[1931.11.13 – 2005.12.02] |
Nada é eterno, mas a sua obra será a sua eternidade, na singular cultura que emanava do seu espírito acolhedor, nos seus gestos mais improváveis, na bondade, caridade enquanto valores universais, evidenciavam grande vulto da nossa história.
Homem de sabedoria sagaz, grande investigador e difusor da cultura transmontana, unia em silêncio o que estava disperso, e assim renascia o Arquivo Distrital de Bragança, sendo o seu impulsionador de grande persistência e guardião das memórias.
Nas palavras do Dr. Hirondino da Paixão Fernandes “ Partir é sempre ficar, diz o nosso povo, com o acerto, a concisão e a elegância (pese, embora, a citadinos de mau ajuizar) que são seu apanágio. Nado e criado no seio deste mesmo povo (que Belarmino Afonso, também nele nado e criado, tanto amou), de momento não achamos nada melhor, cremos, que este verso — de certa quadra do nosso folclore, usual noutro contexto, mas com pleníssima aplicação neste — para traduzir esta ausência/presença do Cónego Dr. Belarmino Afonso. Belarmino Afonso partiu …há dias (há tanto tempo!), mas continua nos nossos corações; partiu…há dias (há tanto tempo!), mas continua nas nossas almas — à nossa frente, a nosso lado, a toda a nossa volta deixou títulos sobre títulos que … ficaram a marcar indelevelmente a sua presença: quantos referimos abaixo, e não sabemos se mais algum. Não, ficou mais um, pelo menos, a lembrá-lo: essa monumental “Brigantia”, verdadeiro “monumentum aere perennius” que erigiu — sabemos com que esforço — e que, quando todas as memórias vivas (do Homem, do Sacerdote, do Professor, do Investigador, do Director, do Amigo …) se apagarem, o fará sempre lembrado. “Partir é sempre ficar / No pensamento de alguém” reza o dístico final da quadra que que nos deu o presente título — afirmação de inteira justeza: partindo, Belarmino Afonso ficou … é só olhá-lo, lá em cima, no alto do pedestal que, em vida, soube erguer, e de onde, agora, nos contempla. Que bom se soubéssemos e pudéssemos e quiséssemos — quem não quererá/quereria?! — seguir-lhe os passos que deu em vida !… Nascido em Castro Vicente (Mogadouro), em 1931. 11. 13, segundo reza o respetivo registo civil, e faleceu em Coimbra, em 2005. 12. 02. Tendo ingressado aos 12 anos no Seminário de Vinhais, terminou o Curso Teológico no Seminário Maior de Bragança, em 1956. Incentivado por “amigos professores”, como disse no seu “Curriculum” (1992), fez o 7º ano dos liceus, vindo a licenciar-se em História (UC, 1968). Em 1973. 08. 10 terminou, no Liceu José Falcão (Coimbra), o estágio para professor do quadro e em 1975, no Arquivo Geral da Universidade, também de Coimbra, o de Bibliotecário e Arquivista. Foi professor (Português, Latim e Francês) no Seminário de Vinhais (1956-1962), no Externato Liceal Guerra Junqueiro, de Freixo de Espada à Cinta (1962-1968), na Escola Preparatória Augusto Moreno, de Bragança (1969-1970), no Liceu Emídio Garcia, da mesma cidade (1970/72, 1973/74 e 1975/76), no Liceu José Falcão, de Coimbra (1972/73 e 1974/75), na Escola do Magistério Primário, de Bragança (1976-1985), e, finalmente, na Escola Superior de Educação, também de Bragança. Foi diretor da Biblioteca Pública e Arquivo Distrital da dita cidade (1985-2000), fundou o Grupo Etnográfico de Babe e foi representante do IPPC no Acordo de Cooperação Técnico-Financeira com a União das Misericórdias, junto da Misericórdia de Bragança. Promoveu diversas atividades etnográficas (exposições, “semanas”, etc.), participou em múltiplos congressos, mesas-redondas, etc., tendo proferido várias palestras (no “Curriculum” abaixo referido menciona 18) e comunicações (idem, 22+16, desde então até ao ano 2000, segundo posterior adenda manuscrita, no nosso exemplar). Deixou colaboração em “Amigos de Bragança”, “Boletim Cultural e Informativo” (da Casa dos Transmontanos e Alto-Durienses do Porto), “Brigantia” (que fundou e dirigiu), “O Distrito de Braga”, “Mensageiro de Bragança” (que dirigiu entre 1979. Julho e 1980. 04. 25), “Mensário das Casas do Povo”, “Novidades” (de que foi correspondente entre 1956 e 1962, em Vinhais), “Revista de Dialectología y Tradiciones Populares”, “Terras de Mogadouro” e “Trabalhos de Antropologia e Etnologia” (UP). Usou as iniciais B. A. (com alguma frequência), A. A. (raramente) ou simplesmente A. (mais raramente ainda) e os pseudónimos Lobo Patudo (crónicas esporádicas em “MB”, “a partir de 1971/1972”, segundo o próprio, na secção reservada aos Escuteiros, de que foi assistente regional) e António Brunhoso (uns dois ou três artigos, também em “MB”). Reitor de Babe desde 1989 (“MB”, 1989. 12. 22, p. 4) e cónego desde 2000. 02. 13, foi sócio da Sociedade Martins Sarmento (Guimarães), da Sociedade de Antropologia e Etnologia (Porto), da Sociedade de Antropologia (Lisboa) e sócio correspondente da Academia Portuguesa da História. É um dos mecenas da “Bibliografia do distrito de Bragança”, de que esta nota é extracto — pelo estímulo que nos deu, dia a dia renovado com vista à sua prossecução, pela ajuda sempre empenhada na abertura de caminhos que um tão longo desenvolvimento como o que sonhámos necessariamente implica, pelo apoio logístico dos quatro volumes (série ‘Documentos’) já trazidos à luz do dia”. Por Hirondino da Paixão Fernandes.
Quem privou com o Mestre, sentiu o significado mais íntimo das palavras: Paz, Amor, Fraternidade, Solidariedade, Sabedoria, Espiritualidade.
Gratidão ecoa nos nossos corações, a 13 de novembro faria 92 anos.
Fonte: Arquivo Distrital de Bragança
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