Antes disso, o fruto seco era tão bem pago que muitos decidiram investir nessa cultura. Agora, além de ter abrandado drasticamente a febre de plantação de amendoeiras, também já há amendoais ao abandono.
José Rachado tem 42 hectares de amendoal no Felgar, no concelho de Torre de Moncorvo, mas destes apenas oito estão, para já, a produzir. Apesar de ter uma área considerável, que é pertencente à família, apostou na cultura, há meia dúzia de anos, quando diz que valia a pena. Se fosse agora não tinha deixado o estrangeiro nem o emprego como director de uma empresa. “Eu arrependo-me todos os dias de me ter dedicado a isto. Quanto a parar, neste momento tenho projectos a andar, não tenho ninguém para trabalhar. Se eu arranjar alguém que me fique a tomar conta disto, volto para a profissão que tinha”, afirmou.
Nos supermercados a amêndoa está mais cara mas isso não se reflecte no que é pago aos produtores. “Se formos a um supermercado o preço subiu. A amêndoa em casca chega-se a comprar a 7 ou 8 euros o quilo e a nós pagam-na a 70 cêntimos”, lamentou.
Manuel Rodrigues tem 14 hectares de amendoal no Lombo, em Macedo de Cavaleiros. Diz que a queda do preço tem sido tão grande que há anos em que não compensa apanhar a amêndoa. Este é um deles… estima que vai ter prejuízos. “Em 2015 vendi-a a 3 euros o quilo, agora a 90 cêntimos. Alguns anos não compensa, é muito prejuízo para nós, não podemos competir com a Califórnia”, disse.
Para competir com a amêndoa da Califórnia, onde há grandes produções, sendo este o mercado que dita os preços, era preciso investir em regadio na região. Manuel Rodrigues disse que esse problema não tem solução porque ninguém se interessa. “Fui eu que gastei do meu bolso em regadio. Se tivéssemos água produzíamos mais do dobro”, apontou.
Segundo o presidente da Cooperativa Agrícola de Produtores de Amêndoa de Trás-os-Montes e Alto Douro, Bruno Cordeiro, por causa da queda de preço, há hoje pouca gente a apostar na cultura e há quem já esteja a deixar amendoais ao abandono. “Mesmo aqueles amendoais que foram instalados há meia dúzia de anos já há alguns a serem abandonados. É uma cultura em que os custos de produção se continuarem a aumentar como estão aumentar, deixa de dar dinheiro e as pessoas abandonam, deixam de tratar, alguns deixam de colher, não é rentável. Hoje ou se tem máquinas para a apanha ou quem não tem não anda a pagar jeiras porque não compensa, porque estão muito caras e preferem deixar lá a amêndoa”, disse.
Perante a situação, o caminho é apostar na amêndoa biológica. “Há uma valorização acrescida, há uma diferenciação, é uma mais-valia”, defendeu.
Há perto de uma década, a amêndoa vendia-se a bom preço, mas hoje em dia os produtores transmontanos dizem que o lucro mal dá para os gastos com a apanha. Assim, à aposta na cultura aconteceu o mesmo que ao preço: caiu.
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