Vamos agora aproximar-nos um pouco mais do ponto central deste folhetim: o livro “Guerra Junqueiro falso poeta”. Mas ainda não será hoje que mergulharemos no assunto. Há primeiro que fazer umas considerações que recordem aos meus Amig@s a figura do poeta barbudo de Freixo de Espada-à-Cinta.
Começaremos por dizer que Guerra Junqueiro não é um poeta consensual, isto é, desperta reacções contraditórias. Há quem o adore e há quem o deteste — tudo em alto grau. Foi uma das vozes que mais contribuíram para o advento da República e um dos mais feros adversários do clero. Já se vê que um poeta assim tinha de concitar amores e ódios.
Curiosamente, como que habitam dentro dele dois poetas tão semelhantes entre si como um ovo e um espeto. Temos por um lado o poeta panfletário, de uma enorme combatividade, e por outro lado o poeta apaziguado, de um lirismo comovido e comovente. “A velhice do Padre Eterno” e “Os simples” são livros emblemáticos cada um da sua faceta.
O primeiro deles ataca a visão estreita que, em sua opinião, a igreja católica tem de Cristo. Faz isso numa enxurrada de sarcasmos, alguns de bem mau gosto. Mas, surpreendentemente, no meio dessa enxurrada aflora por vezes o seu lirismo de base, como no inspirado passo “Minha mãe, minha mãe, ai que saudade imensa”, que muita gente sabe de cor, ou na tocante exaltação da liberdade que o melro faz aos filhos metidos numa gaiola por um padre-cura bronco.
O segundo é um ramalhete em que refulgem joias como a conhecida “Moleirinha”.
Os que idolatravam Guerra Junqueiro chamaram-lhe “o poeta da raça” e de algum modo esse generoso epíteto foi confirmado pelos funerais nacionais que lhe foram dispensados, uma semana sobre a sua morte, ocorrida em 7 de Julho de 1923, ao ser sepultado no Mosteiro dos Jerónimos, perto de Luís de Camões.
Muito exagero se cometeu de parte a parte na apreciação da sua obra — apreciação quase sempre inquinada por considerações de natureza ideológica, quando não por ‘estados de alma’. António Sérgio, que encabeça o exército de detractores do poeta, não lhe chama “poeta da raça”. Pelo contrário, entre outros mimos, chama-lhe ”pitonisa histérica de barricada”. Outros vultos da cultura portuguesa, como António Sardinha ou Vieira de Almeida, não tinham opinião mais lisonjeira a respeito de Guerra Junqueiro e disseram dele o equivalente ao que Maomé terá dito do toucinho. Mas ninguém, estou em crer, foi tão violento como o poeta épico Artur Botelho.
Veremos isso no próximo capítulo.
Começaremos por dizer que Guerra Junqueiro não é um poeta consensual, isto é, desperta reacções contraditórias. Há quem o adore e há quem o deteste — tudo em alto grau. Foi uma das vozes que mais contribuíram para o advento da República e um dos mais feros adversários do clero. Já se vê que um poeta assim tinha de concitar amores e ódios.
Curiosamente, como que habitam dentro dele dois poetas tão semelhantes entre si como um ovo e um espeto. Temos por um lado o poeta panfletário, de uma enorme combatividade, e por outro lado o poeta apaziguado, de um lirismo comovido e comovente. “A velhice do Padre Eterno” e “Os simples” são livros emblemáticos cada um da sua faceta.
O primeiro deles ataca a visão estreita que, em sua opinião, a igreja católica tem de Cristo. Faz isso numa enxurrada de sarcasmos, alguns de bem mau gosto. Mas, surpreendentemente, no meio dessa enxurrada aflora por vezes o seu lirismo de base, como no inspirado passo “Minha mãe, minha mãe, ai que saudade imensa”, que muita gente sabe de cor, ou na tocante exaltação da liberdade que o melro faz aos filhos metidos numa gaiola por um padre-cura bronco.
O segundo é um ramalhete em que refulgem joias como a conhecida “Moleirinha”.
Os que idolatravam Guerra Junqueiro chamaram-lhe “o poeta da raça” e de algum modo esse generoso epíteto foi confirmado pelos funerais nacionais que lhe foram dispensados, uma semana sobre a sua morte, ocorrida em 7 de Julho de 1923, ao ser sepultado no Mosteiro dos Jerónimos, perto de Luís de Camões.
Muito exagero se cometeu de parte a parte na apreciação da sua obra — apreciação quase sempre inquinada por considerações de natureza ideológica, quando não por ‘estados de alma’. António Sérgio, que encabeça o exército de detractores do poeta, não lhe chama “poeta da raça”. Pelo contrário, entre outros mimos, chama-lhe ”pitonisa histérica de barricada”. Outros vultos da cultura portuguesa, como António Sardinha ou Vieira de Almeida, não tinham opinião mais lisonjeira a respeito de Guerra Junqueiro e disseram dele o equivalente ao que Maomé terá dito do toucinho. Mas ninguém, estou em crer, foi tão violento como o poeta épico Artur Botelho.
Veremos isso no próximo capítulo.
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