de campismo. Pode também fazer glamping numa cápsula de madeira, com vista para a piscina, ou ficar num bungalow (T1 a T4), com cozinha completa. Existe ainda a Hospedaria do Parque, na aldeia de Rio dos Fornos, com capacidade para 50 pessoas.

CHAVES

Chegámos ao vale do rio Tâmega e à Aquae Flavia (como os romanos chamaram a Chaves) onde fica o quilómetro zero da EN2, a route mais longa do país, que até tem um passaporte. Vale muito a pena perder-se no colorido da Rua Direita até à linda Praça de Camões, provar os pastéis de Chaves, conhecer o castelo, o Museu da Região Flaviense, instalado no paço dos Duques de Bragança, e o Museu de Arte Nadir Afonso.

Depois pode rumar à zona ribeirinha, para apreciar o Jardim do Tabolado e a mítica ponte de Trajano [a este propósito, leia Império Romano: vestígios em Portugal], antes de tratar as maleitas do corpo nas Termas de Chaves. As águas termais mais quentes da Europa chegam à superfície a cerca de 74° C e são úteis no tratamento de doenças respiratórias, digestivas e reumáticas. Um copinho por dia, não sabe o bem que lhe fazia!

Onde ficar em Chaves

Entre as unidades de 4 estrelas, destaco o Forte de São Francisco Hotel e o Castelo Hotel, este último muito próximo das termas e com quartos anti-alérgicos. Pessoalmente, acho que o Castelo Hotel tem melhor relação custo-benefício. O Ibis Styles Chaves é uma opção bem mais económica, no centro histórico. A cerca de 8 km de Chaves, encontra uma opção de alojamento rural muito interessante – a Quinta do Souto.

BOTICAS

Continuamos pela EN103 até à vila de Boticas, com paragem no centro de artes Nadir Afonso (ando apaixonada pelo seu trabalho), no Museu Rural e no Centro de Escultura Castreja. Na Praça do Município, encontra uma réplica do Guerreiro Calaico-Lusitano, que se acredita ser a figura antropomórfica mais antiga da Península Ibérica. O original foi encontrado no concelho e está actualmente em Lisboa, no Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia.

Outra história curiosa diz respeito ao vinho dos mortos. Durante as primeiras invasões francesas, a população enterrou o vinho, para evitar que fosse pilhado pelos homens de Junot. Quando o desenterraram, descobriram-no mais saboroso, pois a humidade e obscuridade tinham-lhe emprestado novas propriedades. De fenómeno milagroso, o vinho dos mortos ressurgiu como estratégia de marketing no século XXI e é hoje uma marca registada.

Porque esta é uma eco road trip, sigo para o Boticas Parque, depois de um almoço copioso no Hotel Beça, onde honrei uma bela de uma truta do rio que não só baptiza o hotel como atravessa o Parque. Sobre este, refira-se que disponibiliza uma vasta área de tranquilo contacto com a natureza. Para além de moinhos, estábulos, galinheiros, tanque de anfíbios, borboletário, campo de ervas aromáticas e parque de merendas, possui ainda um tanque de trutas fário, para repovoação dos rios da região.

Onde ficar em Boticas

No centro da vila, o Boticas Hotel Art & Spa ou o Primavera Perfume Hotel são escolhas seguras.  Uma opção bem mais económica é a Casa de São Cristovão mas, pessoalmente, não aprecio a decoração. O Boticas Parque também possui 2 unidades de alojamento (T1 e T2), num contexto muito tranquilo. Os hóspedes podem pescar livremente no parque e usar os ovos do galinheiro, basta servirem-se. Neste caso, deve fazer a reserva directamente no site.

VILARINHO DE NEGRÕES (Montalegre)

O centro de Montalegre é muito interessante e merece, por si só, uma visita, em particular durante a Sexta-feira 13, o Congresso de medicina tradicional (em Vilar das Perdizes), ou a monumental Feira do Fumeiro e Presunto do Barroso.

A riqueza natural do concelho passa muito pelo Parque Nacional Peneda-Gerês. Quero muito voltar e explorar melhor esta região onde existem várias cascatas, a linda aldeia de Pitões das Júnias (para fotografar as ruínas do mosteiro) e a aldeia comunitária de Fafião.

Hoje não se pretende fugir muito à EN103, pelo que deslizo até ao rio Rabagão, onde se vislumbra a encantadora aldeia de Vilarinho de Negrões, espraiada numa estreita península. A aventura inclui a travessia de barco, cortesia do município, tão divertida como molhada. Do outro lado (na área de lazer de Penedones), espera-me roupa seca e um cálice de Porto, para aquecer os ânimos, antes de seguir pelo vale do Cávado.

Onde ficar em Montalegre

Na aldeia de Negrões, recomendo as Casas Avelã Brava. Na margem oposta, a Casa do Alto Montalegre oferece uma linda paisagem sobre o rio e, alguns quilómetros adiante, ficam os encantadores Moinhos da Corga. Mais perto da barragem da Venda Nova (seguindo a EN103), a Padrões Guest House possui uma boa classificação no Booking.

ALTO MINHO: Ponte da Barca, Arcos de Valdevez e Ponte de Lima

A road trip pela EN103 devia terminar perto de Viana do Castelo, mas faço um desvio para mais uma aventura na natureza, em Ponte da Barca. A Aktivanatura faz as honras do rio, numa sessão de stand-up paddle. Foi a minha primeira experiência e fui ao banho duas vezes, mas diverti-me imenso.

Já no concelho dos Arcos de Valdevez, fiz arborismo e slide na Porta de Mezio, uma das entradas mais conhecidas do Gerês, revisitei a linda aldeia do Soajo, com alguns dos espigueiros mais antigos do país, onde jantei como uma rainha no restaurante Saber ao Borralho. Os charutos dos Arcos, uma das 7 maravilhas doces do país, o bolo de discos e as broinhas cilindraram a minha mísera força de vontade.

Terminei a noite novamente na Porta do Mezio, para uma observação nocturna memorável. Este é um novo serviço disponível no Mezio, que identificou sete locais do Gerês, onde o céu estrelado não é ofuscado por poluição luminosa, para actividades astronómicas. Aplausos!

Despedi-me em Ponte de Lima. Apesar de visitar a vila minhota regularmente, nunca tivera oportunidade de navegar no rio numa réplica do barco arriva (que noutros tempos ligava as duas margens, com os produtos das Feiras Novas) ou conversar com o campeão olímpico Fernando Pimenta, junto ao Clube Náutico.

Onde ficar no Alto Minho

Fiquei fã do glamping e das casas da árvore do Lima Escape (perto de Ponte da Barca). Em Arcos de Valdevez, o confortável Ribeira Collection Hotel, é garantia de uma noite bem dormida. Já em Ponte de Lima, poderá desfrutar das boas vindas de um conde, no Paço de Calheiros, degustar os seus vinhos e até dormir numa cama que, outrora, pertenceu à rainha consorte Carlota Joaquina.

Tudo somado, fui conquistada pela EN103, pelo conceito de ecoturismo que carrega, pelas tradições que me ajudou a descobrir. Não é só este Verão que afirmo #euficoemportugal. Esta será uma escolha regular, mesmo quando as viagens internacionais voltarem a ser normalizadas.


Nota: esta viagem foi realizada a convite do Turismo Porto e Norte.

Ruthia Portelinha

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