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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 15 de setembro de 2024

BELHEÇ - VELHICE, de Francisco Niebro (Amadeu Ferreira)

 
Sinopse:

Ne ls anhos cinquenta de l século xx un bielho de uitenta anhos, nua aldé stramontana, senta se to ls dies ne l puial de la sue puorta de casa i bei l mundo a passar nas pessonas de la sue tierra. Este libro pretende ser l que esse tiu haberá screbido.

L oureginal mirandés ye acumpanhado de ua bersion an pertués de apoio para leitura.

Nos anos cinquenta do século xx um velho de oitenta anos, numa aldeia transmontana, senta-se todos os dias no poial da sua porta de casa e vê passar o mundo nas pessoas da sua aldeia. Este livro pretende ser o que esse velho teria escrito.

O original mirandês é acompanhado de um apoio para leitura em português.

O autor:

Fracisco Niebro é um dos pseudónimos de Amadeu Ferreira (1950, Sendim, Miranda do Douro). Presidente da ALM (Associaçon de Lhéngua i Cultura Mirandesa) e da Academia de Letras de Trás-os-Montes, é ainda vice-presidente da CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários) e professor convidado da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa.

Autor e tradutor de uma vasta obra em português e em mirandês, também sob os pseudónimos Marcus Miranda e Fonso Roixo. Traduziu Mensagem, de Fernando Pessoa, obras de escritores latinos (Horácio, Virgílio e Catulo), Os Quatro Evangelhos e duas aventuras de Astérix.

Na Âncora Editora publicou as traduções para a língua mirandesa de Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, e uma edição comemorativa dos 25 anos da adaptação daquela obra para banda desenhada por José Ruy, com quem também colaborou no álbum Mirandês – História de uma Língua e de um Povo, e correspondente versão em mirandês. É autor de La Bouba de la Tenerie / Tempo de Fogo, primeiro romance publicado simultaneamente em mirandês e português, e das obras Norteando, com fotografias de Luís Borges, Ars Vivendi Ars Moriendi (poesia), Lhéngua Mirandesa – Manifesto an Modo de Hino / Língua Mirandesa – Manifesto em Forma de Hino e Ditos Dezideiros – Provérbios Mirandeses.

in:altm-academiadeletrasdetrasosmontes.blogspot.pt

Pare, Escute, Olhe - VALE A PENA RECORDAR...COM SAUDADE... Uma hora e 41 minutos de nostalgia

III Festa da Vindima e da Amêndoa em Talhas

 No próximo fim-de-semana vai decorrer a III Festa da Vindima e da Amêndoa, promovida pela Junta de freguesia de Talhas.
Dois dias dedicados à amêndoa e ao vinho com muita animação e diversas atividades, entre as quais jogos tradicionais, o SusTEC SummerSchool, a caminhada das vindimas, e uma exposição fotográfica.

𝐀𝐛𝐫𝐞𝐢𝐫𝐨 𝐜𝐞𝐥𝐞𝐛𝐫𝐚 𝐨 𝐅𝐢𝐠𝐨 𝐞 𝐨 𝐬𝐞𝐮 𝐏𝐚𝐭𝐫𝐢𝐦𝐨́𝐧𝐢𝐨 𝐝𝐞 𝟐𝟏 𝐚 𝟐𝟐 𝐝𝐞 𝐬𝐞𝐭𝐞𝐦𝐛𝐫𝐨.

 𝐀𝐛𝐫𝐞𝐢𝐫𝐨 𝐜𝐞𝐥𝐞𝐛𝐫𝐚 𝐨 𝐅𝐢𝐠𝐨 𝐞 𝐨 𝐬𝐞𝐮 𝐏𝐚𝐭𝐫𝐢𝐦𝐨́𝐧𝐢𝐨 𝐝𝐞 𝟐𝟏 𝐚 𝟐𝟐 𝐝𝐞 𝐬𝐞𝐭𝐞𝐦𝐛𝐫𝐨. Não perca ainda um dos mais belos passeios pedestre do concelho de Mirandela! Inscrições já abertas!
A apresentação do Caminho Português de Santiago de Leon de Rosmithal, que contará com uma representação teatral, integra a programação da Feira do Figo e do Património de Abreiro.

Vamos ao Teatro Municipal de Bragança, conhecer a Lina e seus Músicos...?

 Mais uma vez o regresso à minha terra está quase aí ! Bragança , mais propriamente Aveleda uma aldeia de Trás-os -Montes onde as minhas raízes se fixaram e onde cresci rodeada de natureza e pessoas simples.
O Teatro Municipal de Bragança volta a abrir-me as portas para vos cantar o último álbum Fado Camões.

Espero ver-vos por lá no próximo dia 28 de Setembro.

𝟭𝟱 𝗱𝗲 𝘀𝗲𝘁𝗲𝗺𝗯𝗿𝗼 𝗱𝗲 𝟭𝟴𝟱𝟬 - 𝗡𝗮𝘀𝗰𝗶𝗺𝗲𝗻𝘁𝗼 𝗱𝗼 𝗽𝗼𝗲𝘁𝗮 𝗳𝗿𝗲𝗶𝘅𝗲𝗻𝗶𝘀𝘁𝗮, 𝗔𝗯í𝗹𝗶𝗼 𝗚𝘂𝗲𝗿𝗿𝗮 𝗝𝘂𝗻𝗾𝘂𝗲𝗶𝗿𝗼

 Há 174 anos atrás, no dia 15 de setembro de 1850, nascia aquele que viria a ser o grande poeta freixenista, Abílio Guerra Junqueiro.


Nascido no concelho de Freixo de Espada à Cinta e com raízes em Ligares, desde cedo que Guerra Junqueiro se destacou enquanto defensor das causas sociais, das injustiças e da corrupção. Foi sempre um extremo promotor da defesa da educação, da liberdade e da democracia.

O gosto pela arte e pela literatura levaram-no a ser considerado como um dos maiores e melhores da sua geração, um legado que ficará para sempre impregnado na literatura, na cultura e na sociedade portuguesa.

O seu amor pela Terra Natal e as suas memórias de infância ficaram também plasmadas nas obras literárias com que presentou o País e o Mundo, sobretudo "Os Simples".

Em 2023 assinalou-se o Centenário da sua morte e Freixo de Espada à Cinta foi, a par de Municípios como o Porto, Lisboa e Viana do Castelo, um dos grandes impulsionadores e defensores da memória de Guerra Junqueiro, tendo realizado e continuando a promover, até final de 2024, diversas iniciativas culturais neste âmbito, com o objetivo de assinalar e perpetuar este marco histórico, assim como de honrar a memória e homenagear a vida e obra de Guerra Junqueiro.

Hoje recordamos o nascimento de Guerra Junqueiro, uma figura ímpar e imortal, um símbolo literário e cultural nascido no concelho de Freixo de Espada à Cinta e um nome incontornável do Mundo, que perdurará para sempre na memória de todos como um dos maiores poetas/escritores da literatura portuguesa.

Descansa em Paz Companheiro!

 Rosa, Catarina, Tiago... Os amigos e amigas de Bragança estão convosco nestas horas de tanto sofrimento.

sábado, 14 de setembro de 2024

Saiba mais sobre a migração de Outono das aves

 O Verão está quase a terminar e os voos buliçosos dos andorinhões desapareceram das cidades e aldeias. Milhares de aves estão a atravessar o Estreito de Gibraltar rumo a África, onde terão alimentação assegurada durante os meses de Inverno. Saiba mais sobre uma das épocas mais importantes para as aves.

Toutinegra-de-barrete (Curruca capirotada). Foto: Rafa Irusta/Shutterstock

Em cada Primavera e Outono, as aves empreendem longas e arriscadas viagens entre as suas áreas de reprodução e de invernada. A Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife) é uma das organizações que estuda este fenómeno – já o faz há 70 anos -, uma vez que a migração é um processo que “permite conhecer melhor o funcionamento dos ecossistemas e dos processos ecológicos, sendo além disso uma ferramenta de alerta para alterações ambientais globais, como a perda de habitats ou alterações climáticas”, explica a organização em comunicado.

Bútio-vespeiro. Foto: Dennis Jacobsen/Shutterstock

Nem todas as espécies e nem todas as populações começam a sua viagem migratória ao mesmo tempo. Por exemplo, os bútios-vespeiros (Pernis apivorus), que começaram a ir-se embora nos últimos dias de Agosto, vão continuar a chegar desde o Norte da Europa nas próximas semanas. Segundo a SEO/Birdlife, chegam a atravessar o Estreito de Gibraltar um total de 60.000 indivíduos todos os anos. Esta será a segunda ave de rapina que em maior número se desloca até África, depois do milhafre-preto (Milvus migrans) que, praticamente quadruplica este número, com mais de 200.000 aves.

O Estreito de Gibraltar é uma ponte crucial para as aves já que liga a Península Ibérica ao Norte de África mas também o Mediterrâneo ao Atlântico. Neste caso, são as pardelas que constituem o maior contingente. Os adultos começam primeiro a migração e os juvenis seguem a mesma rota alguns dias depois.

Dezenas de milhares de pardelas-baleares (Puffinus mauretanicus), espécie Criticamente Em Perigo, pardelas-sombrias (Puffinus puffinus) e cagarras-do-mediterrâneo (Calonectris diomedea) atravessam este braço de mar até ao oceano, onde se expandem até chegar, inclusivamente, às costas do continente americano.

Mas também existe uma importante migração latitudinal que afecta outras aves marinhas que nidificam nas ilhas do Norte da Europa. Entre estas destacam-se os gansos-patolas (Morus bassanus) – a maior ave marinha que ocorre habitualmente em águas portuguesas, segundo o portal Aves de Portugal -, que podem ser observados a partir da costa cantábrica e atlântica, sobretudo a partir dos cabos mais proeminentes, como o Cabo Carvoeiro, o Cabo Espichel e o Cabo Sardão.

Ganso-patola. Foto: Kuttelvaserova Stuchelova/Shutterstock

Estas aves deslocam-se em grupos de centenas de indivíduos e lançam-se nas águas marinhas como setas para perseguir as suas presas debaixo de água.

A SEO/Birdlife lembra que “as mais pequenas das aves migratórias – passeriformes como os papa-moscas, as toutinegras, as felosas, entre muitas outras – não se vêm tão obrigadas como as grandes aves planadoras a utilizar esse estreito”. Mas ainda assim, e apesar do seu tamanho pequeno, cruzam enormes superfícies de mar onde não podem pousar nem alimentar-se. “Muitas chegam exaustas a terra, com frequência a ilhas ou ilhéus do Mediterrâneo e no oceano Atlântico, onde conseguem recuperar forças para continuar a sua viagem extenuante.”

Helena Geraldes

𝗕𝗿𝗮𝗴𝗮𝗻𝗰̧𝗮 é um local privilegiado para a observação de veados no seu habitat natural, em qualquer altura do ano.


 Neste período é possível ouvir os machos a defender e reclamar os territórios, atraindo as fêmeas. 𝗢 𝗰𝗿𝗲𝗽𝘂́𝘀𝗰𝘂𝗹𝗼 𝗲 𝗮 𝗺𝗮𝗱𝗿𝘂𝗴𝗮𝗱𝗮 𝘀𝗮̃𝗼 𝗮𝘀 𝗮𝗹𝘁𝘂𝗿𝗮𝘀 𝗱𝗼 𝗱𝗶𝗮 𝗺𝗮𝗶𝘀 𝗽𝗿𝗼𝗽𝗶́𝗰𝗶𝗮𝘀 𝗽𝗮𝗿𝗮 𝗲𝘀𝘁𝗲𝘀 𝗮𝘃𝗶𝘀𝘁𝗮𝗺𝗲𝗻𝘁𝗼𝘀. Além da observação direta, pode recorrer ao uso de binóculos para observar os animais mais distantes ou visualizar pormenores e comportamentos de determinados indivíduos. Aproveite e leve a sua máquina fotográfica. Estes são momentos que quererá registar, para sempre. 𝗡𝗮𝘁𝘂𝗿𝗮𝗹𝗺𝗲𝗻𝘁𝗲!Contudo, a 𝗕𝗿𝗮𝗺𝗮 𝗱𝗼𝘀 𝗩𝗲𝗮𝗱𝗼𝘀, que acontece na época de acasalamento, de setembro a outubro, é um espetáculo único, inesquecível e um dos momentos altos do calendário natural do 𝗣𝗮𝗿𝗾𝘂𝗲 𝗡𝗮𝘁𝘂𝗿𝗮𝗹 𝗱𝗲 𝗠𝗼𝗻𝘁𝗲𝘀𝗶𝗻𝗵𝗼!

Imagem de Rui Paulo Fotografia, presente no livro “Bragança. Diferentes Olhares e Perspetivas”, editado pelo Município de Bragança.

Colisão frontal provoca três feridos em Sobreiró de Baixo

 Uma colisão frontal, no cruzamento de Sobreiró de Baixo e Alvaredos, no concelho de Vinhais, provocou este sábado três feridos ligeiros, ao quilómetro 223 da Estrada Nacional 103.


O alerta foi dado pouco depois das 13 horas.

"Tratou-se de uma colisão frontal. O trânsito esteve fechado mas agora a circulação faz-se de forma alternada. O acidente resultaram três feridos ligeiros", confirmou ao Mensageiro o comandante dos bombeiros de Vinhais, Carlos Ferreira.

Os feridos são dois homens, de 72 e 40 anos, que seguiam num primeiro veículo, e uma jovem, de 20 anos, que seguia no outro.

No local estiveram 14 homens apoiados por cinco viaturas.

António G. Rodrigues

Na próxima sexta-feira, dia 20 de setembro pelas 21h30, o Centro Cultural de Macedo de Cavaleiros recebe o cantor Jorge Palma.

 Compositor e intérprete admirado pelos colegas, amado pelo público, demasiado célebre para o papel de génio obscuro, demasiado genuíno e rebelde para ser um músico previsível e formatado.


A sua obra contém canções amplamente transversais com temas como “Frágil”, “Deixa-me Rir”, “Dá-me Lume” ou “Encosta-te a mim”, que se tornaram hinos intemporais.

Vicente Palma e Gabriel Gomes (ex-Madredeus e Sétima Legião), são os dois músicos que o acompanham no seu formato acústico. Vicente surge na guitarra, no piano ou na voz, acompanhando Jorge Palma em alguns dos temas que juntos já tocam há mais de uma década. Gabriel Gomes oferece a sonoridade do seu acordeão para criar ambientes verdadeiramente íntimos e especiais

Aceite o nosso convite e garanta já o seu lugar neste espetáculo recheado de boa música!

O bilhete tem um custo de 10€ e pode ser adquirido presencialmente no Centro Cultural ou através do telefone 278 428 100. 

Horário da bilheteira:

 Dia útil
10h00 - 12h30 | 13h30 - 17h00 
 Dia de espetáculo
16h00 - 18h00 | 20h30 - 21h30

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

A viagem…

 
A viagem não tem regras. O caminho é o nosso caminho. A viagem começa e termina e ninguém sabe onde fica e quando chega a última paragem..
Honestidade. Coragem. Amor. Seriedade e solidariedade. Empatia. Trabalho. Responsabilidade… Mãos dispostas a ajudar e “coração” disposto a “escutar”… E SONHO. O sonho comanda a vida… “como pedra colorida”…
Nascemos e vamos crescendo como se tivesse que ser SÓ assim, como nos moldaram... Como se estivesse escrito que é e será sempre assim. Não como nós queremos mas como querem os outros, quando temos a certeza que nascemos para fazer algumas coisas de maneira diferente… 
A ser verdade essa percepção da vida que piada tinha? Seríamos sempre e para sempre, umas cópias uns dos outros.
A ser verdade tudo o que nos foram dizendo, que piada tinha viver? Seria sempre, mais do mesmo.
A vida é a descoberta do NOSSO dia-a-dia. A vida são as surpresas e também as previsões e que nunca falhem e nos tragam felicidade.
A nossa vida é feita de sorrisos e lágrimas, de conquistas e derrotas, de amor e ódios. A vida de todos... 
A vida, a nossa vida, a de todos, tem um começo e um fim que nem todo o dinheiro do mundo consegue evitar.
Mas… na nossa vida temos que ser nós a mandar. Mais ninguém! Só temos uma... e somos os únicos donos dela.
Quem estabeleceu as “normas” podia estar errado.
Quero gritar “aos 4 ventos” que vos AMO meus filhos… com toda a força da minha alma e do meu coração.
Amanhã…. Podia ser tarde. Como nunca fui muito adepto e muito menos praticante do “politicamente correto” fica aqui mais este beijo e apeteceu-me dá-lo agora.

HM

🌟 Feira dos Gorazes 2024: Inscrições e Regulamento 🌟

 Visite o nosso site, consulte o regulamento e tenha acesso à ficha de inscrições AQUI.

𝗣𝗿𝗲́𝗺𝗶𝗼 𝗟𝗶𝘁𝗲𝗿𝗮́𝗿𝗶𝗼 𝗱𝗮 𝗟𝘂𝘀𝗼𝗳𝗼𝗻𝗶𝗮 𝗣𝗿𝗼𝗳𝗲𝘀𝘀𝗼𝗿 𝗔𝗱𝗿𝗶𝗮𝗻𝗼 𝗠𝗼𝗿𝗲𝗶𝗿𝗮

 Estão abertas as inscrições para a 4.ª edição do 𝗣𝗿𝗲́𝗺𝗶𝗼 𝗟𝗶𝘁𝗲𝗿𝗮́𝗿𝗶𝗼 𝗱𝗮 𝗟𝘂𝘀𝗼𝗳𝗼𝗻𝗶𝗮 𝗣𝗿𝗼𝗳𝗲𝘀𝘀𝗼𝗿 𝗔𝗱𝗿𝗶𝗮𝗻𝗼 𝗠𝗼𝗿𝗲𝗶𝗿𝗮, promovido pelo Conselho de Curadores da Biblioteca Adriano Moreira, tendo como entidade promotora a Academia de Letras de Trás-os-Montes e a colaboração do Município de Bragança, do Instituto Politécnico de Bragança e da Diocese de Bragança-Miranda.

➡ Um Prémio que visa contribuir para a divulgação e prestígio da obra de autores da Lusofonia.

🔗 Mais informações e regulamento completo disponível AQUI.

Mirandela acolhe a segunda edição do jantar de gala "𝐄𝐦𝐩𝐫𝐞𝐞𝐧𝐝𝐞𝐝𝐨𝐫𝐢𝐬𝐦𝐨 𝐧𝐨 𝐅𝐞𝐦𝐢𝐧𝐢𝐧𝐨" a 27 de setembro. Inscrições abertas.

 Promovida pelo NERBA e com o apoio da Câmara Municipal de Mirandela, esta atividade surge com o propósito de valorizar e reconhecer o grande valor do trabalho no FEMININO.

🔗 inscrições até 16 de setembro AQUI.

Seminário de São José em Bragança vai acolher estudantes num protocolo estabelecido entre Diocese e IPB

 O Seminário diocesano São José, em Bragança, vai acolher estudantes bolseiros do Instituto Politécnico de Bragança


Esta manhã, a Diocese Bragança-Miranda e o IPB assinaram um protocolo no âmbito do programa "Alojamento Estudantil Já", que permite o reforço de camas, tendo em conta as carências neste âmbito.

Para o Bispo, D. Nuno Almeida, esta é uma forma de aproximar os jovens da diocese, mas também dar utilidade às instalações. “Tendo o seminário com disponibilidade, podendo oferecer alojamento, criámos aqui o serviço, damos vida a uma casa e estamos a seguir as orientações que a Santa Sé nos transmite, de sempre que há um edifício que não tem o uso original, procurarmos usá-lo para algo semelhante e algo que seja bom e útil para a sociedade”, frisou.

O protocolo estará em vigor durante este novo ano lectivo. Foram disponibilizadas 20 camas para os estudantes. “É quase um piso inteiro do seminário que será disponibilizado aos estudantes do IPB, que tem excelentes condições, são quartos individuais, com casa de banho privativa, com condições de estudo, há espaços comuns que os estudantes também poderão utilizar e, portanto, as condições são muito boas e este acordo permitirá aproximar os nossos alunos da diocese”, adiantou o presidente do Politécnico de Bragança, Orlando Rodrigues.

O programa "Alojamento Estudantil Já" consiste na criação de protocolos entre as instituições de ensino superior e entidades públicas, privadas e do sector social.

A medida financia cerca de 60 camas para alunos do IPB. Orlando Rodrigues considera este número insuficiente para as necessidades. “Ainda não atingimos esse limite. Naturalmente que seriam necessárias muitas mais, mas o financiamento que temos é para essas. Estamos também em negociações em Mirandela, com instituições sociais e com privados também e esperamos aí disponibilizar algumas camas, até porque não temos residências e se aqui em Bragança surgirem outras oportunidades, certamente que o faremos também”, frisou.

Das 60 camas financiadas, já foi assinado esta manhã o protocolo para atribuição de 20. Os alunos que sejam bolseiros podem ficar este ano lectivo 2024/2025 no Seminário de São José, em Bragança.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Ângela Pais

IDA AOS TRALHÔES

Por: Luís Abel Carvalho
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Quando Dominguinhos chegou a casa, perguntou-lhe a Mãe:
      - Atão o pitrolho?
      - Ich... alembrei-me! Mas bou l´agora – disse de modo atrapalhado, rodopiando sobre o calcanhar esquerdo.
      - Pois é! Encomenda sem dinheiro esquece-se no primeiro ribeiro.  Agora já no é preciso – disse a Mãe sorrindo da atrapalhação do filho . – Eu já lá fui. Agora anda cá a  cumer, qu´inda hoje no comestes nada.  Já sei o qu´aconteceu à baca do ´Smael. Quanto mais pobres mais azares tenem!! – disse enquanto enchia a malga de caldo de feijões.
        Dominguinhos engoliu de sopetão a malga do caldo sentado no banquinho de madeira feito pelo Ti Domingos Carpinteiro, com um buraquinho no meio. ( Não sabemos qual o propósito desse buraquinho; se para facilitar a mobilidade do mesmo, se para corresponder ao objectivo do buraco nos catres dos monges e astecas ). Meteu uma mão cheia de figos secos no bolso e dirigiu-se à porta.
  -  Anda cá rapaz. Prondé que já bais todo alceiro, filho de Deus?
  - Bou ter co ´Smael e lebo-le um punhado de figos.
   A Mãe ficou enternecida com o acto solidário do filho. 
   - Bais daqui a um cibo, ´stá bem? E leba-le tamãe este bocado de pão e queijo.
   -  Dê-mo cá, atão. Mas porqu´é que no posso ir agora?
   - Agora tanho que talhar a cabaça e as nabiças prá bianda das crias e dos porcos e tu tães qu´embalar a menina.  Daqui a nada tchega aí o teu Pai tcheio de fome.
  - Mas a Mãe  pode fazer isso tudo sozinha!!
  - Sozinha?! Cumo?! Atão tu no bês ca menina stá a tchorar e preciso di a embalar?!
   - Assim. Ó ...faiz assim. Quer ber? Sante-se aqui nesta cadeira. Põe aqui um pé no berço e  embal´á  menina, põe o alguidar no regaço e coas mãos talha as cabaças e as nabiças! 
      Desmontou tudo com uma simplicidade tal, que a Mãe só teve um sorriso de orgulho e de amor para lhe passar carinhosamente a mão pelo cabelo. E lá foi para o seu sonho: as ratoeiras dos tralhões. O mundo era dele e o sonho esperava-o.
        Era Ismael e Dominguinhos que faziam as suas próprias ratoeiras com arame da vinha para os aros e o " tchabilhão " e arame fino de aço para as molas e para a grileira. Tudo isso pregado a dois pedaços de madeira em cruz. Iam ao pormenor de as fazer com a mola mais forte ou mais fraca! Precisavam apenas de arame, um martelo e um alicate!
         Um dia Caetano reclamava desesperado:
     - Rais partá sorte. Já nem pra biber ganhemos. Só de caso tibesse saúde, ia pró Brasil.
     - Ias e dexá-bas-m´aqui sozinha co ganau. E pagabas a biage com que dinheiro?
     - Pediamo-sio emprestado. O Lérias tamãe o pediu ó Januário.
     - Pois pediu, mas hipotecou-l´o lameiro da Por Deus! E nós, o qu´é que temos pra dar de bolta? – desarmou-o a mulher. – E além do mais, ondé qu´ irias tu sem capa nem capote, tchairel cmo ´stás?
      - Tães rezão, mulher. Era só um suponhor – disse em tom completamente derrotado.
      - Bá...Tudo s´hád´arranjar coa graça de Deus – animava-o a mulher.
     - Eu bem bejo as garotas a preciar de roupa e de calçado. O nosso ´Smael já me pediu uns sapatos.
      - Si os num tiberem, andam descaços c´mós oitros, que num morrem por bia disso. Calcei as minhas primeiras socas já eu tinha onz´anos e num morri!
     - Pois ´stá bem, mas a nossa Guidinha já num ´sta na idade d´andar descalça. Já tãe bergonha.
     -  Bou ber s´Abó do Dminguinhos tãe lá alguma roupa que dê pró nosso ´Smael.
         A amizade entre Ismael e Dominguinhos era incentivada pela Dona Albertina, devido à amizade e estima que tinha por Deolinda e pelo Caetano, mas mais pela Deolinda, por um motivo ainda desconhecido da Deolinda.
       Quando um dia Deolinda foi a casa da senhora Adelaide, perguntar se tinha alguma roupa que Dominguinhos já não usasse, D. Albertina abriu o coração: 
       - Ó m´nha filha, canto o meu Artur sofreu por ti!!
        - Por mim?! Ess´é boa...
        - Sim, por ti. Sofreu calado, sem nada decer a ninguém. Só eu o sabia!
         - Mas que grande nobidade me dá, Ti´Albertina!!
        - É assim mesmo cmo te digo: Muntas bezes eu tamãe sofri por i o ber a sofrer . Mas deixa lá, que tamãe casastes cum home às direitas. Por o menos, gostemos todos munto do Queitano.
       - Coa graça de Deus, tibo munta sorte, no desfazendo do Artur. Mas juro-le  pel´alminha dos meus filhos que nunca futurei tal cousa. 
      - Num é por ser meu filho, mas é uma jóia de rapaz. Mas isso agora já são augas passadas – disse num gesto como quem afasta algo. – Tudo o que precisaares pró teu ´Smael, no t´acanhes.
       - Obrigadinho. A Senhora Albertina tem-me balido munto.
      - Agadece a Deus a familha que te deu. Mas tamãe gostemos munto da Rosário, qu´é munto boa rapariga: boa mulher pró meu Artur e boa Mãe pró meu Dminguinhos e prá Amparinho( Maria do Amparo).
           Como Ismael era mais pequeno e mais magro do que o Dominguinhos, a roupa lutava em vão para encontrar o corpo de Ismael, que bailava dentro da roupa larga, apesar da Deolinda a ir apertando e encolhendo.
            Uma outra razão de fomentar a amizade entre os dois garotos, era  porque Ismael era calmo, sossegado, inimigo de brigas e aventureiro, tal como Dominguinhos. Ambos tinham igual fascínio por pássaros, por um banho proíbido no ribeiro ou no rio, por amoras, por pescar peixes no Sabor, pela fisga, pelas ratoeiras, pelo pião, por dar uns pontapés numa bola de trapos e também por roubar cerejas, melões e outras frutas, muitas vezes aos próprios avós do Dominguinhos. Certo dia, um grupo de seis ou sete  raparigos foram aos pêssegos no Prado. Havia os melacotos e os de “ `scatcha”.  Por descuido, um deles partiu uma grande pernada do melacoto. Fugiram todos assustados. Dois dias depois, Dominguinhos foi ao terreno com a Mãe e ouviu-a praguejar como nunca: “  ´Scamongados dos infernos. Diabos do inferno. No se le partirem as patas a quem fez isto. Que lindo serbiço! ´Sgalharam-me o pessegueiro todo! No se tolherem as mãos ós malbados do demónio ”.
           Dominguinhos tremia todo de medo.
            Uma manhã Dominguinhos foi a casa de Ismael chamá-lo para irem aos ninhos e viu-o comer batatas cozidas, sem peguilho, duma panela de ferro, com as mãos e sem azeite. Uma voz de justiça e de revolta clamou mais alto dentro de si e Dominguinhos sentiu um arrepio na espinha  e um desconforto imcompreensível.  Mesmo quando iam sair de casa, Ismael meteu ao bolso meia cebola e uma tomate que estavam em cima da mesa, além dum punhado de figos secos, para repartir com o amigo. Passaram a manhã aos ninhos percorrendo olivais, lameiros e amendoais, mas Dominguinhos estava inquieto  com algo a atormentar a sua alma pura de criança.
            Passou o dia todo incomodado, triste e atormentado. Quando chegou a casa contou o sucedido à Avó e esta mandou-lhe levar um garrafão de cinco litros de azeite. Não há nada mais agregador e comovente do que um gesto de compaixão e de desinteressada estima.
       A amizade entre aqueles dois garotos estava acima de qualquer maldade humana e  cimentada com suor e lágrimas. Como diz o Aquilino : “  A amizade é a única providência cautelar dos nossos passos transitórios “.                 
             Num Domingo à tarde, depois de assistirem ao Santo Sacrifício da missa, e tal como combinado, depois do jantar, Dominguinhos e Ismael foram ao Pinhal da Franga, colher duas cabaças na horta do Avô de Dominguinhos.  Escolheram as  duas que melhor se adaptavam à função e cortaram-nas mais ou menos pelo meio, onde adelgaçavam. Colocaram-nas em cima duma fraga  a secar ao sol. Iam combinando e acertando pormenores da empresa de que  se iriam ocupar nas próximas semanas.
        Efectivamente, nas semanas seguintes,  passaram  os  dois  Sábados e as tardes  dos  dois  Domingos de volta das ratoeiras na varanda dos avós de Dominguinhos – isto porque Domingos de manhã tivnham que ir à missa.  Embalados no sonho e no êxtase, nem deram pelo passar do tempo. Com arame da vinha – que roubaram aos avós de Domingos dum rolo pendurado num prego na adega, com  uns metros  de arame de aço do pneu dum carro, com uns pedaços de madeira, um  serrote, um alicate e um martelo, tudo isso aliado à imaginação fértil, conseguiram fazer trinta e cinco ratoeiras!
-   Ó Clementina, no bistes por aí o meu `Smael?
- ´Staba agora  mesmo co Dominguinhos na baranda em roda das ratoeiras!
- Que consumição... Aquel rapaz só bê tralhões e ratoeiras. Inté s´olbida de bir  a comer .
- Atão que le queres? Os garotos são imbicionados nos tralhões.
- Mas o meu ´Smael é uma cousa sem conta!. Arre tchiça, qué demais!! – barafustou.
- Há os piores – condescendeu a Clementina.
     Ismael chegou sorrateiro já ao cair da tarde.
- Atão isto é que são horas de tchigares? – perguntou-lhe a Mãe nada meiga.
- Oh...`Stibo co Dminguinhos. Inté ciei em casa dele. – desculpou-se.
- De berdade? Atão no teins fome?
- Não Senhora.
               Entretanto, como  já  tinham ido ao  Pinhal da Franga colher as duas cabaças  em forma de guitarra – ou em forma de uma mulher esbelta, no pensamento dos adultos -   e também já as tinham  cortado  mais ou menos a meio,   e  exposto ao sol a secar, parte do trabalho já estava feito.  Com uma navalha e dois pedaços de cortiça, modelaram duas rolhas  à medida e, com um arame em brasa, furaram as cabaças   e passaram a chamar-se  “ cabaço das aludras “.  Também já lhes tinham tirado previamente  todas as pevides. Muitos substituíam o cabaço por uma lata de tinta , também furada.
        De sacho às costas e com os cabaços a tira colo, saíram a meio da manhã à procura de aludras.  Procuraram em terrenos arenosos – terrenos “ sairinhos”.  Foram até ao Sesmo.  Seguiram os carreiros no chão que iam dar a umas fragas de pequenas dimensões. Levantaram as pedras e só viram os buracos redondos por onde entravam e saíam as formigas na terra seca, arenosa.  Cavaram até fundo, mas nada de aludras. Com o calor a apertar regressaram a casa desiludidos, de mãos vazias,mas com uma solução na cabeça para o dia seguinte. Pelo caminho foram à vinha do Ti Belmiro e colheram uns cachos de “ Códega do Larinho “  e meteram o cango nos respectivos cabaços, que serviria para  alimento das aludras.
           Na tarde seguinte, depois do jantar com um bonito sol a aquecer a vida, lá foram novamente os dois com o sacho  às costa e os cabaços e uma cantarinha de lata cheia de água. Voltaram ao mesmo sítio do dia anterior. Cavaram um pouco mais fundo e em mais dois  locais. Em todos eles havia o caminho que denunciava a presença das aludras. Agora era uma questão  de aplicar a  observação à prática. Despejaram um pouco de água  onde tinham cavado e esperaram. 
           Enquanto esperavam e visto que Dominguinhos punha pouca fé na “ tecnologia natural”, disse:
     - Só de caso no apanharmos ninhuma, bamos ós grilos à Moreirinha do meu Abô, que debe haber lá muntos por baixo das erbeiras das batatas, qu´ias andaram ápanhar num há munto tempo.
     - No há-de ser preciso – respondeu-lhe Ismael convicto do sucesso da empreitada.
      Quando por algum motivo não conseguiam as aludras, usavam os grilos como isco, mas só  na falta daquelas.
                Ainda não tinham passado dez minutos e já as benditas aludras viam a luz do dia e espreguiçavam as suas asas brancas prateadas, reluzentes e transparentes ao sol quente. Era um regalo vê-las subir pelas galerias feitas na terra dura e seca. Cá em cima,  à superfície e ao ar livre, pareciam crianças soltas num lameiro, em  liberdade total. Cada um encheu o cabaço onde previamente tinham posto  os  cangos de uva para as  alimentarem.
      A amizade entre aqueles dois garotos estava  a salvo e cimentada contra ventos e marés:
             No início de uma manhã morna e límpida de  finais de Setembro,  por volta das seis da manhã, Ismael saiu de casa  com o sacho ao ombro e com as ratoeiras e o cabaço  das aludras suspensos no cabo da enchada e com o coração cheio de sonhos e de ilusões. Encontrou-se com o seu maior amigo à hora combinada, em frente à casa do Dr. Ramiro Salgado.  Entretanto, já tinham “ seibado” as ratoeiras com as aludras presas pelo ventre com  pêlos pretos da crina e do rabo do macho preto do avô do Dominguinhos.  
               Desceram a íngreme e pedragosa  rua da Costa da Ferrada em direcção aos lameiros da Quintã. Passaram pelo olival do ti Zé Francisco e saltaram para o lameiro do Adérito Raúl.  Perscutaram o som ambiente e conseguiam distinguir  o pio dos tralhões dos outros pássaros: folecras, marantéus, pintassilgos, rouxinóis, papa -  figos, pica-  paus, gaios, piscos, carriças... Os tralhões tinham um voo  em ondulações rasante e  curto, de árvore em árvore.  O piar , pxim,pxim,pxim... de curta duração e o voo característicos dos tralhões eram inconfundíveis.
     - Ich...Oube-zios? Hoje bamos acaçar mais de catchaquinze ! No nos oubes?– perguntou  o Dominguinhos entusiasmado.
     - Hoje bamos acaçar pra uma arroçaça – concordou o Ismael.
            Estudaram o terreno em termos topográficos e arbóreos e, de acordo com o conhecimento prático dos hábitos dos tralhões , começaram a distribuir as trinta e cinco ratoeiras que tinham levado. Armavam a primeira e seguiam em frente e para os lados; nunca para trás. 
           Quando armavam a última  ratoeira, voltavam ao  local da primeira a fazer a ronda. ( Iam assomar-se às ratoeiras).  Isso exigia deles uma extraordinária memória  visual e espacial, pois teriam que se recordar de todos os  “ tentos “ onde tinham armado as ratoeiras. Quando, por qualquer motivo, acontecia esquecerem-se de uma, era uma tristeza e, acima de tudo, uma vergonha. Eram caçadores de tralhões, mas com honra!
                  Tinham passado as tardes dos dois Sábados e Domingos  anteriores a construir de raiz e a rectificar as armadilhas para os tralhões incautos e inocentes. Também há quem, com idêntica sabedoria e paciência, arme ratoeiras  a humanos inocentes e incautos. ( Há aquele célebre diálogo enter as andorinhas e os tralhões quando se cruzaram  lá para os lados do Norte de África: “ Olá, andorinhas putas: fostens poucas e vindes muitas “. Ao que as andorinhas responderam: “ Adeus, tralhões loucos, ides muitos e vireis poucos”. 
         A ilusão, o sonho e a sensação de glória tomou conta deles .  O ar puro , fresco  e  ralo da manhã acalmava todas as angústias da alma e batia-lhes com suavidade no rosto sonhador.  Até os pequenos cirros se espreguiçavam sem nenhuma vontade em continuar a existir. Eram duas crianças em êxtase, pedindo a todos os Santos  para que a caçada fosse boa. Distribuiram-se pelos campos e lameiros de freixos, de carrascos, amendoeiras e oliveiras  e cada um armava as suas ratoeiras. Colocavam-se no lugar do tralhão e anteviam o seu comportamento. Seleccionavam  o local perfeito para os enganar.  Um terreno lavrado com meia dúzia de amendoeiras, de preferência pequenas e com uns merouços  nas extremidades, era o “ habitat “ natural. Escolhiam  as árvores mais pequenas e isoladas. Sempre que havia uma amendoeira, uma ginjeira ou uma árvore de fruto de pequeno porte e separada das outras, aí era o  “ tento “  propício. Não eram muito clientes de de árvores altas e frondosas, como os sobreiros ou as oliveiras.
       Cavavam uma pequena cova pouco profunda e ligeiramente inclinada, onde colocavam a ratoeira seivada com duas aludras presas pelo abdómen com um pelo da crina ou do rabo do macho preto do Avô do Dominguinhos, com o “ tchabilhão “ no início da pequena abertura no terreno. ( Havia quem as cobrisse levemente com terra, deixando apenas ver as asas  cintilantes das aludras).
       O tralhão, do alto, ao ver a terra fresca, remexida e, ao ver reluzir as asas das pobres aludras que se debatiam debalde contra  a prisão, avançavam uns, em voo picado outros, mais cautelosos, analisando  de forma inútil o cenário, em ambas as situações, para a morte. Ao bicar as aludras, o “tchabilhão “ soltava-se da grileira, o aro de arame disparava, apanhando-o incauto. Depois, era estrebuchar com todas as forças até ao estertor da morte.
      Houve, entretanto, uma situação assaz curiosa: numa das ratoeiras do Dominguinhos, o tralhão conseguiu , por duas vezes, ludibriá-los e comer as aludras sem ser apanhado.  Intrigados com o fenómeno, aconselhou-o o Ismael , conhecedor profundo dos hábitos dos pequenos passarinhos: “ birá ratoeira ó contrário, co tchablhão pra baixo “. Dito e feito: na próxima “ abença “ o tralhão pagou as favas, ficando preso. E assim, aquele foi mais um a juntar aos muitos que já traziam, em coleira, amarrados à cintura, com o osso da pata do anterior espetado no bico do seguinte, fazendo uma corrente de elos.
       Quando já vinham para casa, satisfeitos com a empreitada, Ismael notou que Dominguinhos olhava  triste e absorto para algo no chão:  o esqueleto de um pisco, ao toro de uma oliveira, já comido o mole pelas formigas que, ainda em abundância o rodeavam: só o bico e  a caveira restavam. E os dois amigos ficaram uns instantes em silêncio, a lamentar a sorte do passarinho.
     Aqueles pequenos pássaros, parecidos com os piscos, mas de papo  claro –branco – sujo – com algumas penas brancas na parte superior das asas e no rabo, era um manjar dos deuses.  Cortavam-lhes a cabeça e as patas,  depenavam-nos, abriam-nos ao meio pela barriga e, temperados apenas com sal grosso e bem tostadinhos nas brasas da lareira, era de saborear até às lágrimas: ia tudo... até os ossos!
     Por sorte, por coincidência ou por habilidade, Ismael tinha apanhado dezasseis tralhões e Dominguinhos apenas sete. Ismael deu quatro ao seu amigo e este devolveu-lhos e ainda lhe  deu três dos dele. “ Pega. Pra mim abondam - me bem estes quatro; os meus Pais e os meus Abôs no ligam munto e bós sendes mais”.

(Texto extraído e adaptado do romance “ Por Entre a Solidão das Fragas”, a publicar)

Fontes de Carvalho

Fontes de Carvalho
, pseudónimo de Luís Abel Carvalho, nasceu no Larinho, uma aldeia transmontana do Concelho de Torre de Moncorvo, Distrito de Bragança. É o filho do meio de três irmãos.
Estudou em Moncorvo, Bragança e no Porto, onde se formou em Engenharia Geotécnia. É casado e Pai de três filhos.
Viveu no Brasil, onde passou por momentos dolorosos e de terror, a nível económico e psicológico. Chegou a viver das vendas de artesanto nas ruas e a dormir debaixo de Viadutos.
No ano de 1980 e 1981 foi Professor de Matemática em Angola, na Província de Kwanza Sul, em Wuaku-Kungo. Aí aprendeu a desmistificar certos mitos e viveu uma realidade muito diferente da propagandeada.
Em Portugal deu aulas de Matemática em diversas cidades, nomeadamente em São Pedro da Cova, Ponte de Lima, Cascais (na Escola de Alcabideche, onde deu aulas aos presos da cadeia do Linhó), Alcácer do Sal, Escola Francisco Arruda e Luís de Gusmão, em Lisboa. Frequentou durante quatro anos, como trabalhador-estudante, o curso de Engenharia Rural, no Instituto Superior de Agronomia.
Em 1995 fundou a empresa Bioprimática – Reciclagem de Consumíveis de Informática, onde trabalha até hoje como sócio-gerente.

1971 – Um incêndio arruína o Cineteatro Camões, deixando a Cidade de Bragança sem casa de espetáculos.

Quanto custa pensar… Bragança...sem demagogia? "MEMÓRIAS"

Tenho lido, em páginas pessoais e colectivas, no facebook, muitas opiniões e comentários sobre o “imbróglio” causado por um autocarro que ficou imobilizado em plena Praça da Sé.
Uns, culpam o motorista que não esteve atento, como lhe competia, ao sinal de trânsito que o impedia de prosseguir pela respectiva via. Outros culpam os responsáveis pela actual estrutura da Praça da Sé e da Zona Histórica.
Permitam-me que me pronuncie sobre o assunto com base num outro prisma…O MEU.
O que queremos para Bragança? O que queremos para a Zona Histórica?
O que está feito, feito está.
Vale a pena, com coragem, alterar o paradigma, que levou a uma Praça da Sé e ruas limítrofes, preferencialmente para peões, e há anos sem peões?...nem pionças…
Deixamos estar como está e, que se lixe, os motoristas dos autocarros que olhem, como lhes compete, para os sinais de trânsito.
A época propicia o discurso demagógico. Ano de eleições. É assim em todo o lado e nós não poderíamos ser a exceção. Populismo, demagogia, mentira, bluf…hipocrisia, memória curta etc, etc.
No caso em apreço o que importa?
- Saber de quem é a culpa do acontecido? Do motorista…provavelmente. E é isso que importa?
NÃO, NÃO E NÃO.
O que importa é saber se queremos, ou precisamos mesmo, que os autocarros possam circular “à vontade” na Zona Histórica! Os autocarros, os carros ligeiros, as motas, as bicicletas, as carroças de burros, os burros sem carroça e as pessoas.

Sonho: Um autocarro, repleto de turistas, chega à Praça da Sé:

- Olhai pessoal….Igreja majestosa. Vamos visitar.
- Curioso aquele edifício redondo ali ao lado.
Saíram do autocarro. Eram 62…mais o motorista, que não viu nenhum sinal que o proibisse, a ele, ao autocarro e a mais 62…de ali irem “aportar”…
Saíram do autocarro. 
Os "travesseiros" do Flórida esgotaram em minutos. Pudera, até eu agora comia um. A esplanada encheu de repente e a velhinha urbe resplandecia. Num “de repente”, o Chave de Ouro serviu mais de 40 cafés, fez mais de 30 sandes, vendeu umas raspadinhas e meteu uns euros milhões. Pronto, também vendeu uns maços do malfadado e perseguido tabaco.
Os mais jovens espreitaram a travessa da misericórdia…a Taska é convidativa, diferente, gerida por jovens e com um ambiente que faz lembrar os tempos de que os Pais e os Avós lhes falam…e cantaram as canções de antigamente, sabiam a letra que tantas vezes ouviram cantar...e gostaram dos petiscos.
Os mais velhotes, cansados da viagem, ficaram-se na esplanada do Goal Keeper…onde beberam uns sumos e comeram uns bolos.
Foram visitar a Igreja da Sé. Encheram a caixa das esmolas e ficaram maravilhados com a nossa velhinha Catedral.
Sete dos turistas, mais conservadores, aproveitaram para engraxar os sapatos nos dois Graxas que ali "montaram" o estabelecimento.

Escurecia…

- E se jantássemos por aqui em vez de irmos, já diretos, para Zamora?
Votaram.
Decidiram por ficar.
O restaurante Poças serviu uns 40 jantares... .
O Emiclau foi um "vê se te avias".
No Praça 16…,para além da exposição sobre a nossa terra e a nossa gente, atuava um grupo de música tradicional. Na Taska um duo de violas tocava música dos anos 70…o Chave d´Ouro continuava a servir muitos cafés, a vender raspadinhas e a meter euro milhões. Na esplanada do Goal Keeper, estava-se tão bem a sentir uma brisa fresca depois de um dia de calor infernal…e ouvia-se música country…
Dois deles olharam para o fundo da rua direita.
- E se fossemos até ao Castelo…é já ali. E foram, eles e mais uns 15…beberam umas garrafas de água na Tasca do Zé Tuga. Gostaram do ambiente e prometeram voltar um dia à Tasca para um regalado repasto.
Um jovem casal "aventurou-se" até à avenida João da Cruz e sentados na taça fizeram juras de amor eterno...
O pessoal do autocarro…que não devia ter passado por ali…juntou-se à festa…!
Para o ano voltamos…e fizeram amigos.
E Bragança esteve viva.
Estão, mesmo agora, a chegar mais dois autocarros. Têm quartos reservados no novo Hotel da Travessa da Misericórdia… .

AFINAL O QUE ESTÁ MAL?

O motorista do autocarro que não reparou no sinal?

Ou o que impede todos os motoristas, de todos os autocarros, de passarem na nossa Praça da Sé?

O sonho comanda a vida!...

HM

Boletim do Grupo Amigos de Bragança - 2ª série, nº2 - Maio 1963

Feira da Pavia pretende divulgar produto pouco conhecido, este fim-de-semana, em Arcas, Macedo de Cavaleiros

 A aldeia de Arcas, no concelho de Macedo de Cavaleiros vai receber este fim-de-semana, a Feira da Pavia. Antes de mais, esclarecer o que é isto… Trata-se de um fruto da família do pêssego, mais pequeno em dimensão, com a polpa pegada ao caroço e possui um bico. Um evento tem como objetivo dar a promover este fruto, com caraterísticas únicas, de excelência, e também auxiliar os produtores a escoar-lo, como destaca a presidente da Junta de Freguesia de Arcas, Ana Martins:


É a terceira edição da Feira da Pavia. O objetivo é ajudar os agricultores a escoar o produto, que neste caso é a Pavia, que é original desta zona, devido à temperatura, ao clima e ao terreno. E por isso, o maior objetivo a dar a conhecer o fruto e ajudar os agricultores. Este fruto é muito parecido a um pêssego, mas tem outras características, que um pêssego normal não tem. Tem um “biquinho” e o sabor é inconfundível.

Um fruto que já foi mais abundante mas que ainda é produzido em alguma quantidade na freguesia de Arcas. Neste evento, vão estar presentes cerca de 18 expositores, deste e outros produtos regionais. Mas o programa abrange mais atividades, como acrescenta, Ana Martins:

Nós vamos ter lá os expositores, em que a maioria é dali da freguesia, e a maior parte comercializarão pavia. Mas além da pavia, podem também adquirir uva moscatel, figos, talvez figo seco e diversas compotas e como não poderia deixar de ser compotas de pavia. No domingo, vamos ter um seminário, sobre boas práticas de fruticultura e também sibre apoios. Para além da primeira caminhada solidária, para ajudar a liga portuguesa contra o cancro, no domingo.

As expectativas são as melhores garantiu Ana Martins da organização. A abertura da feira vai decorrer pelas 16h00 de sábado, depois vão decorrer comemorações dos 50 anos de Abril, com condecorações aos 7 antigos presidentes de junta de freguesia, depois do 25 de abril. Além da venda e mostra de produtos, os dois dias contam com animação, a cargo do Dj Topi, Toka a Bombar e atuação de Nel Monteiro, no domingo, pelas 15h30. No domingo de manhã vai realizar-se a primeira caminhada solidária a reverter para a liga contra o cancro, que como não poderia deixar de ser é a “Rota da Pavia”.

Escrito por Rádio ONDA LIVRE

Município de Moncorvo apoia pastores para combate da brucelose e minimização de custos

 A Câmara de Torre de Moncorvo aumentou o apoio aos criadores de gado, na tentativa de combater o abandono pela criação de animais


O presidente da câmara municipal de Moncorvo, José Meneses, explica que o apoio se mantém nos mesmos moldes que os anos anteriores, mas houve um aumento de 50 cêntimos. “É para fazer face ao pagamento ao agrupamento de defesa sanitário, com o acréscimo de 50 cêntimos, uma vez que a quota também subiu. 3,5 euros por cada cabeça de ovino e caprino e 20 euros por cada cabeça de bovino”, disse.

O autarca destaca também as dificuldades dos agricultores e afirmou que o decréscimo de efectivo é preocupante. “Existem cada vez menos pessoas ligadas à pastorícia e isso preocupa-nos, por isso leva a outras situações, como incêndios no Verão. Hoje um pastor com as mesmas ovelhas tem enormes dificuldades financeiras, o preço do leite está igual há 20 anos, houve pouco aumento do borrego, a lã não tem valor”, apontou, adiantando que num ano houve a redução de “mil cabeças”, o que espelha que pecuária “não é atractiva”.

José Meneses salientou ainda que o Ministério da agricultura tem de olhar mais para este sector. “Cabe ao poder central poder olhar para isto de outra forma, de uma forma de voltar a incentivar novamente as pessoas a dedicarem-se à pecuária”.  

Esta é já a terceira vez que o município de Moncorvo atribuiu um apoio anual aos criadores de gado do concelho. A medida tem por objectivo ajudar a combater a brucelose, mas também a minimizar dificuldades, devido ao baixo preço do leite e o escoamento sazonal dos borregos e cabritos.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Cindy Tomé

Miranda do Douro é palco de festival gastronómico com cinco chefes de cozinha

 Cinco chefes de cozinha vão confeccionar raças autóctones e castanha, num festival que pretende promover a gastronomia, a cultura e acima de tudo a região


Sábado e domingo, Miranda do Douro vai ser palco do Meating. A inovação e a tradição de mãos dadas, nas refeições confeccionadas, sempre com animação musical.

“Quatro chefes vão trabalhar as raças autóctones da região, conta também com um chefe que vai trabalhar a castanha, um produto icónico da nossa gastronomia, e conta com quatro concertos colaborativos entre artistas locais, que curiosamente cantam em mirandês e artistas nacionais de estilos completamente diferentes”, salientou Pedro Cepeda, da organização.

Óscar Geadas, Diogo Rocha, Michele Marques, Marcelo Dias e Eurico Castro serão os responsáveis por aconchegar o estomago dos mirandeses e visitantes.

O chefe Marcelo Dias, natural de Miranda do Douro, escolheu cozinhar uma das pratas da casa, o cordeiro da raça churra galega mirandesa. Admite que será um desafio e que apresentará um prato inovador. “A ideia será tirar o maior proveito do animal, para não haver desperdícios. Penso que vai ser uma mistura como nunca ninguém viu na zona, a ideia é fazer uma coisa inovadora. Vamos trazer um bocado da América do Sul”, explicou.

Será ainda confeccionado o porco bísaro, o bovino mirandês e a churra galega serrana. O objectivo é divulgar produtos de qualidade.

Para o vice-presidente da Câmara de Miranda do Douro, Nuno Rodrigues, esta é mais uma estratégia de promoção. “Não estamos só a promover o território, estamos também a promover as nossas raças autóctones, a nossa música, a nossa cultura, tudo o que temos de melhor. Como vamos receber milhares de visitantes promove sempre a economia local”, frisou.

O festival gastronómico Meating decorre este fim-de-semana, entre as 12h e as 2h, com entrada livre, junto à catedral de Miranda do Douro. Conta ainda com concertos, animação e mercado criativo.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Ângela Pais

🚴‍♀️🎖 𝗩𝗲𝗺 𝗮𝗶́ 𝗮 “𝗩𝗼𝗹𝘁𝗮 𝗮𝗼 𝗡𝗼𝗿𝗱𝗲𝘀𝘁𝗲 𝗲𝗺 𝗕𝗶𝗰𝗶𝗰𝗹𝗲𝘁𝗮”

 De 27 a 29 de setembro, as emoções do ciclismo regressam às estradas do Nordeste Transmontano. A celebrar a 5.ª Edição, a “Volta ao Nordeste em Bicicleta DAITSU” conta com um arranque especial em Bragança - contrarrelógio noturno -, e liga, em duas etapas, a capital de distrito aos concelhos de Miranda do Douro, Vinhais e Mirandela.
📌 A sessão pública de apresentação desta prova aconteceu ontem na Sala de Atos do Município de Bragança.

🔗 Mais informações AQUI.

Foto: CMB

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Feira das Cantarinhas

 Até há bem pouco tempo, a Idade Média continuava presente nalgumas instituições de carácter económico, social e cultural. As feiras polivalentes aproximaram as populações e fomentaram um negócio incipiente para dar resposta à colocação dos produtos de origem rural e pastoril.


Como qualquer instituição social, a feira tem um período de formação, incremento e pujança. Com o objectivo de distribuir os produtos agrícolas, cedo encontramos medidas que visam a protecção Jurídica que dá confiança aos que as procuram com o intuito de colocar os produtos que os lavradores produziam. As cartas de feira eram documentos que os municípios concediam aos que procuravam a feira com a finalidade de garantir os bens e proteger a própria vida. Com o mesmo intuito apareceram as feiras francas e os oito dias anteriores e posteriores à feira que reforçavam a segurança.
A primeira fase, inicial e de formação, sucede numa segunda fase que corresponde ao reinado de D. Afonso III. Multiplica-se o número de feiras e ampliam-se as garantias e os privilégios jurídicos concedidas aos feirantes. As feiras não só fomentaram a riqueza pessoal como também os bens da coroa. Por isso consideramos as feiras factores de ordem económica e social.
As cartas de feira concedidas entre os sécs. XIII e XV foram dadas peles monarcas aos municípios com o intuito de atrair gentes para a região transmontana. D. Afonso III deu a Bragança uma carta de feira em 1272 na qual os feirantes eram isentos de pagar portagens e costumagens. O citado soberano, Afonso III, diz expressamente que concede a Bragança uma carta de feira, a 5 de Março de 1272, com o intuito de que os feirantes estejam seguros na ida e na vinda. D. Fernando (1383, Out., 16), deseja fazer graça e mercê ao concelho e homens bons da nossa villa de Bragança e que haja em cada huum ano feiras frequentadas.
As medidas que os restantes monarcas tomaram (D. João I e D. Afonso V), fomentam o negócio, local, onde se sente a preocupação de defender os interesses dos povos que habitavam certas localidades. Os corregedores só podiam aparecer nas feiras como compradores e vendedores e nunca para defender os direitos do soberano.
A Feira das Cantarinhas, de origem medieval, realizava-se dentro ou fora da Cidadela, conforme a paz da feira o permitia. Manteve-se até há 40 ou 50 anos com marcas tipicamente. medievais. Vem comigo revisitar o tempo e o espaço onde se mercadejavam os produtos. Manhã cedo já os habitantes das aldeias limítrofes convergiam para a cidade. Sem as estradas actuais, serviam-se de caminhos secundários ou de alguma via militar romana que facilitava a passagem de algumas linhas de água.
A Feira das Cantarinhas constituía uma celebração festiva. De véspera, à noite, preparavam-se os alforges com os produtos que se mercadejavam na feira: gradura, batatas. Tudo se acomodava de modo que sobrasse um pequeno espaço onde cabia também a ração dos animais. Enfeitadas iam também as albardas. Uma colcha de lá vermelha eu branca, tecida no tear da casa, enfeitava a burricada que fazia um arraial medonho. Os donos, seguros de que ninguém . iria violar os enfeites festivos dos animais, deixavam-nos seguros, à aldrabe de uma porta velha.
Todos se apressavam para escolher um lugar bom, onde a exposição dos produtos facilitasse a venda. Dos ventres flácidos dos alforges saía a gradura e outros produtos para vender. No largo de S. Vicente, a Praça Velha, junta-se em pequenos montículos a trouxa que vem chegando das aldeias mais distantes: Câmaras de Pinela, latoeiros, ferreiros e mais objectos artesanais. Também os objectos as vasilhas de cobre têm sempre um pequeno espaço para se arrumar. Hortaliça e renovos, chouriços secos, queijos e raminhos de cerejas apetitosas vão atafulhando todos os espaços até à metade da Rua Direita. Da Torre de D. Chama e de Alfaião, pequenos microclimas, vinham em canastras os pimentos, alfaces, tomates, beterrabas, que iam ser plantados no dia seguinte e fazem a fartura dos marranchos de qualquer casa.
Rua abaixo, rua acima, saracoteavam-se os compradores e vendedores. Dos lados do sul, nuvens negras ameaçavam chuva iminente. Fim da tarde aproxima-se. Compram-se os últimos presentes que fazem o enlevo da garotada.
O dia 3 de Maio, dia de feira e festa está quase a findar. Falta a cântara de barro que no campo acompanha os trabalhadores com a água fresca. Nossa Senhora da Serra dá de novo as merendas. Quer dizer, os dias alongam-se mais. Esta mobília, comprada no 3 de Maio, nunca mais se esgota. Ainda falta um caldeiro e um garabano para regar à mão os renovos e os feijões de que falámos.
Os homens vêm do Toural, onde tinham levado um vitelo e uma vaca para vender. O bom negócio foi também pretexto para fechar o negócio com uns copos de vinho.
Em sentido contrário, organiza-se agora o mesmo movimento para casa. À entrada da aldeia já aos filhos lhes tarda a chegada dos pais. Numa saquinha da merenda, feita de remendos de muitas cores, vão uns económicos ou súplicas, quando não alguns rebuçados, para sofrear a gulodice da garotada. Uma flauta de barro, mais um chapéu da palha salpicavam a noite e os dias seguintes de tons musicais. A monotonia nostálgica do pós festa regressa também no quotidiano dos dias que se seguem. Que esta breve descrição nos auxilie na compreensão de uma festa anual que já não se reconhece no barulho de uma multidão que não cabe nos espaços livres da Rua Direita.

(Belarmino Afonso)