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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Termas de São Lourenço em Pombal (Carrazeda de Ansiães)

 
Termas de São Lourenço

As caldas ou termas de São Lourenço, situadas na freguesia de Pombal no concelho de Carrazeda de Ansiães, estão encaixadas a meia vertente na margem esquerda do vale do rio Tua, e perto da linha ferroviária, que há-de ser inundada pela maldita albufeira da barragem que a EDP está a construir junto à foz, e que servia estas termas e a localidade de Pombal. As termas de São Lourenço fitarão no futuro um grande espelho de água amestrado pela albufeira. Debaixo das águas ficarão as chamadas Caldas Velhas e a graciosa linha de caminho-de-ferro do vale do rio Tua. 

As termas de São Lourenço devido ao seu enquadramento paisagístico são admiráveis e em Portugal talvez nenhumas outras se lhe comparem neste aspecto. Porque são tão distantes e tão pouco conhecidas são essencialmente frequentadas por moradores da região que aqui se deslocam.

Muito se fala acerca da sua remodelação. Para já existe um balneário, que me parece provisório, mas que oferece boas condições para 80 aquistas com diversos tratamentos. O estudo da qualidade da estabilização das águas minerais sulfurosas, sob o ponto de vista hidrogeológico e medicinal vai manter-se ainda por mais dois anos.

Perdoai-me amigo leitor uma notação pessoal mas se quiseres salta este parágrafo e assim não perderás tempo com quem mal conheces (isto para aqueles que são obviamente a esmagadora maioria dos leitores -pelo menos é nosso desejo, mas adiante). A nossa última visita as termas de São Lourenço foi em Abril de 2011. Da primeira vez que as visitei, era ainda um jovem estudante de Geologia que fazíamos uma campanha de campo por meia dúzia de dias a estudar a hidrogeologia do nordeste transmontano. A saudade é isto mesmo é o passar e repassar das memórias antigas eivadas de sentimento bom e feliz. Lembro-me como se fosse hoje do Santuário da Nossa Senhora de Balsamão (Macedo de Cavaleiros), onde dormimos uns dias, Santa Cruz (Alfaião/Bragança), Lagoaça (Freixo de Espada à Cinta), Vila Flor naquelas que iriam dar origem as águas Frise e Terronha no Vimioso.


Historial das Termas de São Lourenço

Deste fabuloso livro que é nosso lusíadas das águas e que todos deveríamos conhecer o  “Aquilegio medicinal:  en que se da noticia das agoas de caldas, de fontes, rios, poços, lagoas, e cisternas do Reyno de Portugal e dos Algarves” de 1725 de Francisco da Fonseca Henriques ( basta clicar aqui) . Eis um trecho sobre as termas de São Lourenço.

“ … descendo para o rio Tua, por uma serra tão áspera que só a pé se pode andar por ela, nasce uma fonte de água sulfúrea, com calor moderado, despenhando-se pela serra a abaixo em grande quantidade, onde o zelo do Padre António de Seixas […] mandou fazer um tanque, ainda que humilde e de pedra tosca, no qual se tomam banhos em todo o tempo do ano, e servem para curar debilidades de nervos, e juntas tolhidas[…] São também eficacíssimas estes banhos a curar sarnas, chagas antigas, e lepra […] Se houvera casa de Banhos, e tanque acomodado para se frequentarem, logo pelos efeitos se iria alcançando a qualidade dos minerais, e se viria em claro conhecimento das suas virtudes, seria um grande bem para todos aqueles povos,[…] Todos os anos há grande concurso de gente a lavar-se, e tomar banho nesta água, na noite da véspera e dia de S. Lourenço, pela fé que ela tem; passam de 400 pessoas que se banham nessa noite e dia, sempre com banho novo”. 

A “Casa dos Banhos” é obviamente um espaço que deve ser imediatamente conservado e classificado, dada a sua raridade em Portugal. Trata-se de uma pequena casa de águas única em Portugal, pela sua estética e antiguidade e que ao longo dos séculos tem sido utilizado pelos aquistas.

A casa é um cubículo em granito hermeticamente fechado a lembrar um templo com algumas frechas para permitir a intimidade de um banho milagroso . A cobertura tem formato piramidal culminada com uma cruz granítica. No seu interior avulta um tanque e uma tosca imagem de São Lourenço de Huesca (clicar no santo), mais confortável que o original, porque este sortudo não pode pedir para que o assem do outro lado, porque a temperatura das águas é benigna com 34ºC. O tempo de cada banho é cerca de 30 minutos. A tina, que pelas suas dimensões até permite o “banho familiar” recebe a água quente de uma bica e descarrega para um tanque exterior.

Diz o povo que esta casa foi capela, talvez, mas o certo é que tem muitas parecenças com os tanques Joaninos das Caldas do Gerês, demolidos em inícios do séc. XX.

Outro elemento que poderá ajudar a esclarecer a história desta casa dos banhos é a inscrição sobre a porta da capela, de leitura difícil dela se depreende que foi mandada fazer por: Vítor Dafre(?) no ano de 1839. Quem seria este senhor? Um agraciado pelo poder curativo das águas ou o explorador das mesmas águas.               

O lugar de São Lourenço consta de pouco mais de uma vintena de casas, construídas em função do aproveitamento terapêutico das suas águas (aluguer de quartos e algumas residências particulares), boa parte das quais abandonadas e algumas em avançado estado de ruína. São na sua maioria construções modestas de piso térreo em pedra e piso superior em alvenaria, de finais do séc. XIX inícios do XX, onde não falta a varanda em madeira corrida na sua fachada.

A recuperação do local com fins termais deveria proteger essa arquitectura, e respeitar a traça em novas construções que se determine necessário criar, como novos balneários bem apetrechados. Quanto a alojamentos parece-nos que a simples reconstrução e apetrechamento do existente será suficiente para a procura actual de aquistas.   

Mas é o relevo do local que torna únicas as termas de São Lourenço, a encosta íngreme sobre o rio Tua, o vale granítico que seduz, por cima do horizonte da outra margem, o silêncio, o tempo que parece estático, tornam as termas de São Lourenço num local encantador.

Doenças de pele e reumatismo são as principais patologias tratadas com esta água.

EM 629 – São Lourenço
5140-223 Carrazeda de Ansiães
Freguesia: Pombal
PH da água: 8.35
Mineralização da água: Bicarbonatada sódica, fluoretada, sulfidratada

Fonte de informação: http://www.aguas.ics.ul.pt/braganca_slourenco.html

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