Picote acolheu nos dias 20, 21 e 22 de setembro, a “II Fiestas de las Lhénguas”, um evento cultural que reuniu nesta aldeia do concelho de Miranda do Douro, falantes de mirandês e de asturo-leonês, num encontro que permitiu definir estratégias comuns para a revitalização destas línguas minoritárias, como são a organização de eventos e a divulgação de vídeos promocionais através das redes sociais.
No âmbito do Dia Europeu das Línguas, que se assinala a 26 de setembro, a freguesia de Picote e a associação Frauga, organizaram a “II Fiestas de las Lhénguas”, um evento cultural que contou com a participação de representantes da língua mirandesa, assim como do asturo-leonês, do galego e do barranquenho.
Com o propósito de celebrar a diversidade cultural e linguística, o certame em Picote iniciou-se na tarde de sexta-feira com a visita dos alunos do Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro (AEMD). Sobre a pertinência desta visita, o professor do AEMD, Paulo Peixoto, sublinhou a importância da aprendizagem das línguas no percurso escolar.
“Sou professor de Matemática e também desta disciplina, a língua é determinante para interpretar corretamente e resolver os problemas matemáticos. E por vezes, uma vírgula, pode fazer toda a diferença”, disse.
Do lado dos alunos que visitaram a II Festa das Línguas, o que mais despertou o interesse dos jovens foram as t-shirts, os porta-chaves e outros souvenirs, com mensagens escritas em mirandês. Recorde-se que no Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro, cerca de 80% dos alunos frequentam a disciplina de Língua e Cultura Mirandesa.
Em Picote, o espaço das línguas, foi instalado no Largo do Tumbar, onde marcaram presença várias associações linguísticas, como a FRAUGA – Associação para o Desenvolvimento Integrado de Picote, a Academia de Letras de Trás-os-Montes, a Academia da Llingua Asturiana, a Associação Faceira (da província espanhola de Leão), a Associação El Teixu (Leão), entre outras.
Da Academia de Letras de Trás-os-Montes, a escritora, Teresa Almeida, participou na II Festa das Línguas com o propósito de dar a conhecer os trabalhos dos escritores transmontanos.
“Através da literatura também se explora e divulgam as potencialidades desta região transmontana como são a paisagem, a cultura, a música, a dança e a língua mirandesa”, justificou.
Por sua vez, Nicolás Bartolomé, da Academia da Llingua Asturiana, quando questionado sobre o que falta fazer para que haja mais falantes de línguas como o mirandês, apontou a organização de mais eventos e atividades como a “Fiesta de las Lhénguas”.
“Para revitalizar uma língua minoritária, como o mirandês há que realizar um contínuo trabalho de promoção. E para isso é necessário investimento público, por parte dos governo central e local e também das associações. Este evento da Festa das Línguas tem todos os ingredientes para ser bem sucedido, porque junta a cultura, a música, os jogos tradicionais e reúne ao longo de três dias, representantes de várias línguas, o que permite partilhar conhecimentos e experiências”, disse.
Em representação da associação “El Teixu”, da província espanhola de Leão, Denis Fernandez, referiu que participou pelo segundo ano consecutivo, no evento em Picote, com o propósito de contribuir para a dignificação das línguas.
«A associação “El Teixu” trabalha para a preservação, dignificação e divulgação da língua asturo-leonesa. Para nós, é muito importante dar espaço e voz a línguas como o mirandês, o asturo-leonês. Para que haja uma maior divulgação destas línguas minoritárias creio que uma das estratégias passa por utilizar os canais digitais, como as redes sociais, produzindo vídeos promocionais e humorísticos nas línguas minoritárias”, sugeriu.
Este ano e para animar a II Fiesta de las Lhénguas, houve danças dos pauliteiros de Miranda, pelo grupo da associação FRAUGA e o concerto musical, do artista asturiano, José Manuel Sabugo Alvarez.
Do lado da organização, o professor António Bárbolo, da FRAUGA, realçou o caráter festivo do evento, que permitiu reunir em Picote, ao longo de três dias, falantes de várias línguas.
“Nestas duas primeiras edições quisemos dar destaque à ligação histórica que existe entre o mirandês e o asturo-leonês. Este ano, contamos com a participação de material em barranquenho e em galego. No próximo ano, pretendemos dar especial atenção à literatura oral”, disse.
Outros destaques da II Festa das Línguas, foram a sessão de conversas com escritores convidados, das regiões linguísticas da Terra de Miranda, León, Astúrias e da Galiza. No serão de sábado, o público teve a oportunidade de usufruir dos concertos do grupo Efrén López & Kelly Thoma e dos mirandeses “Galandum Galundaina”.
A II Festa das Línguas também foi visitada por turistas. O casal belga, Erick e a esposa, ficaram surpreendidos com a atenção que se dá à diversidade linguística na região do planalto mirandês.
“Na Bélgica, dada a nossa centralidade geográfica na Europa, também há diversidade linguística e no nosso dia-a-dia a comunicação faz-se em várias línguas como o francês, o flamengo, o inglês, o alemão e até italiano”, disseram.
A II Fiestas de las Lhénguas, em Picote, culminou no Domingo, dia 22 de setembro, com a celebração da Eucaristia Dominical. A celebração religiosa teve como novidade, a liturgia lida e rezada em quatro línguas: latim, português, mirandês e asturiano.
No final do evento, o presidente de Freguesia de Picote, Jorge Lourenço, agradeceu a recetividade da população local, que participou ativamente no programa da II Fiesta de las Lhénguas.
“Concluímos a segunda edição da Fiesta de las Lhénguas, com a satisfação de ter conseguido diversificar o programa de atividades. Tendo bem presente que as línguas precisam ser faladas no dia-a-dia, vamos continuar a trabalhar e a desenvolver estratégias inclusivas, de modo que a língua mirandesa chegue a todos e seja falada por todos”, disse.
A presidente do município de Miranda do Douro, Helena Barril, elogiou a organização da Festa das Línguas e sublinhou a originalidade deste evento, cuja finalidade é “celebrar a diversidade linguística, juntando ao mirandês, outras línguas como o asturo-leonês”.
“Estamos a trabalhar para que a língua mirandesa continue viva, seja na oralidade do dia-a-dia, mas também na literatura, na música, no ensino nas escolas do concelho e em eventos como esta Fiesta de las Lénguas”, disse.
A “II Fiesta de las Lhénguas” foi organizada pela freguesia de Picote e a FRAUGA – Associação para o Desenvolvimento Integrado de Picote.
O evento contou ainda com os apoios institucionais do município de Miranda do Douro, da Comissão e Coordenação de Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), da Prozinco, das empresas concessionárias da barragem de Picote, a Engie e a Movhera e várias outras instituições e empresas.
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