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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

O que procurar no Inverno: a pervinca

 
A Pantone Color Institute escolheu a cor para representar 2022: a Very Peri (17-3938), um agradável tom de azul inspirado nas flores de uma planta pertencente ao género botânico Vinca, vulgarmente conhecida como pervinca. A decisão foi justificada pelo tom calmante, que representa a coragem e a inventividade. 

Mas que planta é esta que deu a cor para 2022?

Género Vinca

Vinca é um género botânico pertencente à família Apocynaceae, nativo da Europa, Macaronésia e Ásia Central.

Este género compreende sete espécies reconhecidas e aceites em todo o mundo e é constituído por plantas herbáceas perenes, eretas ou rasteiras, que são maioritariamente conhecidas como pervinca.

Em Portugal são três as espécies presentes. No entanto, apenas uma é reconhecida como espécie nativa, a Vinca difformis, conhecida igualmente como pervinca ou congossa, ainda que sejam inúmeros os nomes comuns associados a esta planta: vinca, salva-da-inveja, erva-da-inveja, alcangorça, alcongosta, congorça, congossa-maior, erva-concorça ou erva-congorça.

A pervinca

A pervinca é uma planta herbácea, vivaz, perenifólia, que pode atingir entre 15 a 40 cm de altura. É uma planta rizomatosa e estolhosa, cujos ramos são maioritariamente decumbentes, ainda que possa possuir ramos floríferos ascendentes.

O seu crescimento é geralmente rastejante, levando à formação de grandes tapetes verdes que podem cobrir a totalidade da superfície onde a planta está estabelecida.

As folhas são persistentes, opostas, inteiras, ovadas a lanceoladas, brilhantes e de cor verde-escuro. São pecioladas, glabras e apresentam uma textura ligeiramente coriácea.

Pervinca (Vinca difformis). Foto: Luis Fernández García/Wiki Commons

A floração ocorre entre o inverno e a primavera, nos meses de janeiro a maio. As flores elegantes, em forma de hélice, são solitárias, axilares, hermafroditas e longamente pedunculadas. A corola é assalveada, tubular e possui pétalas azul-claras ou azul-violáceo, por vezes esbranquiçada na base. O cálice é composto por cinco segmentos estreitos, linear-triangulares.

Os seus frutos são pequenos folículos – frutos secos, deiscentes e polispérmicos, que se abrem por uma só fenda longitudinal, acastanhados e com numerosas sementes nuas no seu interior.

Habitat e ecologia

A pervinca tem uma área de distribuição nativa compreendida entre o Arquipélago dos Açores e a região oeste e central do Mediterrâneo, podendo ocorrer naturalmente na Península Ibérica, França, Itália, Argélia, Tunísia, Marrocos, Sardenha, Córsega, Baleares e Açores.

Em Portugal Continental ocorre um pouco por todo o território, e no Arquipélago dos Açores está presente em todas as ilhas.

A pervinca é uma planta ruderal, que vegeta preferencialmente em locais húmidos e ensombrados. O habitat mais comum desta planta é o subcoberto de bosques húmidos, geralmente carvalhais e galerias ripícolas, mas também está presente em matas, sebes, margens de campos e linhas de água.

Esta planta aprecia clima ameno, e para crescer em todo o seu esplendor, prefere locais de semi-sombra. A nível edáfico, prefere solos leves, húmidos, bem drenados e ricos em matéria orgânica.

É uma planta resistente ao frio, muito tolerante à baixa luminosidade e a ambientes secos. No entanto, quando expostas a grande intensidade solar, as folhas podem queimar-se. Não é tolerante ao calor intenso e a longos períodos de seca.

De uma maneira geral, pode dizer-se que a pervinca é uma planta pouco exigente e muito resistente.

A facilidade de se expandir ao longo de extensas áreas, formando tapetes densos de folhas verdes, repletos de flores azuladas no inverno e na primavera, tornam esta planta particularmente interessante do ponto de vista ornamental.

Todavia é necessário algum cuidado e controlo na utilização desta planta: como tem uma grande facilidade para enraizar e expandir-se, pode tornar-se invasiva.

A pervinca é cultivada como ornamental em espaço urbano, para cobertura de jardins e para formação de bordaduras vivazes, preferencialmente em locais à sombra.

Pervinca (Vinca difformis). Foto: Luis Fernández García

É perfeita para plantar em taludes ou em jardins rochosos para controlo da erosão e proteção do solo. Se for usada junto a muros, pode comportar-se como trepadeira, ainda que necessite de tutores para se apoiar.

Também é comum o seu uso em floreiras e vasos. Quando cultivada em vasos suspensos, a sua folhagem forma densos tufos pendentes, muito agradáveis e floridos.

Ação medicinal

Além da aplicação ornamental, a pervinca apresenta diversas propriedades e características que a tornam ideal para outros usos. Os seus caules são excelentes em cestaria, para o fabrico de cestas, por exemplo. Em algumas regiões esta planta também é usada na composição de ramos e outros arranjos florais.

Na indústria da cosmética e da perfumaria, da pervinca podem fazer-se cremes, óleos, tinturas e emplastros.

Esta planta é também reconhecida pelas suas inúmeras propriedades medicinais. Na sua composição, a pervinca contém taninos, flavonas, glúcidos, sais minerais, vitamina C, pectina e alcalóides indólicos, dos quais se destacam a vincamina, a vincristina e a sapargina, cujo princípio ativo é mais intenso durante o período de floração.

Os alcalóides presentes, principalmente a vincamina, têm uma ação anti-espasmódica, hipotensora, vasodilatadora cerebral e coronária.

As folhas secas desta planta são usadas na medicina tradicional como desinfetante e cicatrizante, no tratamento de hemorragias internas, infeções gastrointestinais e urinárias.

A pervinca também é usada no tratamento de diversas formas de cancro (leucemia, linfoma, entre outros), no tratamento de diabetes e de estados de pressão arterial alta.

Também possui uma ação tónica venosa e da microcirculação, é adstringente, combate vertigens e enxaquecas e possui também a faculdade de inibir a produção de adrenalina.

O seu poder contra as perdas de memória é reconhecido. Toda a planta é sedativa e um excelente estimulante cerebral e vasodilatador, é usada no tratamento da aterosclerose e alzheimer, entre outras doenças susceptíveis de causar demência.

Pela elevada quantidade de alcalóides presentes, a pervinca é uma planta muito tóxica, e deve ser manuseada com muito cuidado. Não pode ser ingerida e deve ser tomada apenas sob prescrição médica.

Outras Vinca em Portugal

Etimologicamente o termo genérico Vinca, nome latino para a planta, poderá derivar dos termos vincio = “amarrar ou enrolar”, vincire = “ligar”, ou de vincere, que significa “superar” – muito provavelmente devido à utilização das hastes jovens e compridas das plantas deste género botânico para entrelaçar e fazer coroas de flores e grinaldas.

As coroas e grinaldas feitas destas plantas tinham diferentes simbolismos, consoante a espécie usada e a região.

O restritivo específico difformis indica a forma incomum comparativamente à forma típica do género.

Além da Vinca difformis, espécie nativa no território nacional, é possível encontrar mais duas espécies semelhantes do género Vinca em Portugal, que apesar de não serem autóctones, estão amplamente naturalizadas: a pervinca, congossa-maior, pervinca-maior (Vinca major) e a pervinca, congossa-menor, pervinca-menor (Vinca minor).


As três espécies são muito semelhantes e podem ser confundidas umas com as outras. No entanto distinguem-se facilmente pelo tamanho e forma das folhas:

A Vinca major apresenta folhas maiores que a Vinca minor, mas ligeiramente mais pequenas que a Vinca difformis, com cílios bastante evidentes ao longo da margem, embora só sejam bem visíveis com lupa.
A Vinca minor apresenta folhas mais pequenas que as outras duas espécies. As folhas são tri ou tetraverticiladas no ápice dos ramos estéreis. As flores e as sementes desta espécie são de menor dimensão em relação às restantes espécies.


O habitat preferencial das três espécies é idêntico, podendo ser facilmente encontradas no subcoberto de bosques húmidos e na orla de cursos de água. E como já mencionado anteriormente, devido à facilidade com que enraízam e se expandem, qualquer uma das três pode tornar-se invasiva.

“Violetas-feiticeiras”

A pervinca é uma planta simbólica, envolta em rituais supersticiosos de magia e bruxaria.

Esta planta é tida como arauto da presença de fadas e como um contrafeitiço natural, que afasta a inveja, o mau-olhado e os espíritos nefastos e que atua como filtro energético, transformando as energias negativas em positivas.

No séc. II, era utilizada no combate a doenças do diabo, por exemplo.

Ainda hoje, em algumas regiões de Inglaterra e da Irlanda, onde esta planta é conhecida como devil’s joy (prazer-do-diabo), é comum pendurar ramos de pervinca para dar sorte e afastar o mau-olhado.

Na Idade Média, era considerada a planta dos poetas e dos feiticeiros, que recomendavam a sua contemplação para acalmar a vista cansada e melhorar a memória. Daí haver quem a apelide de sorcerer’s violet (violeta-feiticeira).

Uma análise bem cuidada da morfologia das suas flores permite perceber que, apesar de ser composta por cinco pétalas formando um pentagrama, a união basal forma um tubo hexagonal perfeito, recriando a ideia de uma estrela de cinco pontas – uma das representações do infinito, que associada à cor das suas flores, espiritualmente participa das ideias de “passagem” e “transmutação”.

Posto isto, não é difícil perceber o quanto esta planta foi importante ao longo da História e o que ainda representa atualmente.

A cor do ano, escolhida pela Pantone para 2022, reflete sem dúvida o que está a acontecer globalmente. Vivemos uma fase de transformação e transição, numa altura em que nos libertamos de um longo e intenso período de isolamento, em que as nossas vidas estão a mudar e a adaptar-se a novos padrões.

Dicionário informal do mundo vegetal:

Vivaz – planta que vive mais do que dois anos, renovando anualmente a parte aérea.
Perenifólia – de folha persistente ou folha perene. Planta que mantém as folhas verdes ao longo de todo o ano, fazendo a sua renovação gradual sem que fique despida.
Rizomatosa – planta cujo caule é subterrâneo (rizoma).
Estolhosa – planta que possui estolhos.
Estolho – rebento ou ramo basal, longo, delgado e prostrado (estendido sobre o solo), capaz de enraizar nos nós e formar novas plantas.
Decumbente – caule ou ramo deitado sobre a terra, por onde se alastra e com a ponta levantada para cima.
Ascendente – caule que se desenvolve na posição horizontal ou quase, mas que tende a verticalizar.  
Ovada – folha com a forma de um ovo mais larga perto da base.
Lanceolada – folha com forma de lança.
Peciolada – provida de pecíolo.
Glabra – sem pêlos.
Pedunculado – que tem pedúnculo, “pé” que sustenta a flor.
Assalveada – flor com corola simpétala com tubo longo e estreito, que se dilata bruscamente em limbo plano ou côncavo.
Simpétala – corola cujas pétalas se encontram unidas (“soldadas”) entre si.
Cálice – conjunto das sépalas, que protegem externamente a flor.
Folículo – fruto seco, com várias sementes, que se abre por uma única fenda para libertar as suas sementes.
Deiscente – fruto que, quando maduro, se abre naturalmente para libertar as sementes.
Polispérmico – fruto com muitas sementes.
Verticilado – quando 3 ou mais órgãos semelhantes (por ex. ramos, folhas) se dispõem no mesmo nó. Tri – indica que a folha se encontra repetida três vezes. Tetra – indica que se encontra repetida quatro vezes.

Carine Azevedo

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