quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Igreja de Nossa Senhora da Assunção-matriz de Torre de Moncorvo - Sabia que… é um dos mais belos monumentos portugueses do estilo maneirista?


 Amigos leitores, Trás-os-Montes não são apenas telúricas paisagens, porque alberga ainda um conjunto notável de igrejas, como são exemplos a igreja matriz de Torre de Moncorvo e ainda no mesmo concelho a igreja românica de Adeganha. A Igreja de Nossa Senhora da Assunção, matriz de Torre de Moncorvo, uma das mais belas em Portugal no estilo maneirista, ergue-se no local onde outrora existia a igreja medieval de Santa Maria. O monumento foi construído a partir de 1510 ou 1544 e demorou dezenas de anos a construir. Em 1638 ainda decorriam obras. Imagine o leitor a duração e esforço envolvido por toda a gente envolvida na sua construção, arquitetos, pedreiros e os habitantes, enfim grandes obras públicas que teriam um enorme impacto sócio económico na região.

Interior da Igreja matriz de torre de Moncorvo

“Torre de Moncorvo, burgo promovido a sede de concelho em 1285, pelo rei D. Dinis, era no século XVI uma vila florescente e um centro administrativo da maior importância, facto que propiciou a construção de uma igreja de grandes dimensões, denunciando o secreto desejo de ascensão a sede de diocese. Esta acabaria por ser criada em 1545, mas em Miranda do Douro, no extremo nordeste transmontano, o que deve ter contribuído para a morosidade da construção da matriz de Torre de Moncorvo.

Dedicada a Nossa Senhora da Assunção, terá sido iniciada por volta de 1510, de acordo com um testemunho quinhentista, erguendo-se, já então, extra-muros, no arrabalde da vila e no lugar da igreja medieval de Santa Maria. Dependente sobretudo de financiamentos municipais, a obra arrastou-se por mais de um século, trabalhando-se ainda em 1638 no estaleiro da grande fábrica, demora que não comprometeu, no entanto, a unidade arquitetónica do edifício”.

Não se conhece o autor da traça da igreja, apenas a referência do mestre pedreiro João Martins que, em 1559, acompanhava a obra, embora as características do pórtico o aparentem com edifícios contemporâneos tradicionalmente atribuídos a Frei Julião Romero, designadamente as igrejas de São Gonçalo de Amarante e de São Domingos de Viana do Castelo.

 “A fachada principal do monumento é dominada pela torre central, de planta quadrangular e marcada pelo pórtico retabular maneirista, feito em arco e flanqueado por dois pares de colunas. Sobre o portal estão as imagens de S. Pedro e S. Paulo que ladeiam a de Nossa Senhora da Assunção. A flanquear a porta estão Santa Bárbara e Santa Apolónia. E acima destes ainda se pode observar uma janela em arco ladeada por dois óculos. Na parte superior da torre existem duas varandas, acima destas os sinos e também um relógio. A um nível mais elevado, nas laterais da igreja, estão várias janelas e mais abaixo dois pórticos de estilo renascentista, um em cada lado”.
 
Tanto o aspeto compacto do exterior, de alçados ritmados por pesados contrafortes, como certos pormenores decorativos, com destaque para as gárgulas monstruosas que irrompem da cornija, revelam um gosto de inspiração medieval, mas a abertura progressiva a novas linguagens artísticas adivinha-se no recorte clássico dos vãos que iluminam as naves e na figuração escultórica de putti que povoa a cimalha da cabeceira. Do mesmo estilo apresentam-se também as duas portas laterais, datadas respetivamente de 1566 e 1567. O portal sul foi, posteriormente., coberto por um alpendre, talvez ligado a práticas de devoção ou utilizado como abrigo para peregrinos

A igreja matriz de Torre de Moncorvo é um exemplo perfeito de uma igreja salão O interior do templo encontra-se organizado segundo o esquema de hallenkirchen (igrejas-salão), sendo os cinco tramos das naves abobadados da mesma altura, a dividirem 3 naves. Nas suas proporções e disposição geral, o interior revela a mesma austeridade e racionalidade do exterior, com a longa série de tramos do corpo da igreja simetricamente abobadados, estando cobertas por abóbada de múltiplas nervuras que saem de oito enormes pilares. Na capela-mor pode ser admirado o grandioso retábulo de talha barroca da autoria do mestre bracarense Jacinto da Silva, que o executou entre 1752 e 1754, cujo desenho exprime bem a qualidade cenográfica do estilo barroco, na sua versão mais esplendorosa ainda herdeira dos faustos da época de D. João V, com as suas colunas salomónicas enquadrando a tribuna, anjos alados nos remates e o habitual repertório ornamental naturalista de motivos vegetalistas e concheados. As pinturas murais da capela-mor, já ao gosto rococó, devem-se ao pintor Francisco Bernardo Alves, que as executou em 1779 com frescos  alusivos a cenas bíblicas, entre as quais uma Última ceia, existindo também outros quatro retábulos no resto do templo – o das Almas, o de Nossa Senhora da Assunção, o de Santo Cristo e o da Sagrada Família.


Nos absidíolos da cabeceira observam-se igualmente apreciáveis conjuntos de talha: à mão direita da capela-mor (lado do Evangelho), na Capela das Chagas, um retábulo barroco de “estilo nacional”, modificado por acrescentos rococó e que – que parece reaproveitar elementos de talha dourada rococó, provavelmente provenientes do desaparecido convento de S. Francisco.; à esquerda (lado da Epístola), a Capela do Senhor ou do Santíssimo Sacramento, um interessante retábulo maneirista, em madeira, revelando um trabalho escultórico ingénuo mas imaginativo, talvez obra de um artista local, destacando-se pelo vigor, as cenas que representam Cristo no Horto, a Flagelação de Jesus, O Hecce Homo, Jesus perante Pilatos De recorte mais erudito é o magnifico sacrário por ele enquadrado, também do mesmo estilo. O conjunto encontra-se resguardado por um gradeamento de ferro forjado, datado de 1631.  Na capela do Santíssimo Sacramento há a realçar um tríptico flamengo, que mais tarde falaremos. No coro alto, que está num piso intermédio da torre, há a apreciar um soberbo órgão de tubos, datado do século XVIII. Outra notável campanha moderna foi a que deu origem ao retábulo lateral na nave do Evangelho, do século XVII, e com painéis alusivos à Paixão de Cristo”.

Também do século XVII é o retábulo da sacristia, o qual se encontrava antes no corpo da igreja. Os restantes altares são do século XVIII, tal como o imponente órgão que está no coro alto.

A igreja matriz de Torre de Moncorvo é a maior de Trás-os-Montes

Maior até do que as Sés de Miranda do Douro ou Bragança. A primeira impressão com que deparamos ao chegar ao largo da praça da matriz é a de verticalidade e de monumentalidade do templo. No interior o sentimento de amplidão e altura mantém a impressão exterior. O seu amplo volume marca a silhueta do casco antigo de onde quer que o observemos. À escala é majestosa, digna de uma Sé, e poderá ter sido construída com este propósito, já que em 1617 era pedido ao rei Filipe a divisão da Dioceses de Braga e a criação de um bispado com sede em Moncorvo. Tal nunca viria a acontecer pois em 1881 a paróquia passaria a integrar a Diocese de Bragança. Mas temos que ressalvar que a igreja foi construída a partir de 1510, anterior a este pedido.


O Concílio de Trento e a igreja matriz de Torre de Moncorvo

 Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563, da Igreja Católica. Foi convocado pelo Papa Paulo III para assegurar a unidade da fé e a disciplina eclesiástica, no contexto da Reforma da Igreja Católica e da reação à divisão então vivida na Europa devido à Reforma Protestante, razão pela qual é denominado também de Concílio da Contrarreforma, também na sua génese esteve a regulação da luxúria e riqueza excessiva, que existia no topo da hierarquia religiosa, bispos, cardeais e até mesmo Papas, mas nem tudo era negativo porque alguns destes príncipes eram mecenas das Artes, mas regressemos a igreja matriz de Torre de Moncorvo, cuja construção está eivada do espírito tridentino, o que nos faz pensar uma vez que a primeira pedra seria lançada em 1544, reinava dom João III, que este este estilo artístico associado a contra reforma, já existia antes desta, ou então a igreja tinha um projeto inicial distinto, mais renascentista e que durante a construção este terá sido alterado.

O pequeno também pode ser uma obra de arte como se demonstra na Igreja matriz de Torre de Moncorvo.

 Mas a mais bela obra de arte é o pequeno tríptico de madeira policromada gótico (*), dedicado a Santa Ana,  um tríptico tardo-gótico, representando vários passos da vida de Santa Ana. Executado em Antuérpia, por volta de 1500, apresenta figuras em baixo-relevo, polícromas em que se sente o respirar da renascença, fixando com intensa expressividade e delicadeza: uma representa a Revelação Profética de um Anjo a São Joaquim e o encontro deste com a Esposa à Porta Áurea de Jerusalém; outro o Casamento de S. Joaquim e a futura Mãe da Virgem; outro a Apresentação do Menino Jesus pela Virgem a Santa Ana. Daqui se infere que o pequeno é por vezes o mais belo.

Original AQUI.

Sem comentários:

Enviar um comentário