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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Pelo inverso dos sentidos

Por: Paula Freire
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)

O que a assustava era esse silêncio, ensurdecedor, no meio do rumor que dançava à sua volta dissipando-se qual névoa lenta. 
Um silêncio cheio de tudo. 
Pensava como era possível o mundo girar-lhe, a um ritmo alucinante, por entre o corpo e ela apenas conseguir sentir a voz estridente do silêncio como uma pedra pesada sobre os ombros.
Lembrou-se, de repente, das cenas dos filmes, quando as personagens sobrevivem a uma explosão. Um tinido nos ouvidos. Por todo o lado, o ruído tão distante. O desconcerto de quem não entende o que acabou de acontecer.
Seria assim o seu mutismo? A consequência do estrondo imprevisível de uma guerra que não lhe pertencia? Uma guerra de todos os que não suportam o mundo, de todos os que não se suportam a si mesmos?
Sentada sobre uma cadeira. Em frente, restos de uma refeição sem sabor, a única companhia dos próprios pensamentos. Cabeça apoiada nas mãos, a tapar o rosto escondido, adormecido no vácuo daqueles segundos em que se sentiu gente.
Fixou-se no tiquetaque do relógio. Estranho som. Seco, vagaroso, cadenciado... Cada vez mais sonoro, numa invasão indesejada a consumir-lhe os sentidos.
Estava ali há tantos anos aquele relógio, naquele mesmo local, naquele exato ponto e nunca se apercebera dele como naquele exato momento.
Curioso como o arrastar do tempo é substância delicada a escorregar pelas sinuosidades da vida! Impercetível, habita nela como as raízes de uma hera cravadas numa parede. Mas ninguém lhe escuta o bater compassado do coração. Ninguém o ouve. 
Lembram-se dele, do relógio, das horas, do tempo, somente quando precisam de controlar os instantes dos dias. É-lhes imprescindível para não falharem, para seguirem o rumo certo do destino a que se propuseram.
É assim o relógio. Caminha sem pressas, mesmo que o abanem para ser mais rápido. Caminha inalterável, mesmo que o aconcheguem para ser ainda mais lento.
É assim, o relógio. Necessário na existência de tantos.
É assim, o relógio. Invisível.
É assim, ela.

Paula Freire
- Natural de Lourenço Marques, Moçambique, reside atualmente em Vila Nova de Gaia, Portugal.
Com formação académica em Psicologia e especialização em Psicoterapia, dedicou vários anos do seu percurso profissional à formação de adultos, nas áreas do Desenvolvimento Pessoal e do Autoconhecimento, bem como à prática de clínica privada.
Filha de gentes e terras alentejanas por parte materna e com o coração em Trás-os-Montes pelo elo matrimonial, desde muito cedo desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita, onde se descobre nas vivências sugeridas pelos olhares daqueles com quem se cruza nos caminhos da vida, e onde se arrisca a descobrir mistérios escondidos e silenciosas confissões. Um manancial de emoções e sentimentos tão humanos, que lhe foram permitindo colaborar em meios de comunicação da imprensa local com publicações de textos, crónicas e poesias.
O desenho foi sempre outra das suas paixões, sendo autora das imagens de capa de duas obras lançadas pela Editora Imagem e Publicações em 2021: Cultura sem Fronteiras (coletânea de literatura e artes) e Nunca é Tarde (poesia).
Prefaciadora do romance Amor Pecador, de Tchiza (Mar Morto Editora, Angola, 2021) e da obra poética Pedaços de Mim, de Reis Silva (Editora Imagem e Publicações, 2021).
Autora do livro de poesia Lírio: Flor-de-Lis (Editora Imagem e Publicações, 2022).
Em setembro de 2022, a convite da Casa da Beira Alta, realizou, na cidade do Porto, uma exposição de fotografia sob o título: "Um Outono no Feminino: de Amor e de Ser Mulher".
Atualmente, é colaboradora regular do blogue "Memórias... e outras coisas..."-Bragança, da Revista HeliMagazine e da Revista Vicejar (Brasil).
Há alguns anos, descobriu-se no seu amor pela arte da fotografia onde, de forma autodidata, aprecia retratar, em particular, a beleza feminina e a dimensão artística dos elementos da natureza, sendo administradora da página de poesia e fotografia, Flor De Lys.

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