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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 29 de setembro de 2024

(Quase) Todos Iguais Perante Deus

Por: António Pires 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Assumidamente de formação católica, confesso que raramente vou à missa. Uma das últimas vezes que aconteceu, foi em memória duma pessoa que já partiu. Momentos antes do início da dita celebração, como sempre acontece, o padre que presidiu à homilia fez o anúncio de intenções, vulgo, “missa por alma de” (missa de 7.º dia, 30.º dia, 1.º aniversário, etc.,). Da menção faziam parte mais duma dezena de fiéis defuntos, sendo que a maioria eram anónimos, referidos pelos nomes de baptismo: José, António, Carlos, Maria, Teresa….,   e três deles com direito ao título social: Coronel x, Engenheiro y e doutor z.
Porque incomodado, de alguma forma, com esta mentalidade/preconceito tuga - que remonta ao início da nacionalidade -  de que o TER é mais importante do que o SER, logo que tive a oportunidade de confrontar o representante de Deus na terra, com tal discriminação, este respondeu-me com a maior das sinceridades: “Tem razão. Mas você não imagina a pressão e a exigência dos familiares, para que assim seja!”. Ainda que longe de estar satisfeito com a explicação, reagi: “Como eu o compreendo, senhor Padre!”
A partir desse argumento, percebi a razão pela qual costumo ver, nos escaparates/vitrais que suportam a informação necrológica, à porta das igrejas e cemitérios, que “faleceu o  Sr. Tantos, pai dos doutores x e y, médicos, e do Eng.º ….”- uma informação assessórias, porque, não raras vezes, na nossa “aldeola”, o falecido é sobejamente conhecido na comunidade. Nestes casos, os “pressionados” são as agências funerárias.
Recordo-me perfeitamente dum certo jornal local, há 30/40 anos, alimentar aquela pirosa e pretensiosa ideia de noticiar, numa espécie de comunicado, que um determinado filho da terra se licenciou em medicina ou em advocacia. O texto, qual descrição sumária duma multa de trânsito, em que só muda o nome do infractor e o local da ocorrência, rezava mais ou menos assim: “Concluiu a licenciatura em medicina/direito, com média de …., fulano tal, filho do comerciante tal e da Sra. Dona qualquer – coisa”.
Um “tesourinho” do ridículo que apenas deixou de existir naquele “formato”. As redes sociais, aproveitando este “nicho” de mercado de vaidades, pretensiosismo e ostentação, fizeram questão de lhes dar continuidade.
Quando, perante a minha vincada singularidade, me dizem: “Oh pá, tu não mudas!”. Eu respondo: “ se mudasse, perdia a minha essência”.
Isto para dizer que, enquanto povo, se abdicássemos da nossa genética de ostentação e exibicionismo, aqueles traços de personalidade que, no final da caminhada, não conseguimos levar p´rá cova, “despersonalizar-nos-íamos”, enquanto tal.


António Pires, natural de Vale de Frades/S. Joanico, Vimioso. 
Residente em Bragança.
Liceu Nacional de Bragança, FLUP, DRAPN.

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