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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

ARTUR BOTELHO — 6

 Estamos, caros Amigos, a chegar ao ponto, em que falaremos das apreciações que Artur Botelho faz aos versos de Guerra Junqueiro, algumas das quais são de rara violência. Mas pareceu-me interessante, antes de entrarmos nesse capítulo escabroso, dar a conhecer o que levou um poeta a assanhar-se de tal modo contra outro poeta. Tenham pois, caros Amigos, só mais um pouquinho de paciência.
O livro Guerra Junqueiro falso poeta saiu em 1923. Por coincidência, Guerra Junqueiro morreu no mesmo ano, a 7 de Julho. Quero crer que Artur Botelho tenha publicado o seu livro antes da morte de Junqueiro, porque me repugna pensar que Artur Botelho seria capaz de  publicar o livro em que ataca selvaticamente um homem quando a morte ainda mal arrefeceu o corpo desse homem. Não acredito que fosse tamanha a insensibilidade ou a falta de escrúpulos do poeta de Alvites.
Comprei o livro num alfarrabista do Porto, Moreira da Costa, Sucrs. Lda. É um cartapácio de 530 páginas e saiu — pasme-se! — com uma tiragem de 3 mil exemplares. Esta tiragem muito superior às que hoje se usam deve explicar-se pelo título, que cheirava a escândalo literário. De facto, chamar falso poeta a um poeta que uma grande fatia da população reverenciava como “poeta da raça” e outra fatia detestava visceralmente, ou seja, um poeta que não deixava ninguém indiferente, era um chamariz que tanto atraía os admiradores, que se iriam irritar com o conteúdo do livro, como os detractores, que se iriam deliciar. Custou-me apenas 14 euros, acredito que por estar bastante danificado de tanto manuseamento: à própria capa já faltava um pedaço. Gosto de conservar o recibo das compras em alfarrabistas, para que não se pense que algum alfarrábio na minha biblioteca chegou à minha posse por processo ilícito. Também desta aquisição conservo recibo, e nele vejo que 22 de Maio de 2002 foi a data da compra.
O livro cheira a fel que tresanda. Nunca Guerra Junqueiro terá tido tão viperino detractor — e, como sabemos teve muitos e de grande calibre. Às vezes custa-nos a acreditar que no livro estejam estampados mimos como estes: ‘reles poetastro’, ‘caricato e ridículo versejador’, ‘burlesco e miserável manipanso’. Mas estão. E então é inevitável a pergunta: Mas porquê?!...
Deixemos que o próprio Artur Botelho nos explique:
«Também a minha admiração por ele [Guerra Junqueiro ] era tão profunda que me levou a oferecer-lhe as humildes produções do meu espírito, como um ignorado peregrino que vai depor os seus ex-votos no altar da sua devoção. Mas, ó vergonha eterna!, ó mágoa infinita!, o senhor Guerra Junqueiro tão elevada tinha a sua fronte que nem sequer pôde atentar em mim!
A minha sensibilidade ofendeu-se com a arrogância e o menosprezo do grande poeta, e, desde esse momento, verdadeiramente revoltado, gerou-se no meu espírito a ideia da desforra.»
Aí têm os meus Amigos, preto no branco, a razão de tanto fel. Botelho foi ferido de asa pelo descaso de Junqueiro. O despeito gera o desejo da desforra, quando não a sede de vingança. É de crer que, se Junqueiro tivesse tido uma palavra de simpatia para com Botelho quando este lhe foi mostrar os versos, o livro nunca teria sido escrito. Por um lado, é de realçar a sinceridade, quase candura, com que Artur Botelho justifica a publicação do livro. Mas, por outro lado, não é menos de realçar a mesquinhez do motivo da publicação. Um ponto a favor, outro ponto contra. Mas, acreditem os meus Amigos, o melhor ainda está para vir. No próximo capítulo, se Deus quiser.

A. M. Pires Cabral

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