Testemunhos de empresários de empresas de transformação de granito, de uma lavandaria e de um hotel
O novo ano trouxe com ele aumentos dos preços dos bens e produtos, mas nem a electricidade escapou a esta tendência.
A factura tem pesado na conta dos empresários da região, que têm notado um aumento já desde o verão do ano passado. Nalguns casos, esta subida traduz-se em centenas e centenas de euros.
Na empresa “Martins & Afonso”, de granitos e mármores, em Bragança, notou um aumento de 50% na conta da luz. Com as máquinas todo o dia ligadas à corrente, a factura da electricidade tornou-se numa grande despesa. Em Agosto do ano passado a factura foi de 1100 euros, mas em Outubro foi 2400 euros. Segundo o sócio-gerente, João Afonso, o preço do KW triplicou, passando de 6 cêntimos para 18 cêntimos por KW. “É um impacto considerável. Estamos a falar de um valor anual a ronda os 12 ou 13 mil euros. Em qualquer PME [Pequena e Média Empresa] é um valor considerável”, afirmou. Tendo em conta o cenário, o empresário tentou renegociar o contracto no final do ano passado, visto que “o preço estava acima do praticado no mercado”. “Estávamos indexados a um valor de bolsa da parte empresarial e que sofria alterações consoante o valor que ela estava cotada e tentámos negociar isso para um preço mais baixo, mas nunca nada perto do preço que era praticado durante o primeiro semestre de 2021.
Estamos a contar com uma redução de 400 euros na factura mensal. Ainda assim, continua muito elevado, porque estamos a falar de uma diferença para o ano anterior de 500/600 euros por mês”, salientou. Nesta empresa, com seis funcionários, a transformação de granito serve essencialmente para fazer campas, mas também para vender para a construção civil. Inevitavelmente, com o aumento da conta da luz, mas também do combustível e até do preço matéria-prima, que subiu 17% em relação a 2021, foram obrigados a aumentar também o preço dos seus produtos.
Sendo a campa um produto “desnecessário”, João Afonso teme que a haja uma quebra das vendas. “Diminuir a venda de campas é sempre um medo. Acho que o maior medo de qualquer empresário é perder clientes e oportunidades de negócio, mas nós vamos sempre tentar combater isso de outra forma, melhorando a qualidade do serviço, mostrando ao cliente uma gama mais alargada de produtos para escolher”, referiu, admitindo que, para já, a subida do preço ainda não teve impacto no negócio.
Por Mirandela, na “Multigranitos”, a situação é idêntica. Carlos Neves, administrador da empresa, com 12 funcionários, disse que ao preço da factura da electricidade aumentou cerca de 15%. “Se isto continua assim vai levar as empresas à falência. É insuportável”, afirmou. Neste caso, o problema pode tornar-se mais grave, já que a empresa decidiu não aumentar os preços, derivado à concorrência. “Nós não podemos aumentar os preços derivado à concorrência. 99% do nosso trabalho é para exportação, temos a concorrência da China”, explicou, salientando que, desta forma, “a despesa aumenta” e “as margens vão diminuir”.
Outro dos negócios que está a sofrer com este aumento são as lavandarias. Máquinas de lavar, máquinas de secar e ferros de passar ligados o dia inteiro à corrente, traduz-se numa conta elevada de luz. Que o diga Leonardo Rodrigues, dono da lavandaria “Moderna”, em Bragança. Decidiu comprar com a lavandaria à mãe e tornou-se empresário em plena pandemia. Ao longo do ano passado viu a factura da electricidade aumentar três vezes. “No Verão não usamos máquinas de secar e, supostamente, poupamos na energia, mas posso dizer que paguei o mesmo. A conta anda na média dos 400/500 euros mensais.
Agora é Inverno, a máquina de secar é de manhã à noite, todos os dias, isto no final do mês perfaz mais 100 ou 150 euros na factura”, disse. Admite que está a ser muito difícil manter o negócio e a única funcionária que tem.
Para além da factura ser um fardo, os impostos também estão “asfixiar” as contas. “Se conseguisse [Governo] fazer algo eficiente em relação ao preço da electricidade e dos impostos, eu tinha capacidade de investimento, conseguia ter mais um posto de trabalho. Neste momento tenho só um posto de trabalho, podia ter dois, mas até com um me estou a ver mal”, frisou.
Quando aceitou ficar com a lavandaria, Leonardo Rodrigues tinha ainda intenção de montar uma lavandaria self-service, tendo em conta o número de estudantes que as usam para lavar a roupa. No entanto, entende que “não vale a pena” e que o melhor é “deixar andar como está, quando o negócio rebentar, rebentou”. Com uma carga fiscal a ronda os “80%” daquilo que factura, o ano passado, viu- -se obrigado a suspender o contrato da funcionária, porque “não estava aguentar as despensas”. “Este ano já me estou a sufocar um bocadinho, porque não quero que ela se prejudique, porque ela tem família, tem um filho”, referiu. O empresário queixou-se ainda da falta de apoios do Governo, que dizem ter sido “zero”. “Tenho 28 anos, o pouco que eu tinha amealhado até hoje está derretido aqui num ano. A partir daqui ou a empresa se sustenta sozinha ou vou ter que demitir a funcionária. Estou a ponderar fechar, está insuportável”, lamentou Leonardo Rodrigues.
A hotelaria também não escapa ao aumento dos gastos. Independentemente do número de clientes, em pleno Inverno, o aquecimento tem que ser ligado e as máquinas, como as da lavandaria, também são precisas, ainda que com frequência mais reduzida. Assim como a luz, também o gás natural aumentou.
A proprietária do hotel “Tulipa”, em Bragança, começa a fazer contas ao aumento dos gastos. “Já noto uma diferença de 15 ou 20% de luz. Por exemplo, eu costumava pagar 600 euros, passo a pagar 750 euros e isto ao final de ano é muito”, explicou Elisabete Raimundo. O estabelecimento tem vindo a sofrer com a pandemia e com as medidas restritivas e neste momento está a passar “um momento muito mau”. Os clientes são poucos e ainda que os gastos não sejam “iguais”, são “bastante para aquilo que ganham para pagar a factura no final do mês”. “O impacto é mesmo grande. Nota-se que custa a pagar, porque não há clientes, não mexe o dinheiro, mexe só para pagar, não entra e é mau”, afirmou.
A empresária disse que desde que começou a pandemia, este foi o pior Inverno e Janeiro foi mesmo o pior mês. Os eventos na cidade atraiam muitos visitantes e sem estas iniciativas as pessoas deixam de vir. A menos de um mês para o Carnaval, já há reservas a serem canceladas.
O município já informou que não vai haver o habitual desfile dos caretos, que traziam centenas de visitantes à cidade e, por isso, há quem já não queira vir. “Tínhamos reservas marcadas agora para o Carnaval e ouve-se dizer que o desfile não vai acontecer, as pessoas ligaram logo a desmarcar. Um grupo de pessoas que até é da terra, vivem na Suíça e iam trazer uns amigos, e desmarcaram porque ouviram dizer que não ia haver nada dos Caretos e eles vinham para mostrar isso”, contou. O hotel “Tulipa” tem cinco funcionários e sendo um negócio de família, Elisabete Raimundo disse continuar aguentar o barco até não poder mais.
Carla Morais- "Já notei um aumento. São mais quatro ou cinco euros mensais. Acho mal ter aumentado, porque o ordenado aumentou mas não ao ponto de cobrir estas despesas. São contas que temos que pagar mensalmente, senão ficamos sem esse bem e com estes aumentos não é muito fácil”.
Osvaldo Régua- "Ainda não notei aumento. Sei que está previsto. Preocupa-me muito, porque os nossos salários mantiveram-se, não tivemos subidas. Já aumentou tudo. A electricidade é um bem essencial, vai aumentar e não deve ser pouco. Na minha opinião não devia aumentar, pelo menos deveria haver um certo controlo de preços”
Osvaldo Régua- "Ainda não notei aumento. Sei que está previsto. Preocupa-me muito, porque os nossos salários mantiveram-se, não tivemos subidas. Já aumentou tudo. A electricidade é um bem essencial, vai aumentar e não deve ser pouco. Na minha opinião não devia aumentar, pelo menos deveria haver um certo controlo de preços”
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